Cerca de 100 pessoas se reuniram ontem em frente ao Fórum de São Miguel do Iguaçu, portando cartazes e palavras de ordem solicitando que a Justiça se manifeste com relação ao pedido de liberdade do Vereador Valdir da Silva, o popular, Pitonho. Entre os presentes gente simples, na sua maioria de baixo poder aquisitivo, residentes na periferia, trabalhadores da sua empresa, familiares, amigos e eleitores seu.
É de conhecimento público que o Vereador e presidente do Legislativo Municipal de São Miguel do Iguaçu se encontra preso desde o último dia 24 de julho, durante uma operação da Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc) e do MP-PR.
Mesmo o processo estando correndo sobre sigilo de Justiça, na última terça-feira, a RPC divulgou trechos de uma gravação feita com autorização da Justiça, revelando conversas do presidente da Câmara, supostamente ajudando a praticar crimes, segundo o Ministério Público.
“Fornecia, por exemplo, a pedreira de sua propriedade para os encontros, para que fossem escondidos determinados objetos ilícitos, seja droga ou arma. Era o sujeito que fornecia a arma para a prática do roubo, que era para financiar o tráfico, como foi o roubo ao empresário”, descreve promotor de Justiça Heric Stilben, ressaltando que ele dava suporte para que o grupo cometesse os crimes.
O Vereador, nega tal afirmação de que a sua empresa era usada para planejar ações criminosas. “A pedreira é aberta, mas eu tenho certeza que isso é só conversa. Isso é só idéia”.
Segundo seu advogado de defesa, a única prova que existe visível no processo hoje, é essa suposta ligação feita momentos antes do assalto a residência do empresário Charles Zílio, ocorrido no dia 25 de novembro de 2014. “Não foram apreendidas drogas e nem armas com o vereador. Entramos com um pedido de liberdade junto ao Fórum local. O promotor já deu o seu parecer contrário. Estamos aguardando a decisão do Juiz. Caso seja desfavorável, vamos entrar com um pedido de habeas corpus junto ao Tribunal”, relata.
Valdir da Silva foi transferido na última quarta-feira para a Penitenciária de Foz do Iguaçu, a pedido da Promotoria.
MANIFESTAÇÃO PRÓ VALDIR
Segundo uma das organizadoras da Manifestação de ontem, o objetivo da mesma é demonstrar as nossas autoridades quem é a pessoa de Valdir da Silva – o qual vinha se dedicando de corpo e alma ao seu mandato como Vereador, trabalhando pelo povo. “Conhece-o há mais de 20 anos e posso afirmar que se trata de um pai de família zeloso, um ser humano que nunca negou ajuda quem quer que seja que o procurasse”, afirma Delci Nena Hermes de Oliveira, uma das organizadoras do movimento.
Para Jesus Santo Siqueira, 56 anos, professor de Karatê, Valdir era uma pessoa simples, um líder nato. “O que eu sei que ele matou e continua matando foi a “fome” de muita gente oferecendo trabalho e muitas vezes enfiando a mão no bolso de quem o procurava. E olha que o conheço há mais de 30 anos e morei por muitos anos em frente a sua residência”, afirma Jesus.
Entre os presentes também Lairton Vargas, 43 anos, funcionário da pedreira há mais de três anos. “Eu só o via mesmo na Pedreira uma vez por mês quando ele vinha lá fazer o “pagode” (salário) para nós. Nunca vi nada de ilícito ali. Eu me pergunto, a onde está a droga ou as armas apreendida em sua Pedreira?”, questiona Lairton.
Valdir Porto, 41 anos, é categórico em afirmar que Valdir era a cara do povo. “Ele tratava a todos com muito respeito e sempre que você precisava dele, ele te ouvia, e com a maior franqueza dizia se podia ou não ajudar. Ele não enrolava, era atencioso e quando não podia resolver anotava o problema e buscavas uma solução”, garante Valdir.
Segundo um dos seus funcionários, atualmente sua pedreira abriga cerca de 20 pessoas trabalhando. “Não tenho certeza, mas nas inúmeras obras de calçamento que ele tem nos municípios da região, deveria estar gerando no mínimo mais uns 40 empregos”, afirma Lairton, para em seguida ressaltar: “Era vereador, presidente da Câmara e com todas essas atividades – as quais ele se envolvia pessoalmente ajudando todo mundo, será que ainda sobrava tempo para se envolver com coisas erradas”, questiona.
PONTOS CONTRADITÓRIOS DO ASSALTO A RESIDÊNCIA DO EMPRESÁRIO
Recentemente o delegado Sampaio, em entrevista concedida a RPC TV, disse que além da associação ao tráfico, o vereador estava também envolvido com o assalto e seqüestro da filha do empresário. Essa informação de seqüestro, segundo seu advogado não consta no processo, até por que, no dia do assalto, informações da época davam conta de que sua esposa se encontrava na missa com a sua filha no colo.
