Produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, estudo aponta que o Paraná foi o estado que mais regenerou o bioma nos últimos 30 anos.
Fotos: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional.- O Paraná foi o estado que mais contribuiu para a restauração da Mata Atlântica no Brasil, com 75.612 hectares (ha) regenerados nos últimos 30 anos (mais precisamente, entre 1985 e 2015). E 28% dessa área (ou 20.957 ha) correspondem às ações da Itaipu Binacional na margem brasileira do reservatório. É o que aponta o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Ainda de acordo com o estudo, dos 10 municípios paranaenses que mais contribuíram para essa regeneração, sete estão na área de influência do reservatório da usina, sendo que quatro deles lideram o ranking: Santa Helena, com uma recuperação de 6.682 ha, São Miguel do Iguaçu (3.887 ha), Foz do Iguaçu (2.948 ha) e Itaipulândia (2.948 ha). Guaíra aparece na sexta posição (1.614 ha), Missal na nona (1.480 ha) e Marechal Cândido Rondon na décima (1.320 ha).
“A contribuição da Itaipu é enorme”, afirma a diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota. “É um projeto grandioso, em uma área em que não existia floresta e hoje constitui um corredor que não só preserva a mata, mas contribui para a manutenção da biodiversidade”.
Grande parte da contribuição de Itaipu se deu entre os anos de 1985 e 2000, com a formação da faixa de proteção do reservatório. Nesse período, a usina participou com 26% da regeneração do bioma, ou 19.648 ha, enquanto 60.477 ha foram recuperados no restante do Estado. Para constituir essa faixa verde em torno do reservatório, somente na margem brasileira, Itaipu plantou mais de 23 milhões de árvores.
"Para nós é um imenso orgulho ver o destaque que o Atlas dá à faixa de proteção e aos refúgios Bela Vista, Santa Helena e Maracaju. Esse trabalho se iniciou ainda em 1979, com a demarcação da faixa e os primeiros plantios, seguido de várias fases de restauração ecológica ao longo de quase 40 anos”, conta a engenheira florestal Veridiana Alves da Costa Pereira, da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu.
O conhecimento acumulado nesse período vem servindo de base para a recuperação das matas ciliares dos rios tributários do reservatório, a partir da implantação do programa Cultivando Água Boa, em 2003. O programa, executado em parceria com 29 municípios da região, estendeu as ações ambientais da Itaipu para a bacia hidrográfica do Rio Paraná Parte 3 (área abrangida pelos rios conectados com o lago).
Nessa região, uma das principais ações em andamento é o plantio de árvores para a recuperação da mata ciliar em torno de nascentes e curso dos rios. Nessas microbacias hidrográficas, outros 2 milhões de mudas produzidas no viveiro florestal do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), da Itaipu, foram plantadas desde 2003. Segundo os dados do Atlas, de 2000 a 2015, a regeneração do bioma no restante do Paraná foi de 15.135 ha enquanto na área da Itaipu o montante foi de 1.308 ha.
Também contribuiu para esse resultado a criação do Corredor Ecológico Santa Maria, uma faixa de mata de aproximadamente 12 quilômetros de extensão, ligando a faixa de proteção do reservatório ao Parque Nacional do Iguaçu, passando pela RPPN da Fazenda Santa Maria, que dá nome ao corredor. A ligação permite uma conexão entre duas das principais unidades de conservação brasileiras: o PNI, ao Sul, e o Parque Nacional da Ilha Grande, ao Norte do lago de Itaipu.
“É muito importante observar que, no Atlas,a gente vê de cima uma fisionomia florestal, que é um excelente indicador. Agora, o que tem dentro desta floresta é importantíssimo. Hoje quando entramos nas nossas áreas, vemos espécies de plantas que nasceram e que não plantamos, mas, sim, foram trazidas pela fauna que regressa a essas áreas. Esta será a floresta do futuro”, explica Veridiana.
Segundo ela, esse fator representa um grande potencial para a perpetuação da floresta e conservação da biodiversidade regional. “Para entender melhor essas relações, estamos avançando no inventário florestal nas áreas protegidas”, acrescenta.
Alerta
Apesar dos indicadores positivos apresentados pelo Atlas, o Paraná também foi o campeão de desmatamento da Mata Atlântica nesses 30 anos, dada a pressão exercida pelo agronegócio e pela indústria da madeira. “Temos grande desafios para deter o desmatamento e chegar ao desmatamento zero no Paraná. Atualmente, sete dos 17 estados que abrigam a Mata Atlântica já atingiram esse nível”, informa Márcia Hirota.
Para atingir o status do desmatamento zero é necessário que a perda do bioma seja inferior a 1 quilômetro quadrado (100 hectares), no período de um ano. De 2013 para 2014, o desmatamento da Mata Atlântica no Paraná foi de 9,21 km2, número que passou para 19,88 km2 na avaliação seguinte, de 2014 para 2015. Ou seja, mais do que dobrou na última avaliação. No próximo mês de maio, a Fundação SOS Mata Atlântica deverá divulgar novo levantamento.
Crédito do mapa e imagens de satélite: Fundação SOS Mata Atlântica e INPE.
Foto aérea do Refúgio Biológico Bela Vista e faixa de proteção do reservatório da Itaipu. Crédito: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional.