Fonte: Tribuna da Imprensa - Por MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND - Via Direto da Redação -
Os jornalões e os telejornalões estão apresentando o Brasil mergulhado no abismo. As edições diárias mostram um quadro catastrófico, sendo que alguns colunistas não escondem o objetivo de detonar a Presidenta Dilma Rousseff.
O quadro é de crise política estimulada pela mídia conservadora, como pode se verificar através de vários exemplos.
Na edição do último domingo, Élio Gaspari, herdeiro dos arquivos do coronel Golbery do Couto e Silva e do general Ernesto Geisel repete diversas vezes o que tinha dito na edição do dia anterior o presidente reeleito do PSDB, Aécio Neves Cunha.
Élio Gaspari, parecendo ter baixado nele o espírito maligno do coronel Golbery, perguntou inúmeras vezes em sua coluna se Dilma conseguirá completar o mandato de quatro anos. Golbery, o eterno golpista, não faria melhor.
Na mesma linha, o imortal Merval Pereira diariamente reproduz reflexões que objetivam convencer os leitores que Dilma Rousseff não vai resistir por muito tempo. Para ele, o governo chegou ao fim.
Veneno dos telejornalões
Nos telejornalões o noticiário não fica muito atrás em matéria de apresentar o país em crise violenta e sem perspectiva. É a tal coisa, como o papo catastrófico tem se repetido constantemente, o telespectador acaba convencido de que o Brasil caiu mesmo no abismo. É a técnica de Joseph Goebbels, o responsável pela propaganda do III Reich nazista com a utilização da técnica de que uma mentira repetida várias vezes acaba virando uma verdade.
Fazendo dobradinha com o noticiário catastrófico, na área política, além de Aécio Neves Cunha*, um outro Cunha, o Eduardo, que preside a Câmara, visivelmente passou dos limites. Tornou-se um câncer político a ser removido. E sob pena de se não o for acabar tornando-se uma metástase que fere de morte todo o corpo político.
Os dois Cunhas, segundo o noticiário, têm se encontrado, o que é um mau sinal para a democracia brasileira.
Neves Cunha até hoje não se conforma com a derrota sofrida no segundo turno presidencial, em outubro do ano passado. Já o presidente da Câmara dos Deputados conseguiu, através de manobra torpe que os parlamentares aprovassem, mudando de opinião em menos de 12 horas, a redução da maioridade penal para 16 anos.
Eduardo Cunha subverteu o regimento que impede a votação de um projeto derrotado numa mesma legislatura. Graças a esse jogo sujo, a vingança venceu e se isso prevalecer na votação no Senado e novamente na Câmara, os menores entrarão nas prisões com canivetes e facas e lá vão se especializar no uso de revólveres e metralhadoras. Ou seja, entram de canivete e sairão de metralhadora.
A manobra de Cunha, segundo o próprio, teve por objetivo satisfazer a opinião pública apoiadora da redução da maioridade penal por estar envenenada pelo espírito de vingança, com o apoio da mídia conservadora.
Como se não bastasse, o defensor incondicional da continuidade do financiamento empresarial das campanhas políticas fez o possível e o impossível, manobrando, para que fosse aprovado recentemente esse fator de corrupção.
Em causa própria
Na verdade, Eduardo Cunha se empenhou em causa própria, porque em sua campanha, segundo a revista Galileu, ele obteve financiamentos empresariais dos mais diversos, inclusive da Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), produtora e comercializadora de cervejas. Ambev, por sinal, de propriedade de Jorge Paulo Lemann, acusado de financiador de um esquema golpista.
Nesse sentido, cabe uma pergunta que não quer calar: sendo Eduardo Cunha um notório evangélico, como se explica ele ter aceitado que uma entidade cervejeira tenha doado um milhão de reais para a sua campanha? Pode ser que para neutralizar esse apoio Cunha tenha aceitado, como consta também da Galileu, 550 mil reais da Coca Cola e assim sucessivamente.
Como se não bastasse, ainda segundo a revista Galileu, Eduardo Cunha em abril do ano passado foi o relator de uma medida provisória que perdoava dois bilhões de reais dos planos de saúde. E meses depois o mesmo Cunha recebeu para a sua campanha doação de 500 mil reais por parte da Bradesco Saúde e Vida e Previdência, um dos maiores planos de saúde do Brasil.
Eduardo Cunha, como Aécio Neves Cunha, tem um objetivo primordial, o poder a qualquer preço. Eduardo agora quer porque quer que o Parlamentarismo volte à ordem do dia, não bastasse a rejeição dessa forma pelos eleitores em duas oportunidades, em 1963 e na década de 90.
Assim caminham os Cunhas, que fazem muito mal ao Brasil.
Claro que tudo isso não impede de se criticar, mas de uma forma não golpista como fazem os Cunhas, a Presidenta Dilma Rousseff. Ela delegou poderes ao Ministro da Fazenda Joaquim Levy e acredita que o Brasil vai superar as atuais adversidades. Mas há quem diga que isso não acontecerá. O tempo vai dizer com quem está a razão. Por enquanto a barra pesa para os trabalhadores.
O Brasil não pode continuar ficando ao sabor da crítica golpista estimulada pela mídia conservadora. Por isso, é necessário que se apoie de todas as formas a manutenção da legalidade.
Motivo real
Se Aécio Neves Cunha quer o poder, que tente mais uma empreitada na próxima eleição de 2018, mas não através de jogadas golpistas. Para alguns analistas, o atual posicionamento de Neves Cunha de detonar com o governo de Dilma Rousseff tem uma explicação e está inserido no contexto interno do PSDB. Ele teme que daqui a três anos ele tenha que disputar a indicação da legenda com outros candidatos, como, por exemplo, Geraldo Alckmin ou mesmo outro paulista, o entreguista José Serra.
Neves Cunha acredita que o seu momento é agora, mas em 2018 o cenário político pode ser outro e ele pode ser prejudicado, não só na disputa interna do tucanato, como uma eventual melhora de cotação do atual governo.
É por aí que passa a atual crise brasileira, que remete (como farsa) também a 1954 e 1964, quando empresários e militares se uniram, primeiro para detonar Getúlio Vargas, golpe evitado com o sacrifício heróico do Presidente e dez anos depois com a derrubada do Presidente constitucional Jango Goulart.
Aí, vale repetir, esteve em cena o Coronel Golbery do Couto e Silva, que doou seus arquivos para o jornalista Élio Gaspari.
Em tempo: o povo da Grécia deu um basta à austeridade votando 61% pelo não no referendo do último domingo. As pesquisas apontavam empate técnico, mas o sim obteve 39%. Ou seja, a rejeição foi de goleada e mostrou como agem os institutos de pesquisa.
(*) o sobrenome Cunha do Aécio vem do pai, o Aécio Cunha, filiado a famigerada ARENA e apoiador incondicional da ditadura de 1964