Ontem (20), no final do expediente, depois de dias exaustivos em busca de uma explicação para a tentativa de invasão da nossa Redação, me dirigi até a Delegacia de Polícia para levar fotos e provas que poderão ajudar na identificação do invasor e ver como andam as investigações...
Na recepção, encontrei o Delegado Sampaio reunido com os seus auxiliares mais próximos, pelo visto, fazendo um balanço do dia de trabalho e já fixando os objetivos a serem alcançados para o próximo...
Na parte externa, entre agentes da própria Instituição, vários policiais da Polícia Rodoviária Federal registrando um flagrante, peritos da criminalística da Secretaria de Segurança Pública tentando elucidar mais um crime, entre outros envolvidos com o dia a dia de uma Delegacia de Polícia.
Mas, o que se destacava mesmo na paisagem era um grupo de pessoas que estavam ao lado mexendo com a terra, regando o solo, construindo escadas, cercando a horta – e o mais importante – estampando no rosto um brilho de felicidade como se fossem jovens colegiais voltando da escola com a certeza de um futuro melhor.
Estavam trabalhando e contemplando o crescimento e o desenvolvimento das diversas espécies de verduras que em questão de dias estarão na mesa nutrindo o cardápio de muitos que estão a sua volta... Ou seja, estavam se sentindo úteis e participativos, com uma nova perspectiva de vida.
E quem são eles? São pessoas que momentaneamente estão segregadas, afastadas do convívio social por terem cometido algum tipo de delito. Eles fazem parte do Projeto Esperança, idealizado e coordenado pelo Delegado Francisco Sampaio, com o apoio da comunidade e da Prefeitura Municipal, onde além de aprenderem uma profissão como eletricista, corte e costura, pintura de parede, entre outras, recebem iniciação a música, aprendem a confeccionar fraudas e ainda conseguem reverter dias trabalhados em redução de pena.
Eles gostariam de estarem ali? Acredito que não. O lugar mais importante do mundo é a nossa Casa e nada substitui o aconchego do LAR – mas dá para ver nos seus próprios olhos que estão sendo tratados como seres humanos. Estão conscientes de que sairão dali com outra visão do mundo lá fora, sobre a importância dos valores e dos deveres que temos e devemos respeitar...
Confesso que o que mais me encanta nesse Projeto, é ver que quando a ordem e a disciplina são aplicadas com respeito e dignidade, cria-se uma atmosfera de paz e harmonia, mesmo num local onde normalmente se vê desesperança, ódio e rancor...
Basta olharmos para o que acontece em grande parte dos nossos presídios, onde as pessoas que lá estão estampam na face o retrato de uma sociedade em declínio, como se estivessem à beira de um caldeirão de pólvora pronto para explodir a qualquer momento.
O que vemos através das ações deste Projeto, são perspectivas de vida. “A produção desta horta vai ajudar numa alimentação mais saudável para os próprios presos, para os nossos vizinhos aqui ao lado do Lar dos Idosos, para a Pestalozzi, e quem sabe, num futuro próximo possamos ampliar os espaços e conseguir ajudar também os familiares dos próprios presos”, confidenciava o Delegado Sampaio.
Antes mesmo de ligar o carro e colocar o cinto de segurança, anotei na prancheta, tópicos com a intenção de usá-los para ilustrar essa matéria. Entre eles, este pensamento do líder espiritualista Yoskaz, um dos que mais me chamou a atenção:
“O mundo apenas se altera no exato passo das mudanças individuais. Transforme a si mesmo e verá o seu exemplo alavancando uma enorme revolução ao seu redor”.
Acredito que esse seja o recado que essa garotada que estão segregadas e que fazem parte do Projeto Esperança, estão passando para eles próprios, para os seus familiares e para o coletivo social.
“Começamos em não mais permitir o envolvimento em situações que reconhecidamente nos fazem mal. Pare e saia do mundo por alguns instantes. Na quietude e no silêncio, encontre consigo mesmo para entender o que não serve mais; ideias e atitudes que precisam ser modificadas para se alinharem ao seu novo momento. Este é o processo de libertação de todo o sofrimento: transgredir o olhar para transformar o ser”.
E se fossemos buscar ainda mais conselhos juntos aos nossos ancestrais, vamos encontrar a sabedoria dos povos indígenas, um dos povos que respeitam a natureza e são muito mais espiritualizados do que imaginamos. Para eles, cada momento em nossas vidas, seja na alegria ou na tristeza, deve ser encarado como escadas neste Caminho em Evolução.
“Vocês devem aprender como plantar algo. Essa é a primeira conexão. Vocês devem tratar a todos com respeito e amor como se fossemos todos de uma grande FAMÍLIA. Nunca há fim. É como a VIDA, não há fim para a vida”.