Bruno Peron
Que é possível fazer para estimular o interesse dos
jovens nas escolas? Até o momento atual, estes espaços educativos são apenas
condicionamentos precoces de crianças para que, quando elas cresçam, reconheçam
suas condições como seres pobres ou ricos, ignaros ou letrados, marginais ou
bem-sucedidos. Assim, digo que escolas têm cumprido a função de funis que
canalizam lágrimas de uma sociedade educacionalmente desigual em que o Estado
desestimula enquanto o mercado seleciona através de cobrança de mensalidades.
Faço um exame breve do ensino secundário no Brasil,
portanto sem avaliar o ensino superior. Aos poucos, demonstro que o problema da
educação está menos nas universidades, como muitos educadores apregoam, e muito
mais na mentalidade dos jovens que terminam o ensino secundário. Esta etapa de
sua formação é a que vai definir o nível dos cidadãos que se soltam nas arenas
do mercado de trabalho e nas interações públicas. Não nos surpreendamos com
que, na mesma calçada, seres mal-educados trombem com seres de nobreza cívica.
Para prosseguir meu raciocínio, é preocupante que os
jovens tenham cada vez menos desejo de ir às escolas. Dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD) indicam que somente 22,4% dos jovens de
famílias pobres no Brasil completam o ensino secundário quando chegam aos 19
anos, enquanto 84,1% dos vinte por cento dos jovens de famílias mais ricas o
terminam nesta idade (Priscilla Borges, iG Brasília, 29 de junho de 2014).
Ademais, meios de comunicação e profissionais da área
informam-nos que escolas públicas são lugares de estrutura precária,
professores desmotivados e sem autoridade, métodos enfadonhos de
ensino-decoreba, tráfico de drogas, e provocações entre colegas que não se dão
bem. Quando gestores escolares fazem algum investimento em infraestrutura e
tecnologia, escolas viram cenário de furtos e vandalismo. Mostra-se, assim,
desrespeito com a formação dos jovens e denigrem-se tentativas de construção de
um país com cidadãos.
A meu ver, há dois objetivos essenciais em relação ao
ensino secundário no Brasil. O primeiro é o de reduzir a evasão escolar para
que os jovens estimulem-se a frequentar regularmente as escolas. Mas não basta
que essas pessoas estejam nas escolas. O segundo é a necessidade de melhorar
também o aprendizado e as técnicas com que se formam nossos jovens. Só assim a
chance será maior de que tenhamos mais afinidades cívicas com as outras pessoas
com quem nos encontramos nas calçadas. Enquanto alguém pacientemente preserva a
limpeza de logradouros públicos, o outro não hesita em cuspir nos pés daquele
transeunte.
Na situação atual, o ensino secundário prepara para o
êxito no vestibular, mas descuida a formação para a vida. Muitas vezes, ainda,
os professores descontam seus fracassos em estudantes que aguardam estímulos de
educadores em casa e nas instituições educativas. Aponto também a chatice da
formação formulaica (e.g. fórmulas de física, matemática) em prejuízo do
preparo cidadão. Isto ocorre porque, muitas vezes, o próprio professor é um
meio-cidadão que tem pouco a oferecer a seus ouvintes ávidos de conhecimento.
Por isso, o processo de aprendizagem tem que ser lúdico e
agradável. É preciso, igualmente, relacionar o aprendizado científico, social e
técnico com assuntos que estudantes experimentam em seu dia-a-dia. É possível
fazer isso com visitas a feiras e laboratórios. Assim sendo, há esperança num
despertar de interesse dos jovens no ambiente escolar e nos conhecimentos que
melhorariam suas relações com os outros e seu entendimento do mundo.
A vida é cheia de imprevistos, situações que exigem
raciocínio e desafios de relacionamento. Assim, a remuneração de professores
não é tão simples para resolver o problema da educação como a fração hora/aula
sugere. O interesse dos jovens, por sua vez, depende muito de que suas famílias
esperam deles e do modelo de Brasil que o Estado e as organizações privadas e
civis desejam. Por conseguinte, a educação implica o entendimento de fases e
processos de formação de cidadãos. E ela continua a moldar os adultos que
povoam este país.
Por isso, leitor, é importante que pensemos juntos na
educação.
Igualmente, estendamos as mãos aos que têm fome de
mudanças.
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