Sente-se uma nova amargura sutil nas expressões públicas do Papa Francisco no fim do seu "primeiro ano de graça". Os temas da "ternura" e da "misericórdia" dão lugar à dolorosa denúncia da busca da vaidade, do poder, do dinheiro. Particularmente duras e explícitas são as críticas aos homens da Igreja, que não estão à altura da sua missão.
Na ênfase pública que acolhe sistematicamente cada palavra ou recomendação do pontífice, percebe-se a decepção de que as palavras não são seguidas pelas esperadas mudanças concretas na realidade eclesial e social. Bergoglio é inteligente demais para não entender que a contínua evocação da sua "revolução" diante do imobilismo da comunidade eclesial e civil, ao qual ela se dirige, corre o risco de se desgastar como mero anúncio midiático.
"Ouvem-se os aplausos ensurdecedores de todos os lados e, ao mesmo tempo, sente-se uma grande inércia nas estruturas eclesiásticas", escreve Marco Politi no seu livroFrancesco tra i lupi. Il segreto di una rivoluzione[Francisco entre os lobos. O segredo de uma revolução] (Ed. Laterza, 2014), um estudo que está entre os mais informados e atentos ao fenômeno Bergoglio.
O interesse do trabalho também está no modo pelo qual está construída a narrativa e a documentação. Ele testemunha – talvez sem querer – a evolução do julgamento dos observadores simpáticos em relação ao papa. Eles se encontram diante de uma personalidade que se revela muito mais complexa e difícil de entender, dotada de qualidades e limites que contrastam tanto com as entusiasmadas avaliações iniciais quanto com os ataques irritados.
Do livro de Politi, eu gostaria aqui de destacar apenas algumas passagens, que levam a questões cruciais em aberto. Depois de uma aguda análise do antecessor, Ratzinger, e da dinâmica interna do conclave ("O golpe de Estado de Bento XVI", "Os segredos do conclave anti-italiano"), surge a dúvida se todos os cardeais eleitores realmente conheciam o novo eleito Bergoglio.
A esse respeito, são valiosas as páginas do livro dedicadas à sua biografia, os eventos anteriores como superior provincial dos jesuítas, o dificilíssimo período da ditadura argentina e a experiência como arcebispo de Buenos Aires. Vem à tona uma personalidade de pastor nada politicamente desarmado, mas hábil em se mover em uma sociedade complexa, civil e clerical.
"Em Buenos Aires, nos ambientes católicos ou não, o julgamento sobre as qualidades de Bergoglio como dirigente é unânime. É um homem de comando, dizem". Mas não menos extraordinária é a autocrítica que Bergoglio faz retrospectivamente justamente sobre esse ponto, prometendo ter uma atitude de paciente atenção com relação a todos.
O papa que vem do "fim do mundo" não é um ignorante, nem por experiência, nem por cultura, nem por doutrina. Mas, provavelmente, subestimou a resistência (dos seus próprios grandes eleitores) a realmente inovar as atitudes pastorais, reabrindo também implicitamente uma reflexão doutrinal.
Mas, em relação a esse ponto, ele parece sozinho. Não por acaso ele é criticado por uma certa leveza doutrinal na controversa problemática da "pastoral da família". Em relação a isso, logo se chegará a um confronto-choque sobre a questão (aparentemente marginal) da eucaristia para os fiéis divorciados em segunda união.
Eu acho que o Papa Bergoglio está consciente de que o que está em jogo não é apenas pastoral, mas também doutrinal. Mas é um modo concreto de lidar com o tema do "pecado", que foi tocado apenas genericamente em um dos diálogos "laicos" do início do seu pontificado, que muito contribuíram para criar a sua imagem pública.
Não foi apenas a sua personalidade humana, mas também as suas rupturas verbais e uma implícita hermenêutica doutrinal inovadora que desdramatizaram o contraste entre crente e não crente, desnorteando também muitos laicos conhecidos.
"Ao papa argentino é totalmente estranha a ideia de que ser ateu provoca sofrimento e leva à decadência do humano", lembra Politi. Mas eu me pergunto: que consequências práticas essa atitude terá sobre o contencioso sempre aberto na Itália sobre os direitos civis e pessoais que até agora tiveram a ver com a barreira dos "valores inegociáveis"?
O julgamento de Politi parece suspenso, assim como em outras questões. Falando do "programa da revolução", ele o sintetiza assim: reformar a Cúria tornando-a mais ágil e eficiente, limpar o banco vaticano e promover a colegialidade, instaurando consultas frequentes entre o pontífice, o Colégio Cardinalício (instituído com a explícita tarefa de apoiar o papa) e as conferências episcopais.
Notoriamente, são iniciativas sobre as quais se fala continuamente e das quais se veem apenas os primeiros passos. Mas o saldo do primeiro ano de pontificado vê o aumento das dificuldades. "Embora ele tenha um programa, Francisco, na realidade, ignora aonde irá chegar", escreve Politi.
Na realidade, a carta vencedora não será a pessoa do papa, por mais extraordinária que seja, mas sim a ativação de uma efetiva colegialidade dos bispos. Mas é uma perspectiva que, por enquanto, é remota.
*Texto de Gian Enrico Rusconi, publicada no jornal La Stampa. A tradução é de Moisés Sbardelotto