O
Estado tem até 30 mil propriedades rurais em situação irregular e, para que
seja possível avançar em áreas maiores, será preciso mudar a legislação.
O presidente do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), Carlos Guedes de Guedes, entregou na
manhã desta segunda-feira (20), na usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, o título
de propriedade para as primeiras 12 famílias – de um total de 2 mil –
beneficiadas pela Instrução Normativa (IN) 80/2014, publicada no dia 13 de
maio.
O documento fixa os procedimentos para
legitimação de posse de terras adquiridas, desapropriadas ou arrecadadas, em
área de fronteira, com até 100 hectares e fora da Amazônia Legal. As primeiras
12 famílias ocupam áreas da Gleba 2 do Terreno Iguassu, em Santa Terezinha de
Itaipu, região Oeste do Paraná. Se o congresso mudar a legislação, a medida
poderá beneficiar 30 mil famílias na mesma situação, só no Paraná.
A cerimônia contou com a participação do
diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek; do superintendente do Incra no
Paraná, Nilton Bezerra Guedes; e do diretor de Ordenamento da Estrutura
Fundiária do Incra, Richard Martins Torsiano – entre outras autoridades.
O diretor de Coordenação de Itaipu,
Nelton Friedrich, e o coordenador do Sistema de Gestão de Sustentabilidade
(SGS) da binacional, Herlon Goelzer de Almeida, também estavam presentes. O
produtor rural Venceslau Langwinski falou em nome das famílias beneficiadas.
Carlos Guedes informou que cerca de duas
mil famílias vivem em situação semelhante no Paraná, em áreas com até 100
hectares, e que poderão se beneficiar pela instrução normativa. “Inicialmente,
vamos trabalhar com 120 famílias, mas temos potencial para chegar a todas as
duas mil”, reforçou.
Ainda segundo ele, considerando as áreas
com mais de 100 hectares – e que não são atendidas pela IN 80/2014 –, o Paraná
tem até 30 mil propriedades rurais em situação irregular. “Para avançarmos em
áreas maiores, precisaremos mudar a legislação e por isso já estamos negociando
uma solução definitiva no Congresso Nacional”, antecipou.
Guedes explicou que no Paraná o problema
é mais grave porque, nas décadas de 50 e 60, o governo do Estado emitiu irregularmente
títulos em terras da União. Essa situação exigiu do Incra uma atenção especial
e uma solução jurídica mais complexa.
“A Constituição Brasileira prevê
claramente que áreas que estão numa distância de 150 quilômetros da fronteira
com outros países a responsabilidade da regularização é da União. E o Estado do
Paraná realizou e deu esses títulos sem amparo legal”, comentou.
Jorge Samek disse que muitas famílias
hoje beneficiadas foram iludidas no passado com a compra de terras irregulares.
“Para regularizar essa situação, foram muitos trâmites. Porque a legislação é
complexa, exige muita identificação, mudar portaria, decreto, legislação, e nós
finalmente conseguimos vencer tudo isso”, comemorou.
“Essa instrução normativa vai abrir um
caminho para regularizar a situação de milhares de proprietários rurais, do
Paraná e do Brasil, que moram na propriedade, cultivam a propriedade, e que
compraram títulos que não eram legítimos”, acrescentou. “Agora essas famílias
passam a ter vida nova.”
É o caso de Célio Dias e Pedrinha
Rodrigues Dias, que têm uma propriedade de 15 hectares em Santa Terezinha. Com
o título de posse na mão, o casal afirmou que a partir de agora a vida ganha
mais tranquilidade. “Essa é uma luta antiga. Foram muitos anos que a gente vem
rezando, torcendo, e graças a Deus deu tudo certo. Hoje é um dia especial”,
disse Pedrinha.
Os irmão Juliano e Giovani Langwinski
explicaram que a falta do título trazia uma série de problemas, especialmente a
dificuldade para obter crédito agrícola. “Outro problema era a insegurança
jurídica, porque o documento que você tinha era irregular. Sempre que se
pensava em investir, construir uma benfeitoria na propriedade, você ficava com
o pé atrás. Agora, com o título, isso muda, porque você realmente é o proprietário”,
disse Giovani.
Para o produtor Anderson Marangoni, não
foi desta vez que ele voltou para casa com o título de posse nas mãos – o caso
dele ainda está sendo avaliado e deve ser resolvido em breve. Mas otimismo não
falta.
“Vai ser uma ajuda a mais para a gente
que trabalha na roça. Minha filha vai crescer numa situação mais tranquila e a
gente vai poder respirar mais aliviado”, afirmou, ao lado da pequena Andrieli,
de 1,8 ano, e da mulher, Maria de Fátima Ramalho Marangoni.
A Itaipu Binacional mantém ações
ambientais e de responsabilidade social nos 29 municípios que fazem parte da
Bacia do Paraná 3 (BP3), uma área de cerca de 8 mil km² banhada pelos rios que
lançam suas águas no reservatório da usina. Boa parte dos beneficiados pela Instrução
Normativa (IN) 80/2014 estão na BP3.
A
instrução
A IN 80/2014 fixa procedimentos para a
legitimação de posses em áreas de até 100 hectares, localizadas em terras
públicas rurais da União ou do Incra, adquiridas, desapropriadas ou
arrecadadas, fora da Amazônia Legal. A medida do governo federal resolve um
imbróglio que já durava 25 anos – tempo em que os processos aguardavam a
regulamentação – e dá segurança jurídica às famílias de agricultores, uma vez
que terão o direito de propriedade da terra.
A regularização da situação desses
agricultores beneficiará não apenas famílias do Paraná, mas também de todos os
estados da federação, exceto os da Amazônia Legal.
A Itaipu
Com
20 unidades geradoras e 14.000 MW de potência instalada, a Itaipu Binacional é
a maior geradora de energia limpa e renovável do planeta e foi responsável, em
2013, pelo abastecimento de 17% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 75%
do Paraguai. Em 2013, superou o próprio recorde mundial de produção e
estabeleceu a marca de 98.630.035 megawatts-hora (98,63 milhões de MWh). Desde
2003, Itaipu tem como missão empresarial “gerar energia elétrica de qualidade,
com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento
econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A
empresa tem ainda como visão de futuro chegar a 2020 como “a geradora de
energia limpa e renovável com o melhor desempenho operativo e as melhores
práticas de sustentabilidade do mundo, impulsionando o desenvolvimento
sustentável e a integração regional”.