Fonte: Tribuna da Imprensa - Como se sabe, no olho do furacão tudo é tranquilidade. É em torno dele que se manifestam os ventos destrutivos, as tempestades furiosas, as ondas gigantescas. Pois bem, estou no Congresso Nacional e o que percebo é que a maioria dos parlamentares está no olho do furacão. Não é que não sintam os sinais da crise. É, sim, um problema de percepção de seu momento. Olham em volta e tudo parece calmo. Em algum momento haverá o estouro da boiada, mas não agora. O povo manipulado pela grande mídia ainda está anestesiado, dizem.
A explicação para esse comportamento está na velha Física, ou melhor, num ramo recente dela, a Teoria do Caos. Fenômenos caóticos, como os furacões, só são claramente percebidos quando vistos de uma perspectiva global. Os elementos particulares de um sistema caótico estão relacionados com os seus vizinhos, com os quais interagem diretamente, sem verem o todo. A característica do sistema é que ele é matematicamente imprevisível. Os elementos individuais não tem como escapar dos processos caóticos, exceto pela sorte.
Os indicadores relevantes de uma terrível crise socioeconômica são evidentes. O desemprego subiu velozmente de 12 para 14 milhões, o PIB do terceiro trimestre desabou 0,8%, arrastando a taxa anual para -4,4%, a receita tributária continua em queda, a inadimplência atinge níveis alarmantes. Obviamente, isso é a orla do furacão. Só quem está no olho dele pode supor o retardamento da crise sob o argumento de que o povo brasileiro, afinal, está muito desmobilizado, e qualquer mobilização só se dará por volta de fevereiro ou março, caso a economia não se recupere.
Esse é argumento é falacioso. A única iniciativa relevante no comando da economia é a PEC-55, que será votada no Senado depois da infame aprovação na Câmara. É a chamada PEC do Teto, que nós chamamos de PEC da Morte, por condenar à inanição, por 20 anos, o setor público e a própria economia privada. Não existe a menor possibilidade de que, no contexto dessa PEC, a economia se recupere. Aliás, ela não prevê nenhuma medida relevante para um período até 2018. Diante disso, mais cedo do que se pensa, a orla engolirá o olho do furacão.
Nos meus cálculos estamos caminhando para o desfecho da crise. Por incrível que pareça, acho que poderá haver uma saída benéfica. Henrique Meirelles, o embaixador do neoliberalismo no Brasil, errou na receita e na dose. Ele poderia propor, como fizeram Margareth Thatcher e Ronald Reagan, um processo de aprofundamento do programa de Estado mínimo aos poucos, de forma mais palatável e menos perceptível. Ele quis fazer de uma tacada, com uma profundidade selvagem, à revelia do povo.
Sabemos pelas leis do materialismo histórico que uma força aplicada num extremo provoca reação igual e oposta de outro lado. O que Temer não percebeu é que o povo brasileiro só não removeu ambos do poder por aparente falta de alternativa. Afinal, temos mesmo que ser mais responsáveis do que os que derrubaram Dilma sem por nada no lugar. Entretanto, há alternativa. Ela não se apóia no passado, embora isso ainda mobilize os românticos. Ela passa por alguém que saiba dirigir para a frente, com farol alto, recorrendo antes de tudo a um plano econômico de emergência para estancar e reverter a crise econômica.