Fonte: Tribuna da Imprensa - Pedro do Coutto - O Jornal Nacional de sábado, apresentado por Alexandre Garcia e Ana Paula, ao focalizar o desfile de Sete de Setembro, em Brasília, noticiou a ausência dos presidentes do Senado e da Câmara Federal, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, uma descortesia para com a presidente Dilma Rousseff e com as Forças Armadas, quebrando uma longa tradição dos desfiles e das comemorações pela passagem do Dia da Pátria.
Incrível. Representou uma confissão de culpa através da fuga da ausência cômoda para os que tinham certeza que seriam foco de protestos. Estes, vale acentuar, seriam em intensidade maior do que foram. Por isso decidiram não comparecer. No Rio de Janeiro, outra tradição foi quebrada: o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes resolveram não se expor à reação popular. As ausências, neste caso, foram uma descortesia para com o Comando Militar do Leste. A presidente Dilma, que, segundo O Globo de domingo, terminou sendo aplaudida, não temeu a manifestação popular. Chegou ao palanque oficial na Esplanada dos Ministérios, de pé no carro aberto que a transportou.
Foram os primeiros efeitos junto à opinião pública pela posição que assumiu ao exigir explicações do presidente Barack Obama sobre a espionagem de que se tornou alvo. Mas a espionagem, aliás, estendeu-se sobre todo seu governo, especialmente em relação à Petrobrás, conforme revelou a reportagem do Fantástico de domingo.
VANDALISMO
Em São Paulo e no Rio, as situações foram difíceis com a reaparecimento do vandalismo e dos que se aproveitam das manifestações para depredar e saquear. Disfarçados de revoltados, munidos de ira, são criminosos comuns. E a Polícia Militar exagerou principalmente na Praça da República. De acordo com a reportagem de Emanuel Alencar, Fabíola Gerbase, Leandra Lima, Maira Rubim, Roberta Calabre, Rubem Berta e Simone Cândida, O Globo de domingo, lançou bombas de gás atingindo famílias que nada tinha a ver com os atentados praticados. Mulheres e crianças sentiram os efeitos. As emissoras de televisão, entre elas a Globo News, fixaram o exagero inútil, em termos de segurança, nocivo para os inocentes. Setenta e sete pessoas foram detidas.
Mais uma vez falharam os esquemas de segurança, também em Brasília, confundindo-se a prevenção indispensável com a repressão após os fatos consumados. Tal panorama termina somando para os vândalos e assaltantes, na medida em que os filmes colocados no ar e as fotografias nos jornais no dia seguinte ganham força na medida em que focalizam pessoas feridas. Para os vândalos, quanto mais violência melhor. O estranho é que os praticantes dos atentados são presos e logo depois soltos, como se fossem personagens de uma obra de ficção. Parece inclusive que a PM necessita ter adversários pela frente para desempenhar seu papel.
Mas no fundo, a Polícia Militar não se dá conta que assim agindo contribui para desgastar ainda mais a imagem, já profundamente abalada do governador Sérgio Cabral junto à opinião pública. Tanto assim que os protestos no Rio terminam sempre com os manifestantes tentando chegar ao Palácio Guanabara, sendo contidos pelo caminho. Porém não sem antes entrarem em choque com as forças de segurança. O que aumenta a dimensão – e a PM não percebe isso – a reprovação de Sérgio Cabral. A PM deve agir mais na prevenção. A repressão só agrava e fornece munição e pretexto aos revoltados.