Fonte: Tribuna da Imprensa - Nádia Pontes (DW Brasil) - O primeiro laboratório nacional com tecnologia mais moderna do mundo assusta pelo valor, mas vai custar menos que um estádio de futebol. Para atender às especificidades internacionais, o projeto do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron está orçado em 650 milhões de reais. Ou seja, menos que um estádio de futebol. Para a dirigente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, é a ciência a chave para o desenvolvimento do Brasil.
Reunidos em Recife na semana passada, durante o 63º encontro da SBPC, pesquisadores brasileiros discutiram como fazer a ciência avançar no país, . Helena Nader, bióloga, cientista há mais de 30 anos e presidente da instituição desde 2011, não quer tirar recursos dos esportes – só quer que a ciência seja tratada da mesma forma.
Em entrevista por telefone, Nader disse que educação básica no Brasil é “muito ruim”, mas que, na universidade, o país forma pesquisadores competitivos, que quase nunca retornam ao país depois de uma temporada de estudos no exterior.
Qual a maior preocupação da sociedade científica no Brasil de hoje?
Helena Nader: É a legislação vigente hoje para a ciência. Nós estamos sob a égide de uma lei que não é voltada para a ciência: é uma lei geral, voltada para compras no sistema público. Para se comprar qualquer equipamento, ou reagentes, é necessário fazer pregão, diversas licitações… E às vezes é preciso comprar um equipamento para uma determinada pesquisa. São legislações que estão travando e burocratizando toda a ciência brasileira. É o maior entrave na vida do pesquisador.
Nós temos problemas no sistema de importação – as importações acabam levando meses, em alguns casos até um ano. Eu até comento que acho que é fantástico o que o Brasil já conseguiu fazer na ciência apesar de todo o esforço para o país não andar para frente (risos).
Na opinião da senhora, o Brasil tem condições de formar bons pesquisadores?
Para formação o Brasil está muito bem. Tanto que a grande maioria dos nossos estudantes que vão para fora do país – seja durante a graduação, na pós ou no doutorado –, é convidada a permanecer. Isso acontece, provavelmente, por causa do funil da seleção para se entrar na universidade brasileira.
Apesar da expansão da universidade pública no Brasil e do financiamento para estudo em universidades privadas, o número de brasileiros que chega às universidades é pequeno. A gente tem uma forte seleção e aqueles que entram são altamente competitivos.
A ciência no Brasil também está sendo feita em institutos de pesquisa ligados a diversos ministérios, como no Inmetro. O que nós não temos estruturado ainda como uma norma no país é a investigação no setor produtivo, nas empresas. Claro que existem exceções, como a Petrobras, que desenvolveu toda a tecnologia de exploração do Pré-Sal, a Embraer, que investe em doutores e pós doutores para fabricar aviões reconhecidos no mundo. Mas ainda não existe uma cultura de se fazer pesquisa na indústria. Mas está acontecendo uma tentativa de se reverter esse quadro.