Milton Corrêa da Costa
Recentemente ao se referir ao violento contexto de guerra urbana que vivenciamos no Rio, há mais de vinte e cinco anos, o secretário de segurança, José Mariano Beltrame, foi no cerne da questão: "Estamos diante de uma nação de criminosos que tem desapego total pela vida humana. Porém a polícia sozinha não resolverá a grave questão". disse acertadamente. Incômoda e realista constatação. Ressalte-se que mais um policial militar, este em ação de patrulhamento na área da UPP da Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, foi morto em ataque de surpresa de bandidos na noite de 28/01. Portanto, o grande desafio é: ou desarmamos os criminosos ou a ameaça das balas perdida e certeira prosseguirá..
Numa das mais violentas e permanentes guerras urbanas que já se teve notícia na história policial, esta é a grande preocupação, no momento, no âmbito da segurança pública,onde policiais e cidadãos podem ser a próxima vítima: a qualquer hora, e em qualquer lugar. A violência entre facções do tráfico e a benevolência da lei penal acabou gerando a cultura (assustadora) da arma em território nacional, trazendo o medo concreto e a insegurança para qualquer cidadão. O que é pior: bala perdida é uma variável incontrolável no estudo da violência urbana e da mancha criminal.
Por sua vez, tal difícil tarefa da polícia, em desarmar bandidos, só terá êxito se o governo federal fizer a parte que lhe cabe: tornar nossas fronteiras menos vulneráveis à entrada de armas e drogas. Somente numa incursão da Polícia Militar, na Zona Norte do Rio, no Morro do Juramento, no sábado 24/01, para por fim a intenso confronto entre facções rivais do tráfico, integrantes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), considerada uma das mais adestradas tropas de combate urbano do mundo, apreenderam onze fuzis e diversos carregadores escondidos numa mata na localidade. O comandante-geral da PM do Rio de Janeiro, coronel Alberto Pinheiro Neto, em nota, alertou: "São armas que entram no país ilegalmente e representam uma ameaça à população". Num período de dois meses a polícia do Rio apreendeu 1128 armas de diferentes calibres e 54 granadas. A pergunta que fica é: como continuam chegando em morros e favelas tanto armamento de guerra?
Por enquanto, no Rio e em suas cercanias e em muitas cidades brasileiras, os assaltos em vias públicas e a disputa entre facções do tráfico, muitas vezes com a inevitável intervenção policial, na missão de restabelecimento da ordem pública,colocam a vida de policiais e da população civil em risco. A cultura da arma, trazida pelo advento do narcoterrorismo, gera tragédias diárias desvalorizando cada vez mais a vida humana. Virou rotina, por exemplo, e as câmeras de segurança mostram constantemente, matar vítimas indefesas com tiros na cabeça durante assaltos em vias públicas ou a estabelecimentos comerciais.
Triste e macabra rotina da cultura da bala perdida que muitas vezes acaba mortalmente certeira. A vida humana não tem mais valor nas mãos de bandidos e bandidos-mirins, assassinos sanguinários onde a leniente lei penal brasileira contribui para o quadro de violenta guerra urbana. A certeza da dura punição e de que menores não mais seriam inimputáveis, poderiam contribuir para minimizar tal tragédia. É o que a sociedade espera. Cali e Medellín, na Colômbia, conseguiram reduzir a violência das armas, Aqui também é possível, desde que cada qual faça a sua parte. A sociedade também, através do Disque-Denúncia (2253-1177)
Milton Corrêa da Costa é tenente coronel (reformado) da PM Rio de Janeiro