A informação que foi ao ar também de que o vereador sabia que o empresário havia recebido da prefeitura e tinha dinheiro em casa, é uma falácia. Todos sabem que os pagamentos hoje são eletrônicos, ou seja, é transferido direto da prefeitura para a conta de quem tem a receber junto a ela.
Outra questão que precisa ser urgentemente esclarecida é com respeito à gravação que foi ao ar pela televisão, segundo consta, gravada minutos antes do assalto se realizar. Nessa gravação, o assaltante de nome Reginaldo, conhecido como o gremista, pede ao vereador um “negócio”, que segundo a polícia, é uma arma.
A pergunta que fica no ar, é: que ladrão trapalhão é esse, que não planejou nada com relação ao assalto. Segundo a gravação, trinta minutos antes do assalto, nem arma ele tinha para praticar o assalto. “Esse ladrão, é no mínimo um trapalhão, além de não ter providenciado o que precisava com antecedência para praticar o assalto, ainda ficou ligando minutos antes, correndo o risco de ser pego numa ligação telefônica grampeada”, me dizia um causídico ontem à tarde, que por motivo óbvios pediu para não ser identificado.
CONOTAÇÕES POLÍTICAS
Pela época em que ocorreu esse assalto, 25 de novembro de 2014, muitas outras perguntas ficam no ar com relação ao panorama político local. Dentro de um mês, encerrava-se o mandato do presidente, Edson Ferreira – e a base de sustentação do Rumo Novo havia se desfeita completamente, pois a Vereadora Nega da Aurora, o vereador Pitonho e o vereador Cláudio Rodrigues, já tinham deixado claro que estavam rompidos com o governo.
Edson Ferreira, por exemplo, vivia transitando quase que diariamente nos corredores do Laboratório do empresário Charles Zílio. E a grande preocupação da atual Administração, era sobre um possível pedido de afastamento do prefeito Cláudio Dutra, diante das inúmeras falcatruas cometidas pelo mesmo, sendo inclusive afastado por duas vezes pela Justiça...
Inexplicavelmente, no mês seguinte, ao vereador Cláudio Rodrigues, se eleger presidente da Câmara em dezembro de 2014 (segundo informações de bastidores), através de uma articulação do deputado federal Fernando Giacobo que dá sustentação ao governo local, ele foi convidado para fazer parte da diretoria da FETAEP, cedendo seu lugar para o vereador Inésio Civiero (PDT) que é da base do Governo, fragilizando assim a oposição, que voltava novamente com a minoria, muito embora com a Mesa Diretiva da Câmara.
Segundo Cláudio Rodrigues, essa proposta da FETAEP era irrecusável e no seu ponto de vista, poderia fazer muito mais por São Miguel lá em Curitiba, do que na presidência da Câmara. “Pessoalmente, não acredito que tenha havido interferência de fora para que eu fosse convidado”, nos relatava em abril desse ano quando se deslocou para Curitiba para assumir.
Para reconquistar a presidência da Câmara, os articuladores do Rumo Novo investiram pesado tentando conquistar a preço de ouro, mais um voto, que os ajudasse a trazer de volta ao Legislativo o vereador Edson Ferreira como presidente. E a vítima na época, foi à vereadora Nega da Aurora, visitada várias vezes por um laranja da Administração, que nesses três anos e meio usou e abusou da tal usurpação de poder.
Quando viram que não iam conseguir mais um voto necessário, jogaram a toalha e passaram então a estimular até mesmo o nome do Vereador Valdir da Silva, o popular Pitonho. Eles não queriam nenhum dos outros três. E nos corredores da prefeitura e da Câmara, era comum se ouvir: “O que é dele já está plantado, é só aguardar para ver”.
Uma semana antes, do Gaeco desencadear a operação em São Miguel do Iguaçu, o funcionário público (P. Z.) que já foi funcionário do ex-presidente Edson, ao ir retirar um documento na Câmara, chegou ao cúmulo de dizer com a maior cara dura: “Eu nem sei se eu levo isso – a semana que vem nós devemos estar todos de volta, mesmo”.
AO RELATAR TUDO ISSO, O QUE QUEREMOS É A VERDADE NUA E CRUA
O Vereador Valdir da Silva, o popular Pitonho, pode ter culpa no cartório sim, mas que existe algo de errado nesta história toda, isso existe. E isso é o que nós – e acredito que a Promotoria Pública também quer desvendar, fazer justiça e dar uma satisfação a sociedade. Todas as informações que temos e que possam ajudar nesse caso, além de divulgar e tornar pública, estamos encaminhando para o Ministério Público.