Fonte: Tribuna da Imprensa - Pedro do Coutto - Foi, sem dúvida alguma, uma grande vitória para o Brasil a eleição do diplomata Roberto Azevedo para diretor geral da Organização Mundial do Comércio, tanto sob o aspecto político e diplomático, quanto pelo conteúdo de sua proposta, colocada ao longo da campanha pela conquista dos votos, de eliminar barreiras cambiais e tarifárias existentes que inibem o sistema global. Não é tarefa fácil, como acentuaram Renata Cabral e Deborah Berlinck, reportagem na edição do dia 8, de O Globo.
Resgatar o multilateralismo, o desafio básico, ameaçado por uma série de acordos bilaterais, na luta por preços melhores e, ao mesmo tempo, mais competitivos. Perfeito. Um quadro estatístico acompanha a matéria.Trata do movimento, de 2012, das maiores economias, no movimento exportações-importações.
A União Europeia, reunindo 27 países, exportou 5,7 trilhões de dólares e importou 5,9 trilhões. Os Estados Unidos tiveram déficit: exportaram 1 trilhão e 547 bilhões, importaram 2 trilhões e 300 bilhões. A China alcançou superávit exportou 2 trilhões de dólares, importou 1 trilhão e 818 bilhões. O Brasil exportou 243 bilhões de dólares, importou 233 bilhões. A Rússia exportou 529 bilhões, importou 335 bilhões de dólares. Teve superávit. A Índia teve déficit: exportou 293 bilhões, importou 489 bilhões de dólares. Finalmente o México exportou 371 bilhões, mais que o Brasil, importou 380 bilhões de dólares. A União Europeia representou 32,4% das exportações globais e 32,6% do total das importações.
O Brasil participa com 1,3 das exportações e com 1,2% das importações. Com base nesses dados pode-se projetar nitidamente o universo comercial do mundo. Exportações e importações em torno de 18 trilhões de dólares cada um dos dois setores. Fluxo geral, portanto, na esfera dos 36 trilhões de dólares. Para vencer as barreiras cambiais e as preferências criadas reciprocamente pelos acordos bilaterais, patrocinados especialmente pelos países mais fortes, a saída dar-se-á pelo aumento da produção.
Mas este fato depende do aumento do consumo. E assim o debate se desloca para o desenvolvimento tecnológico no sentido de reduzir custos e melhorar a qualidade dos produtos e a capacidade salarial de compra das populações.Isso porque o consumo popular está sempre em questão quando se fala em comércio, preços e tecnologia, o que significa, no que diz respeito a tecnologia, falar na influência do grau de educação no nível tecnológico. Sem esquecer a influência educacional nos ganhos do trabalho e nos hábitos de consumo.
Roberto Azevedo chega ao posto máximo da OMC depois de ser embaixador do Brasil junto à entidade durante cinco anos. Experiência não lhe falta, sensibilidade também não, já que todos reconhecem sua grande capacidade de articulação e de negociar do possível.
Em declaração ao repórter Bernardo Mello Franco, enviado da Folha de São Paulo a Genebra, Roberto Azevedo afirmou que sua visão favorece o diálogo e a convergência em torno da revitalização do sistema multilateral de comércio foi muito bem recebida durante a campanha, acrescentou. O êxito da missão, sobretudo a ampliação de seu sentido, depende dele próprio. Mas o aumento do consumo de uma nova visão mundial, de país por país. Neste ponto ele pode opinar e sugerir. Se fizer isso já terá feito muito pelo desenvolvimento econômico-social através do comércio no mundo.