Fonte: Tribuna da Imprensa - Via Mídia Informal - O Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e celebra-se em 21 de março em referência ao Massacre de Sharpeville. Em 21 de março de 1960, em Johanesburgo, na África do Sul, 20.000 pessoas faziam um protesto contra a Lei do Passe, que obrigava a população negra a portar um cartão que continha os locais onde era permitida sua circulação. Porém, mesmo tratando-se de uma manifestação pacífica, a polícia do regime de apartheid abriu fogo sobre a multidão desarmada resultando em 69 mortos e 186 feridos. Em memória a este massacre a Organização das Nações Unidas – ONU – instituiu 21 de março o dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial.
O Artigo I da Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial diz o seguinte: "Discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública"
Resolvi iniciar hoje com o verbete da Wikipédia sobre o ato que deu origem à criação de um dia internacionalmente separado para realizar atos contra a discriminação racial no mundo. Tudo isso como subsídio para provocar uma reflexão sobre nossa condição como humanos de cor negra no mundo, e de como construir um enfrentamento à essas ignomínias diárias à que nos submetem sem nenhuma vergonha. Mas por hora, nossa condição aqui mesmo no Brasil já nos cobra todos os dias exaustiva reflexão e luta contra os aviltamentos aos quais somos expostos.
Pois bem amigos, a ironia é que nesta semana a marca da cor se evidenciou nas decisões de como se trata um caso em que negros estão envolvidos. O mito da democracia racial já com seus devidos sete palmos jaz inconteste. E que bom. Assim as relações vão ficando mais claras e como diz a canção: “é vivendo e aprendendo a jogar”. Obrigada Brasil, agora você está de fato mudando, mostrando a sua cara. Que nós, os que estamos aqui ó, no Brasil real já conhecemos há muitas luas.
Essa cara brava de quem não quer brincadeira e nem muita intimidade com quem descende de África. Embora legítimos brasileiros – a maior parte da população –, estamos ainda tão acorrentados que vemos absolvidos algozes de uma indefesa mulher negra, mãe de oito filhos, sobrinhos, mas criados como filhos, e só nos indignamos.
Confesso que ao ver as cenas espetacularizadas dos incêndios em Manguinhos, lembrei do episódio da morte do ativista negro que culminou nas tensões que acabaram virando o filme Mississipi em Chamas, e de quando mataram Martim Luther king, onde todos os negros e negras se sentiram mutilados por aquelas perdas nos dois episódios e de tantos outros anteriormente.
Até quando viveremos sobre a égide de um determinismo biológico ultrapassado? Embora muitas coisas que achávamos ultrapassadas pareçam se apresentar com ares de roupa nova. Para observadores mais cautelosos não passam desapercebidas. Se não nos ouvem e tripudiam sobre nossa dor, fome, loucura e desespero, está na hora de gritar e nos fazermos ouvidos.
Cláudia, teu sangue clama, junto a teus outros irmãos negros que dormem sob esta terra Brasilis e daqui, ainda de pé, vamos tentando honrar tua memória com palavras e indignação, e faremos de tudo, ainda que nos matem aos poucos, nos hospitais, nas maternidades, nos morros, nas ruas, nas prisões, nos manicômios, nas escolas, nos tribunais. Te prometemos perante seus filhos, que parecem não merecer a comoção do Brasil oficial e nenhum pronunciamento presidencial, que não vamos deixar que esqueçam o teu suplício.
"A nossa luta é todo dia e toda hora. Favela é Cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO, ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!"
*Texto de Mônica Francisco. Representante da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e aluna da Licenciatura em Ciências Sociais pela UERJ