Memorando foi assinado nesta sexta-feira (23) por representantes de Itaipu, Eletrobras e Administração Nacional de Usinas e Transmissões Elétricas do Uruguai (UTE).
A iniciativa de Itaipu Binacional para produção de biogás em pequenas propriedades rurais da região oeste do Paraná, a partir do aproveitamento dos dejetos da atividade agropecuária, será replicada no Departamento (Estado) de San Jose, próximo a Montevidéu, no Uruguai.
O memorando de entendimento para desenvolver o projeto foi assinado nesta sexta-feira (23), no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), na usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, no Paraná, por representantes da binacional, Eletrobras e Administração Nacional de Usinas e Transmissões Elétricas do Uruguai (UTE), ligada ao Ministério da Indústria, Energia e Mineração do Uruguai.
Participaram da cerimônia o presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto; o diretor de Energia do Uruguai, ministro Ramón Méndez; o presidente da UTE, Gonzalo Casaravilla; o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek; e o superintendente de Energias Renováveis da binacional, Cícero Bley Jr.
A assinatura ocorreu na sede do Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás-ER), instalado no PTI. Em seguida, a comitiva fez uma visita técnica à usina de Itaipu e depois partiu de helicóptero para conhecer o Condomínio de Agroenergia para Agricultura Familiar Sanga Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, a 180 quilômetros de Foz do Iguaçu.
No condomínio, que reúne 33 pequenos produtores rurais, dejetos da produção agropecuária (suínos e gado leiteiro) são transferidos para biodigestores, para extração do gás metano. Os biodigestores estão conectados por 22 quilômetros de gasoduto a uma central termelétrica, que abastece com energia as propriedades rurais.
Todo o excedente poderá ser vendido para a distribuidora de energia do Estado e a matéria orgânica residual do biodigestor é transformada em um biofertilizante de alta qualidade.
Ou seja, o que antes era um problema ambiental, agora transforma-se em nova fonte de renda para o agricultor.
É essa a experiência que o Uruguai pretende implantar no país. “O projeto representa o ponto de partida para a transformação dos resíduos da indústria, da agroindústria, em energia. E também é fundamental para a integração dos nossos povos, dos nossos países”, disse o ministro Ramón Méndez.
Gonzalo Casaravilla, presidente da UTE, lembrou que o Uruguai vive hoje um forte desenvolvimento industrial, particularmente na produção de leite, e que a atividade tem impacto no meio ambiente, com risco de contaminação do solo e dos rios. “Portanto, usar os resíduos para produzir biogás e, com isso, gerar energia e interligá-la na rede [elétrica], é fantástico”, comentou.
De Itaipu para o mundo
José da Costa Carvalho Neto explicou que o projeto é patrocinado pela Eletrobras, por meio de um grupo que reúne as 13 maiores empresas de energia elétrica do mundo. A ideia é fortalecer a meta das Nações Unidas de atendimento pleno de energia elétrica para toda a população do planeta até 2030.
Atualmente, cerca de 1,3 bilhão de pessoas ainda não são atendidas com energia elétrica – quase 20% da população mundial.
“Vamos primeiro levar essa experiência para o Uruguai, para que o país seja um disseminador da tecnologia. Em seguida, pretendemos levar essa técnica para as Nações Unidas, para que seja aplicada também em países principalmente da Ásia e da África”, disse Carvalho Neto. “Então eu diria que é um aproveitamento da tecnologia de Itaipu para o mundo”, declarou.
O presidente da Eletrobras acrescentou que o biogás representa uma energia limpa e barata, com caráter sustentável, e prova que mesmo grandes empreendimentos – como Itaipu – podem gerar impacto positivo na comunidade que atua. “É um exemplo de como um aproveitamento hidrelétrico tem facetas de desenvolvimento nacional, regional, mas também local”, elogiou.
Modelo
O projeto piloto no Departamento de San Jose terá características muito parecidas com o do Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon. No Uruguai, serão 31 pequenas propriedades rurais, produtoras de leite, conectadas a uma microcentral termelétrica por 14 quilômetros de gasoduto.
O projeto foi dividido em três fases. Quando estiver totalmente concluído, daqui a dois anos, terá uma produção total diária de 780 metros cúbicos de gás (ante 800 metros cúbicos na experiência brasileira), com possibilidade de venda da energia elétrica gerada para a concessionária local.
Cícero Bley Jr. comentou que, independentemente da quantidade de energia produzida no condomínio, o impacto da nova atividade para o produtor rural é muito grande. “Essa energia equivale a um poço de petróleo em cada propriedade”, comparou.
Levantamento apresentado por três alunos uruguaios do curso de Energias Renováveis da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), de Foz do Iguaçu, mostra que em 2012 a estimativa é que o país tivesse 732 mil cabeças de gado leiteiro e 220 mil suínos, com potencial de produção de até 78 milhões de metros cúbicos de gás por ano – ou 12,6 MW.
“Para Itaipu, é um sonho ver a integração das universidades com a Eletrobras, com os professores, alunos, agricultores, cooperativas, em um processo de sustentabilidade muito forte”, destacou Jorge Samek, lembrando que o Paraná, apesar de ter apenas 3% do território nacional, é responsável por 20% da produção agropecuária do País e por praticamente o mesmo porcentual de produção de energia.
“Daqui a cinco ou seis anos, a agricultura vai produzir a sua própria energia, vai abastecer o seu carro elétrico, e tudo isso sem custo para o meio ambiente”, estimou.
Parcerias
O projeto de geração de energia elétrica a partir do biogás no departamento de San Jose também tem entre os parceiros a Global Sustainable Electricity Partnership (GSEP), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria (INIA).
No Ajuricaba, o projeto é desenvolvido por Itaipu desde 2009, em parceria com o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Copel, Prefeitura de Marechal Cândido Rondon, Embrapa, Movimento Nacional dos Pequenos Agricultores (MPA), Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (ITAI) e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI).
A Itaipu
A Itaipu Binacional é a maior usina de geração de energia limpa e renovável do planeta e foi responsável, em 2012, pelo abastecimento de 17,3% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 72,5% do Paraguai. Em 2012, superou o próprio recorde mundial de produção e estabeleceu a marca de 98.287.128 megawatts-hora (98,2 milhões de MWh). Desde 2003, Itaipu tem como missão empresarial “gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A empresa tem ainda como visão de futuro chegar a 2020 como “a geradora de energia limpa e renovável com o melhor desempenho operativo e as melhores práticas de sustentabilidade do mundo, impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração regional”.