Bruno Peron
O interesse em cursos de nível superior aumenta no
Brasil. Enquanto milhões de brasileiros desejam melhorar sua
escolaridade, obter conhecimentos e ampliar suas visões de mundo,
outros entendem que cursos de nível superior fortalecem suas
colocações no mercado quando não são
obrigatórios para ocupar certas vagas de emprego. Por causa dessa
tendência de aumento de procura e de oferta de cursos de ensino
superior, órgãos do governo regulam o funcionamento e a
qualidade desses cursos.
No fim de outubro de 2014, o Ministério da
Educação (MEC) reconheceu mais de duzentos cursos de
nível superior com suas quase trinta mil vagas oferecidas por
instituições privadas e públicas de ensino no Brasil.
Cursos tecnológicos e outros a distância estão entre os
que receberam licença de funcionamento. O MEC autorizou
também a criação de quase cinco mil vagas nalgumas
dezenas de cursos de ensino a distância.
O MEC concede autorização a uma
instituição de ensino superior primeiramente para que
funcione como “faculdade”. Em seguida, essa
instituição pode progredir para que se torne um “centro
universitário” ou uma “universidade”. A
prerrogativa do MEC é que o diploma não é
válido se não tiver reconhecimento pelo MEC; o retorno
é que estudantes ficam com a garantia de que seus cursos foram
avaliados e aprovados.
Volto-me a alguns temas. Oferecem-se mais cursos
“profissionalizantes” e “tecnólogos” que
preparam para o mercado de trabalho. Assim, a formação
universitária direciona-se cada vez mais a exigências do
mercado. Por isso, é importante também que nossa economia
tome rumos judiciosos para que o Brasil desenvolva suas indústrias e
empregue profissionais de formação elevada, como é o
caso da indústria química e
aeronáutica.
O cenário atual é de que o Brasil somente
sobrevive a crises globais (como a que tivemos em 2008) por causa da
necessidade de outros países de consumir nossos produtos de
exportação baratos e pela pujança de nossa economia
agroexportadora. Não é à toa que se oferecem cursos
“tecnólogos” em áreas tão peculiares como
as que comercializam açúcar e
álcool.
É preciso, porém, promover e diversificar
indústrias que agreguem valor. Assim, teríamos algo mais
forte e rico que transformar cana em açúcar, o que é
quase uma atividade garapeira, ou tirar o milho da espiga para
exportá-los como “commodities” com preço definido
pelo mercado mundial.
Da mesma maneira, é importante debater sobre a
validez de cursos de ensino superior oferecidos a distância. Ainda
que o MEC os reconheça, há distanciamento entre professores e
estudantes que interagem através de meios de
comunicação (Internet, satélite, etc.). Dos cursos que
o MEC reconheceu em outubro de 2014, quase cinco mil vagas se oferecem por
modalidades de ensino a distância. Faltam debates sobre este
assunto.
Após ter levantado os temas de formação
para o mercado e ensino a distância, faço a pergunta seguinte:
a formação mais ampla, analítica, crítica e
“para a vida” é responsabilidade do ensino básico
ou do superior?
Um tema influi noutro: a economia não progride se a
educação dos brasileiros não for boa e eficiente.
Logo, não serve ter uma economia recordista em
exportação de grãos se a educação de
qualidade boa for ainda tão restrita. Por essa razão,
acredito que há negligência de políticas
públicas para melhora da qualidade do ensino básico. Assim um
país de carências educacionais investe na
formação de ensino superior.
Muito se tem feito pelo ensino superior em termos de aumento
de número de vagas, do acesso a elas e do intercâmbio
estudantil que agrega experiência e habilidades. Dou mérito a
políticas como a do Programa Universidade para Todos (ProUni) e o
programa Ciência sem Fronteiras. Mas esta é uma tentativa de
dar um passo maior que a perna.
O MEC também faz sua parte ao avaliar cursos de
ensino superior e instruir instituições escolares sobre como
elas devem estruturar-se para esses cursos. O texto nas mãos do
leitor olha para este tema em particular. Num cenário ideal, mais de
metade dos brasileiros terão condições de fazer cursos
de nível superior de seu interesse para que melhorem o nível
educacional do país e outros setores de seu
desenvolvimento.
Por fim, não se pode descuidar das crianças e
dos jovens que crescem sem ter prazer de ir à escola, mas que, nem
por isso, deixam de cumprir suas obrigações escolares. Eles
emergem como adultos que cobram direitos, mas esquecem que também
há deveres que os enalteceriam como
cidadãos.
http://www.brunoperon.com.br
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