Lançamento reuniu mais de 100 pessoas, nesta terça-feira (7). Com 72 páginas e tiragem de 3 mil exemplares, material une conhecimento acadêmico e resgate dos saberes tradicionais do campo.
Mesmo sem dispor de telas para sombreamento, a horta do produtor José Artemio Ames, de Entre Rios do Oeste (PR), tem resistido às altas temperaturas da estação e produzido itens como quiabo, feijão-de-vagem e até alface, sensíveis ao calor. Ele atribui o resultado à proteção do solo, feita com palha e folhas de compostagem.
“A cobertura dos canteiros diminui o calor do sol e o estresse das plantas", explica o produtor, que também adotou em sua propriedade a horta em formato de mandala e outros preceitos exibidos pela Vitrine Tecnológica de Agroecologia da Itaipu Binacional e parceiros, um espaço de 2.600 m² montado a cada edição do Show Rural Coopavel, em Cascavel.
Técnicas como as praticadas por Ames e muitas outras estão reunidas na Cartilha da Vitrine Tecnológica de Agroecologia 2017, lançada nesta terça-feira (7), no Show Rural. A produção é da Itaipu Binacional, por meio do Programa Cultivando Água Boa, e organizações parceiras.
O lançamento ocorreu no auditório do Salão Tecnológico Pecuário, com a presença do diretor de Coordenação de Itaipu, Nelton Friedrich. Mais de 100 participaram do evento, entre agricultores, técnicos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) e representantes de instituições parceiras, como Emater, Capa, Biolabore, Embrapa e Iapar.
"Conseguimos produzir alguma coisa em pleno verão e sem o sombrite [tela de proteção superior], que precisa de um maior investimento. Estamos contentes com isso”, celebra Ames, que também aguarda o seu exemplar da cartilha. "Quero tê-la em mãos para poder estudá-la", disse o produtor, que faz parte do público-alvo do material. Os 3 mil exemplares impressos devem ser distribuídos preferencialmente aos agricultores familiares, durante Visita à Vitrine Tecnológica de Agroecologia, no Show Rural.
Com 72 páginas, o dobro da primeira edição, a cartilha mostra como propriedades convencionais podem migrar para o sistema agroecológico – opção feita por Ames. Sua propriedade de 2,4 alqueires, o Sítio dos Ipês, está entre as quase 100 unidades certificadas como agroecológicas na Bacia do Paraná 3 (BP3). Outras 400 estão em processo de transição. A certificação tem o aval do Ministério da Agricultura.
"Cada produtor tem seu ritmo. Alguns levam pouco tempo na transição, outros mais", afirmou Ronaldo Pavlak, engenheiro agrônomo da Divisão de Ação Ambiental de Itaipu e coautor da cartilha. Marechal Cândido Rondon tem o maior índice de propriedades certificadas - cerca de 20% de toda a região.
"A agroecologia é uma filosofia de vida nossa”, disse Ames. “Não é por agregar valor ao nosso negócio, mas à nossa saúde e qualidade de vida, ao que está dentro da gente. Por isso seguimos esse caminho", concluiu.
Para Friedrich, a Vitrine Agroecológica é um marco carregado de significados na história do Programa Cultivando Água Boa e parceiros. "Ela representa a agricultura agroecológica e traduz um ganha-ganha. Ganha quem produz, consome e também o planeta", disse.
Do campo à academia, da universidade à lavoura
A cartilha demonstra como o conhecimento acadêmico pode ir a campo ao mesmo tempo em que resgata os saberes tradicionais, a partir de textos produzidos por 35 especialistas. São técnicos, mestres, doutores e pós-doutores de áreas como Economia, Biologia Celular, Agronomia, Zootecnia e Fitotecnia, entre outras.
Juntos, eles abordam temas conceituais, como os princípios da agroecologia - ciência baseada no manejo de agrossistemas sustentáveis – e questões práticas. Nessa parte, são tratados assuntos como manejo agroecológico de pragas e doenças, homeopatia, repelentes naturais, uso de armadilhas no combate a insetos e pragas, agrofloresta, olericultura como alternativa de renda para agricultura familiar ecológica, bioconstruções, cultivo de soja para sistemas de base ecológica e sistemas alternativos de irrigação. Quase todos aplicados na prática, na Vitrine Agroecológica do Show Rural.
"Ano a ano melhoramos a cartilha com base nas questões que recebemos. As indagações sobre o controle e equilíbrio de insetos apareceram muito em 2016, por isso foi um dos capítulos que aprimoramos nesta edição", disse Pavlak.
O assunto interessou o agricultor Vadis Racan, presente no lançamento da cartilha no Show Rural. "Tem muita coisa sobre insetos e controle de pragas que gostaria de saber.” Presidente da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Matelândia, Racan tem adotado práticas de agroecologia em sua propriedade, como substituição de ração industrializada por forragem. "Acho que a cartilha pode ajudar".
A produtora Noeli Maria Bautitz Goersch também levou para casa o livreto. Ela espera aprender novas técnicas para reduzir mais o uso de agrotóxicos em seu recanto, em Matelândia. "Neste ano, usamos veneno só uma vez, no cultivo do milho. Na aveia nem precisou.”
O conteúdo apresenta, ainda, detalhes sobre o cultivo de plantas alimentares não convencionais (PANC), como ora-pro-nóbis, vinagreira, peixinho e taioba, entre outras. O visitante que passar pelo Show Rural pode conferir essas espécies na Vitrine Agroecológica.
Serviço
Vitrine Tecnológica de Agroecologia 2017 "Vilson Nilson Redel"
Onde: Show Rural Coopavel
Data: Até 10 de fevereiro
Local: Setor de Organizações e Instituções, Avenida E, ao lado do Mirante
Horário de funcionamento: das 8h às 18h
Acesso: Entrada Franca
A Itaipu
Com 20 unidades geradoras e 14.000 MW de potência instalada, a Itaipu Binacional é líder mundial na geração de energia limpa e renovável, tendo produzido, desde 1984, mais de 2,4 bilhões de MWh. Em 2016, a usina retomou a liderança mundial em geração de energia, com a marca de 103.098.366 MWh gerados. A hidrelétrica é responsável pelo abastecimento de cerca de 15% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 75 % do Paraguai. Desde 2003, Itaipu tem como missão empresarial “gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. A empresa tem ainda como visão de futuro chegar a 2020 como “a geradora de energia limpa e renovável com o melhor desempenho operativo e as melhores práticas de sustentabilidade do mundo, impulsionando o desenvolvimento sustentável e a integração regional”.