A internacionalização do programa Cultivando Água Boa
(CAB), liderado pela Itaipu e com a participação de centenas de parceiros do
Oeste do Paraná, se consolidou em 2014. Além da adoção da metodologia do CAB em
doze microbacias hidrográficas espalhadas pela América Latina, há outras duas
na Espanha, e é crescente o interesse de organismos internacionais e de
governos pelo programa. Vários deles estão representados no encontro anual CAB,
que teve início nesta quarta-feira (19), em Foz do Iguaçu.
Para Josefina Maestu, diretora do programa Década da
Água da Organização das Nações Unidas (ONU), o CAB chama a atenção pelo “nível
de compromisso muito forte” de todos os atores envolvidos. “É responsabilidade da ONU estar atenta às
boas políticas públicas e boas práticas para disponibilizar essas experiências
para todos os estados-membros. E estamos recomendando a experiência da Itaipu
com o CAB aos governos que nos procuram”, afirmou.
Foto: Nilton Rolin - Itaipu Binacional - Josefina Mestu, diretora do programa Década da Água da Organização das Nações Unidas (ONU) na abertura do encontro CAB
O Parlamento Europeu também está interessado no CAB. A
deputada Inés Ayala, que participou nesta terça-feira (18) do Seminário
Segurança Hídrica, em Foz, informou que irá apresentar o programa na revisão da
Diretiva de Qualidade da Água (um conjunto de objetivos e parâmetros para os
países da União Européia em relação à gestão dos recursos hídricos), em 2015.
“Tínhamos uma
Diretiva para o período 2010-15, que agora passará por uma revisão. Creio que
há muitas coisas que podemos aprender com esses 11 anos do Água Boa,
especialmente em relação à metodologia para ampliar a participação e o
empoderamento das comunidades. Outro aspecto importante é a gestão por
microbacias e a maneira como são definidos os papéis dos atores nos projetos de
recuperação. Na Europa, temos uma gestão por bacias, mas os papéis não ficam
muito claros, inclusive na aplicação de recursos”, explicou.
Foto: Nilton Rolin / Itaipu Binacional - Diretor geral brasileiro Jorge Samek, assina acordo de cooperação com as binacionais de Salto Grande e Yacyretá par rplicação da metodologia do CAB, durante a abertura do encontro anual do programa.
Algumas experiências concretas de replicação da
metodologia do CAB se encontram no mesmo contexto da Bacia do Prata. Conforme
explica o secretário geral do Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países
da Bacia do Prata (CIC), o uruguaio José Luis Genta, o CIC, que havia perdido o
seu papel político após a formação do Mercosul, mudou sua vocação para o apoio ao
desenvolvimento sustentável da região e para a execução do programa Marco (de
gestão dos recursos hídricos, com apoio do Pnuma).
“Nesse contexto,
o programa CAB surgiu como um elemento com grande potencial integrador dos
países do Prata. Hoje, já temos programas semelhantes nas duas outras
binacionais da bacia (Yacyretá e Salto Grande) e outros projetos-piloto com
metodologia do CAB estão em fase de implantação na Argentina, Paraguai e
Uruguai. Agora, queremos ampliar esses projetos”, afirmou Genta, ressaltando
que 60% do território da América do Sul pertence às três grandes bacias do
continente (do Amazonas, do Orinoco e do Prata), daí a importância da gestão
socioambiental desses territórios. No total, seis microbacias estão sendo
trabalhadas por Yacyretá e Salto Grande.
Outra experiência concreta de cooperação está na
Espanha, mais precisamente no País Basco, onde está localizada a Capital Verde
da Europa, Vitoria-Gastéiz. A cidade já conta com um programa semelhante ao
CAB, porém voltado à gestão do espaço urbano. Agora, a ideia é recuperar a
microbacia do rio Zadorra, afluente do Ébrio, que banha a cidade.
