Em
regiões onde há transição entre rios e mares – nos chamados estuários –
pode estar uma fonte renovável de produção de energia. Entender os
fenômenos que ocorrem nesse ambiente e estudar a viabilidade de
construções de usinas nesses locais são alguns dos desafios de uma
pesquisa que vem sendo desenvolvida na Universidade Federal da
Integração Latino-Americana (UNILA), intitulada “Energia azul: projeto e
construção de um protótipo para extrair energia elétrica usando a
diferença de salinidade entre a água marinha e a água dos rios”.
“A
América Latina possui um dos maiores potenciais de exploração para esse
tipo de energia renovável devido à presença de rios volumosos, com
grande vazão, e de regiões estuárias. Mesmo com esse privilégio, não
foram encontrados estudos nessa área na região, nem houve investimentos
sérios nesse tipo de reserva de energia, que vem de rios e oceanos -
maiores organismos vivos do planeta e fontes inesgotáveis”, afirma
o coordenador da pesquisa, Davi Monteiro, professor dos cursos de
Engenharia de Energias Renováveis e Ciências da Natureza da UNILA.
A
pesquisa na Universidade começou em 2012, inicialmente com um estudo
bibliográfico em uma perspectiva interdisciplinar exigida pelo tema, uma
vez que envolve áreas diversas, como Física, Química, Geografia e Meio
Ambiente. A próxima etapa é a construção de um protótipo, com o objetivo
de realizar testes controlados, que irão simular o ambiente de estuário
– com águas de diferentes graus de salinidade (concentração de sais).
O
protótipo é composto por um tanque e uma membrana semipermeável, que
vai dividir duas porções de água – pura (doce) e salgada – e, ainda,
permitir a passagem apenas da solução de menor para a de maior
concentração. Ou seja, acontece um deslocamento do fluxo da água para
apenas uma das partes do tanque. Esse processo leva a um aumento da
vazão e volume de água que, por sua vez, gera uma pressão ou força capaz
de produzir energia.
Desafios e potencialidades
Esse
projeto-piloto, de simulação, vai contribuir para entender os desafios
em situações reais. Um dos problemas apontados é com relação à membrana,
que poderia acumular sujeiras, areias e micro-organismos do oceano.
“Para ser economicamente viável, é preciso utilizar uma membrana que não
necessite trocas frequentes. É um desafio que pode receber contribuição
de outros estudos sobre membranas eficientes já existentes nas áreas de
ciências de materiais, não exatamente para produzir a energia azul, mas
que podem ser adaptadas a essa pesquisa”, esclarece Monteiro.
No
caso da produção de energia azul, outros desafios da pesquisa são
compreender melhor a composição dos estuários e os limites da membrana
para acumular sal e, ainda, estudar alternativas para minimizar
impactos, visando não alterar o grau de salinidade de uma região e,
também, evitar agressão a organismos vivos, como os peixes. Os impactos
socioambientais, no entanto, como aponta o pesquisador, seriam muito
menores se comparados à construção de uma hidrelétrica, por exemplo. “No
caso de uma usina de energia azul, a sua construção estaria
condicionada à preservação dessas regiões de estuários, uma vez que a
poluição desses ambientes descapacitaria a produção de energia”,
explica.
Energias renováveis
A
pesquisa sobre o potencial de produção de energia a partir dos
estuários ainda é muito incipiente, inclusive em outras regiões do
mundo. O estudo em andamento na UNILA realizou um levantamento de
pesquisas pelo mundo nessa área e foram descobertas algumas iniciativas
recentes na Noruega, Holanda e nos Estados Unidos. A discussão dessa
potencialidade nos estuários passa pelo debate sobre fontes alternativas
de energias – a exemplo da eólica, biomassa e solar. “Estas fontes de
energia, no entanto, têm um custo alto e precisam de determinadas
condições climáticas sazonais. A energia azul é uma possibilidade de
energia renovável que precisa de mais estudos. No caso do Brasil, é uma
discussão importante, em um país que ainda tem matriz energética pouco
diversificada”, aponta o docente.