Professor e músico José Miguel Wisnik apresentou no sábado (24) uma aula-show sobre o poeta paranaense Paulo Leminski.
Como queria o poeta, teve sol na noite fria de Foz do Iguaçu, no último sábado, dia 24 de agosto. O professor e músico José Miguel Wisnik brindou o público do auditório do Centro de Recepção de Visitantes (CRV) da Itaipu Binacional com uma aula-show irreparável sobre Paulo Leminski.
A aula por si só já valeria o espetáculo, que incluiu a interpretação de músicas, com Wisnik ao piano, acompanhado pelo baterista Sérgio Reze e o violonista Swami Jr. Se estivesse vivo, Leminski teria completado 69 anos no sábado.
Wisnik fez uma imersão na obra do poeta paranaense e também trouxe outras luzes. Na noite tudo ficou mais claro sobre a poesia, a literatura e a música de Paulo Leminski, e também sobre o trabalho do próprio Wisnik. Uma das grandes homenageadas da apresentação foi a poetisa Alice Ruiz, mulher de Leminski, de quem Wisnik é amigo e parceiro musical.
Antes do show, Aurea Leminski, filha de Paulo Leminski e Alice Ruiz, e também curadora da Exposição Múltiplo Leminski, fez questão de agredecer a Itaipu e a Paulino Motter, consultor do diretor-geral brasileiro, Jorge Samek, pelo apoio incondicional à cultura.
Nenhum outro artista poderia falar com tanto conhecimento e intimidade sobre a obra do poeta paranaense. Exceção para a própria família de Leminski, as filhas Aurea e Estrela e a mulher, Alice Ruiz.
Wisnik, que recebia letras do poeta curitibano para musicar, desconstruiu poemas de Leminski, para mostrar que mesmo aquele que parece mais simples, de sua fase concretista, nos haicais ou na poesia livre, contém a palavra precisa, a palavra que o poeta buscou na origem, para seduzir com cada sentido ou cada som.
Poeta de província, lembrou Wisnik, Leminski sabia que não teria seu nome na lousa como os clássicos, como diz em um de seus poemas, mas a obra desse “samurai malandro” é hoje referência na literatura brasileira por sua singularidade.
A aula-show fez parte das atividades que integram a Exposição Múltiplo Leminski, que já recebeu quase 45 mil pessoas no Ecomuseu de Itaipu, num período de um mês e meio. Em Curitiba, onde nasceu o poeta, a exposição foi visitada por mais de 200 mil pessoas, no Museu Oscar Niemeyer.
Essa foi a terceira vez que Wisnik veio a Foz do Iguaçu. Todas para falar sobre poesia. A apresentação do ensaísta antecede a programação da Feira Internacional do Livro, de 30 de agosto a 8 de setembro. Entre outras atrações, a feira trará o irreverente músico Tom Zé.
Paulista de São Vicente e filho de polonês que morou no Paraná, Wisnik fez várias reverências ao Estado, berço da popularização do haikai no Brasil graças a Leminski e Alice Ruiz.
Leminski morreu aos 44 anos de idade, em 1989, de cirrose hepática. Sua obra completa em poesias, o livro “Toda Poesia”, lançado pela Cia. das Letras, tornou-se best-seller em pouco tempo. Para Wisnik, é a prova de que o poeta continua atual e conquistando cada vez mais jovens leitores.
Wisnik fez um paralelo entre a popularização do livro com as recentes manifestações nas ruas. "Em uma sociedade em que tudo é transformado em bem de consumo, a poesia ainda é o elemento resistente e imutável".
Wisnik abriu e encerrou a apresentação com a música Luzes, parceria dele com Paulo Leminski. Parte da letra da canção é usada no texto sobre a cobertura da aula show. Por que afinal teve muito sol na noite de sábado.
As estrelas da noite
Paulo Leminski (1944-1989) foi poeta, romancista, tradutor, biógrafo, músico, publicitário, jornalista, professor de cursinho e de judô, grafiteiro e até autor de histórias em quadrinhos eróticas, entre outras funções, sem deixar de lado a boemia e sem se abster de uma boa polêmica.
Graduado em Letras, mestre e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo, José Miguel Wisnik estudou piano clássico e já gravou três discos. É compositor e escreve regularmente ensaios sobre música e literatura. Tem diversos livros publicados e é responsável pela trilha sonora de vários filmes, peças de teatro e espetáculos de dança.
Baterista e percurssionista requisitado, Sérgio Reze tem uma carreira sólida e uma coleção de referências elogiosas pelo seu trabalho. "Sérgio Reze é maravilhoso, temos uma conversa de piano com bateria, pois a bateria dele tem instrumentos melódicos, timbres, é uma espécie de projeção da alma do piano. Isso para mim tem sido uma coisa extremamente gratificante", elogia Zé Miguel Wisnik.
Violonista (violão de 7 cordas), baixista, arranjador, compositor e produtor, Swami Jr. é hoje um dos músicos brasileiros mais requisitados e atuantes, tanto acompanhando e dirigindo, como produzindo seus próprios trabalhos e de outros artistas.
Luzes
Acendo a lâmpada às seis horas da tarde
Acenda a luz dos lampiões
Inflame a chama dos salões
Fogos de línguas de dragões
Vagalumes
Numa nuvem de poeira de neon
Tudo claro
Tudo claro à noite, assim que é bom
A luz
Acesa na janela lá de casa
O fogo
O foco lá no beco e um farol
Essa noite
Essa noite vai ter sol
Essa noite
Essa noite vai ter sol
A Itaipu
A Itaipu Binacional é a maior usina de geração de energia limpa e renovável do planeta e foi responsável, em 2012, pelo abastecimento de 17,3% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 72,5% do Paraguai. Em 2012, superou o próprio recorde mundial de produção e estabeleceu a marca de 98.287.128 megawatts-hora (98,2 milhões de MWh). Desde 2003, Itaipu tem como missão empresarial “gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A empresa tem ainda como visão de futuro chegar a 2020 como “a geradora de energia limpa e renovável com o melhor desempenho operativo e as melhores práticas de sustentabilidade do mundo, impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração regional”.