Dilceu Sperafico*
“Resta saber até quando o produtor vai suportar tantas injustiças e pressões e continuar insistindo em produzir para alimentar os brasileiros e habitantes de uma centena de outras nações.”
O Brasil da atualidade parece não gostar de quem trabalha e produz em silêncio, sem manifestações em defesa de seus interesses. Prova disso é a perseguição que sofre o agricultor de autoridades governamentais e determinados segmentos da sociedade.
Mesmo garantindo o desenvolvimento econômico e social do País, produzindo alimentos saudáveis e a preços acessíveis para a população brasileira e excedentes exportáveis que asseguram superávits na balança comercial, o agronegócio é sempre punido ou perturbado com notícias negativas e ameaças de medidas prejudiciais à atividade.
Mesmo gerando um terço dos empregos, da renda, dos tributos e do Produto Interno Bruto (PIB), sem receber incentivos e proteções equivalentes aos de outros setores, a agropecuária é discriminada e enfrenta preconceitos inaceitáveis, até de quem deveria lhe oferecer tranqüilidade e segurança para realizar seu trabalho.
Como se não bastasse a falta de investimentos em transporte, o que impõe os mais elevados fretes do mundo, o produtor rural ora é ameaçado com tributação nas exportações de soja, expropriação de terras para reservas indígenas ou quilombolas ou com proibição da aplicação de defensivos agrícolas, desenvolvidos por institutos de pesquisa e aprovados pela Anvisa, o que pode simplesmente inviabilizar diversas culturas, devido às novas pragas.
Na questão ambiental, apesar de exercer atividade econômica a céu aberto, exposta aos temporais, inclusive de granizo, enchentes e estiagens, o agronegócio é responsabilizado pelo desequilíbrio da natureza, quando a poluição da atmosfera, que em 2012 matou sete milhões de pessoas no planeta, só ocorre nas cidades.
Como também são exclusividades dos centros urbanos a contaminação do solo e de mananciais de água, por falta de coleta e destinação corretas do lixo domiciliar e industrial.
Nessa questão, o produtor rural é tão discriminado ao ponto de ser o único cidadão obrigado a investir dinheiro particular na preservação e matas nativas e cursos d’água, enquanto as mesmas ações são bancadas por recursos públicos nas cidades.
Os preconceitos contra o agricultor estão até mesmo na ideologização da comunicação, onde todos os eufemismos são sempre contrários aos homens do campo. Os termos agronegócio e ruralista são demonizados no noticiário.
As invasões de propriedades privadas passaram a ser chamadas de ocupações e os invasores são tratados como trabalhadores sem-terra, mesmo depois de permanecer anos acampados, sem nada produzir, vivendo de recursos públicos. Em eventuais conflitos, são sempre ruralistas investindo contra trabalhadores.
O mesmo vale para exigência do cumprimento da função social da terra, exigido nas propriedades rurais, adquiridas e exploradas com recursos privados, cujo desrespeito é sempre justificativa para desapropriações, sem que se imponha o mesmo tratamento aos assentados em áreas adquiridas e mantidas com verbas públicas.
No caso dos indígenas, que na época do descobrimento se concentravam nas áreas litorâneas e margens de grandes rios, hoje se encomendam estudos antropológicos para “provar” que habitavam as áreas produtivas do interior do País e embasar expropriações do patrimônio do agricultor.
Resta saber até quando o produtor vai suportar tantas injustiças e pressões e continuar insistindo em produzir para alimentar os brasileiros e habitantes de uma centena de outras nações.
*O autor é deputado federal pelo Paraná
E-mail: dep.dilceusperafico@camara.gov.br