Agora, se os depoimentos de Paulo Roberto Costa são tão restritos, e se o teor é, depois das sessões, criptografado e guardado em cofre, como a publicação teve acesso a ele? Duas possibilidades: vazamento de autos sigilosos – o que é imputável a quem passa e a quem recebe – ou conspiração ficcional.
Consideremos apenas a primeira hipótese e, ainda assim, não passam de nomes impressos no papel que alguém ouviu e contou para alguém, e assim por diante. São denúncias muito graves, atolando gente graúda e que carecem de prova. Talvez elas venham no futuro em um processo judicial. Talvez.
DIZER A VERDADE
Convém ressalvar que Paulo Roberto Costa tem todos os motivos para dizer a verdade que lhe cabe na história. Ele não quer mofar por décadas na cadeia, a exemplo de Marcos Valério, e é de se supor que tenha boa intenção em cooperar. Já preso e depondo para federais e procuradores na expectativa de reduzir sua futura pena, por que o ex-diretor mentiria? No entanto, o que a revista trouxe no fim de semana é, de fato, o que saiu da “garganta profunda”?
Suponhamos que sim, que, realmente, os nomes e o “modus operandi” publicados e delatados coincidam. Que seleto clube de homens probos, não? O que não tem na lista é réu primário. São políticos já escolados no “modo repeat”: “são ilações”, “não conheço”, “não recebi” etc.
Se o esquema for verdadeiro, ao menos em parte, é coisa comparável ao mensalão mesmo, ou “petrolão”, já que é dinheiro sujo de óleo, em tese. No cerne de tudo, de novo, a necessidade de os partidos financiarem suas campanhas eleitorais nababescas – nós, brasileiros, temos que dar um jeito nesse ovo de serpente.
E A ELEIÇÃO?
Agora, a pergunta de R$ 1 milhão: a um mês da eleição, a história vai afetar o resultado do voto? Independentemente da parcela de verdade que ela carrega, tudo vai depender da capacidade da oposição, em especial o PSDB, de manter o assunto vivo e fresco na opinião pública. Isso é um desafio em época de campanha, em que fatos, boatos e dossiês se atropelam em questão de dias. Tentou-se o mesmo, há algumas semanas, com a denúncia de combinação de depoimentos na CPI. Assunto sepultado, assim como a morte de Eduardo Campos (não houve a intenção de fazer humor negro aqui). Logo, cabe também aos governistas ter habilidade e coesão de cozinhar a denúncia pelas vias formais e informais.
Porém, como o rol de nomes delatados deve ser um zoológico e a mancha de óleo tem potencial para respingar nas três principais candidaturas ao Planalto, por conveniência mútua, talvez se prefira o silêncio e a espera da resposta futura dos tribunais. (transcrito de O Tempo)