Segundo Iñigo Bilbao, diretor de Relações
Internacionais da Prefeitura de Vitoria-Gastéiz, a metodologia do CAB será
aplicada em diversas iniciativas, como a recuperação das margens do Zadorra, na
promoção da agroecologia e no cultivo de plantas medicinais, sempre
reproduzindo os mesmos critérios de governança em parceria com as comunidades
locais, característica principal do programa da Itaipu.
“Nossas plantas
medicinais estão ameaçadas. Estamos criando um banco de germoplasma, junto ao
jardim botânico, para poder preservá-las. Acreditamos que com um programa como
o do CAB, de incorporar os fitoterápicos ao sistema de saúde, poderemos
reforçar isso”, afirmou Bilbao.
Em 2013, o CAB se tornou uma política de cooperação do
governo brasileiro, com apoio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e
Agência Nacional de Águas (ANA). Na época, foi firmado um convênio para
replicação da metodologia do CAB junto a oito países ibero-americanos.
A parceria com Vitoria-Gastéiz se dá nesse contexto e
os projetos-piloto já estão em execução na Guatemala e República Dominicana,
como resultado desse convênio. Além dos
países mencionados, representante das Nicarágua, Chile, Costa Rica e França
também participam do Encontro CAB 2014.
Outra experiência do CAB que iniciará em breve na
Espanha é nas cercanias de Madri. O vice-conselheiro de Meio Ambiente da
prefeitura da capital espanhola, Enrique Ruiz, explicou que, assim como
Vitoria-Gastéiz, o governo local quer replicar o programa da Itaipu na área
rural, complementando a gestão das águas que é realizada no âmbito urbano.
“Queremos dar
mais sustentabilidade à agricultura e à pecuária que é praticada no entorno de
Madri”, afirmou Ruiz. “Creio que o principal valor do CAB é unir as pessoas em
torno da questão da água e do território”.
Na Guatemala , o CAB está em implantação –
identificação de atores e sensibilização – em
três microbacias hidrográficas ligadas aos projetos hidrelétricos El
Porvenir, do Instituto Nacional de Eletrificação (Inde), e Renace 4, do
consórcio Multi Inversiones, e também à mina El Escobal, da mineradora San
Rafael.
“Entendemos que
o CAB oferece uma resposta às demandas sociais das comunidades do entorno
desses projetos, além de contar com um modelo de interlocução com essas
comunidades. E, também, contribui para a preservação da água, viabiliza a
hidroeletricidade e aumenta o nível de conhecimento sobre os projetos
hidrelétricos”, afirmou Carmen Yolanda Magzul López, do Vice-Ministério de
Desenvolvimento Sustentável da Guatemala.
Na República Dominicana, são outras três microbacias
(Rio Grande, Arrio Gurabo e Rio Maimón), todas próximas a mineradoras. No
último mês de outubro, foram realizadas as Oficinas do Futuro (método de
diagnóstico dos problemas e planejamento das ações, baseado em Paulo Freire).
“O CAB é uma
ferramenta de engenharia social que integra as comunidades ao meio ambiente.
Além disso, é também uma ferramenta que permite conformar o comitê gestor com
participação direta dos mais vulneráveis, junto com o setor público e privado”,
garante o assessor do Ministério de Energia e Minas e diretor do CAB Guatemala,
Yossi Abadi.
A
Itaipu
Com 20 unidades geradoras e 14.000 MW de
potência instalada, a Itaipu Binacional é a maior geradora de energia limpa e
renovável do planeta e foi responsável, em 2013, pelo abastecimento de 17% de
toda a energia consumida pelo Brasil e de 75% do Paraguai. Em 2013, superou o
próprio recorde mundial de produção e estabeleceu a marca de 98.630.035
megawatts-hora (98,63 milhões de MWh). Desde 2003, Itaipu tem como missão
empresarial “gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e
ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico,
sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A empresa tem ainda como visão de futuro
chegar a 2020 como “a geradora de energia limpa e renovável com o melhor
desempenho operativo e as melhores práticas de sustentabilidade do mundo,
impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração regional”.