Assunto foi discutido em seminário promovido em conjunto pelas duas entidades, nesta quinta (6) e sexta-feira (7), no Parque Tecnológico Itaipu.
Fotos: Itaipu/Binacional - Um seminário promovido pela Itaipu em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nesta quinta (6) e sexta-feira (7), no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu (PR), vai validar uma série de pesquisas feitas pelas duas instituições na área de produção de biogás e biofertilizantes. O resultado dos estudos da Rede Biogasfert, da qual as duas instituições fazem parte, vai gerar recomendações técnicas para orientar os produtores de biogás de todo o País sobre os melhores procedimentos a serem adotados.
“Produção de energia e de alimentos estão ligadas porque nos dois casos nós precisamos de água”, resumiu o diretor-geral brasileiro, Jorge Samek, no início do seminário. “Por este motivo, cuidar da água e do solo é uma necessidade primordial. Hoje, a união de energia e agropecuária não é mais uma possibilidade, é concreto. É um movimento que não pode parar.”
A parceria entre as duas instituições começou há três anos, com foco em pesquisas sobre a cadeia do biogás. O objetivo é qualificar e avaliar a produção, com enfoque nos tipos de matéria-prima, na qualidade do biogás, no desenvolvimento de novos equipamentos, na melhoria dos processos. O resultado das pesquisas geram informes técnicos que a Embrapa publica no site e serve como orientação aos produtores de biogás do País.
De acordo com o superintendente de Energias Renováveis de Itaipu, Herlon Goelzer de Almeida, a chancela da Embrapa aos estudos realizados pela Itaipu pode fomentar políticas públicas e créditos agrícolas aos produtores de biogás. “Os trabalhos que fazemos têm um enorme valor, mas ele só adquire validação para recomendação técnica a partir dos boletins técnicos emitidos pela Embrapa”, explicou. “A partir disso, é possível conseguir empréstimo no banco, por exemplo. Esta é uma contribuição que a Itaipu e a Embrapa estão dando para agricultura brasileira."
Para o diretor de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Waldyr Stumpf, o desenvolvimento do biogás depende do investimento na pesquisa e Itaipu tem sido pioneira nesta área. “Sem pesquisa fica na tentativa e erro, o processo fica caro e demorado e as empresas desistem de produzir”, afirmou. “Em relação à matéria-prima, por exemplo, temos diferenças muito grandes no Brasil, como clima, solos, sistemas de produção. Temos que fazer adaptações para cada região para desenvolver produtos de qualidade."
A Rede Biogasfert é mantida por Itaipu e Embrapa Suínos e Aves, que tem sede em Concórdia-SC. A Divisão de Imprensa de Itaipu conversou com o chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz. Confira abaixo a entrevista.
Divisão de Imprensa: Qual é o potencial do biogás e do biometano no Brasil?
Airton Kunz: É enorme, considerando os tipos de resíduos que nós temos. O Brasil, por estar em uma região tropical, tem uma quantidade e uma variabilidade de resíduos que nos dá uma competitividade gigantesca em comparação a outros países. Isso nos permite trabalhar em condições para geração de biogás com resíduos ou não, como acontece nos países da Europa que trabalham com culturas energéticas. Lá eles produzem culturas que podem ser utilizadas no sistema de biodigestão.
Então o senhor acredita que o caminho do Brasil não é promover culturas energéticas, mas trabalhar com os resíduos dos cultivos convencionais?
Eu acredito que a gente até pode evoluir para o uso das culturas energéticas, mas temos um passo anterior que é aproveitar os resíduos que já temos no País e não evoluir direto para estas culturas energéticas. Por sinal, tem acontecido um processo interessante na Europa: o incentivo para utilizar cada vez mais, no processo de fabricação de biogás, os substratos provenientes dos resíduos que podem ser industriais ou agrícolas.
Para não perder áreas para produção de alimentos?
Exatamente. De tempos em tempos suscitam alguns conflitos no mundo sobre a geração de energia e a produção de alimentos. Então esta linha fica tênue e gera algumas fragilidades, principalmente, para os processos de geração de energia para o biogás.
E como estão as pesquisas sobre os resíduos no Brasil?
A gente tem evoluído muito nos últimos anos com relação à cadeia do biogás, com o estabelecimento de marcos legais, tanto por parte da Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] quanto por parte da ANP [Associação Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis], com a criação de associações de biogás no Brasil, com a consolidação de redes de pesquisa envolvendo a cadeia do biogás. Hoje, temos a participação sólida das universidades, da Embrapa, de Itaipu e isso tem contribuído muito com o desenvolvimento do biogás. Nós precisamos de conhecimento científico, de arranjos tecnológicos e do desenvolvimento de tecnologias que podem ser aplicadas na cadeia do biogás. O Brasil precisa disso: a tropicalização dos processos para a realidade brasileira. E nossa rede de pesquisas tem procurado fazer isso nos últimos anos.
Qual é o papel da Itaipu e da Embrapa nestas pesquisas?
A Itaipu tem um papel estratégico nisso tudo. Como uma grande geradora de energia, o fato de Itaipu se interessar por outras matrizes energéticas, que não seja só a hidrelétrica, mexe muito com o mercado, cria oportunidades e interesses de outras áreas que nós da Embrapa não conseguiríamos atingir. Vejo a participação de Itaipu como algo estratégico para a cadeia não só do biogás, mas da bioenergia como um todo. E a parceria com a Embrapa é importante pela experiência que a empresa acumulou nos últimos anos e por sua vocação na área da agricultura.
O que está sendo discutido aqui pode virar informes técnicos e ajudar os agricultores do País inteiro. Como isso acontece?
Estes estudos têm gerado resultados, eles são publicados. Nós temos uma rede, a Biogasfert, que tem uma página na internet para trazer informações dos resultados desta pesquisa. E na agenda de hoje [quinta-feira, 6], nós queremos condensar todas estas informações que foram geradas e fazer uma reflexão sobre o que temos e para onde devemos caminhar em nossas pesquisas. E como transferir a tecnologia para quem de fato é o potencial usuário destas tecnologias do biogás.
O senhor destacaria alguma das apresentações?
Tem vários destaques. A questão envolvendo caracterização de substratos, por exemplo: nós temos um estudo bem importante, já de três anos, de caracterização e potencial de geração de biogás de cada substrato. Também tem estudos dos processos de biodigestão, ou seja, qual o tipo de biodigestor adequado para um tipo de resíduo especifico, porque a característica do resíduo vai dizer qual tipo de biodigestor eu tenho que usar. Os processos de purificação e uso do biometano produzido. E a implicação que isso tem sobre a mitigação dos gases do efeito estufa. Porque a questão da bioenergia permeia múltiplos campos e um tema importante que a bioenergia se insere é a mitigação dos gases estufa. O Brasil assumiu metas de redução de gases estufa bastante ambiciosas, e isso foi recentemente ratificado pela conferência das partes (COP) de Paris. Nós temos uma oportunidade de contribuir com a cadeia do biogás, de reduzir a emissão dos gases do efeito estufa.
A Itaipu
Com 20 unidades geradoras e 14.000 MW de potência instalada, a Itaipu Binacional é líder mundial na geração de energia limpa e renovável, tendo produzido, desde 1984, mais de 2,37 bilhões de MWh. A hidrelétrica é responsável pelo abastecimento de cerca de 15% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 75 % do Paraguai. Desde 2003, Itaipu tem como missão empresarial “gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A empresa tem ainda como visão de futuro chegar a 2020 como “a geradora de energia limpa e renovável com o melhor desempenho operativo e as melhores práticas de sustentabilidade do mundo, impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração regional”.