A nossa entrevista de hoje é com a Sãomiguelense Camila Smiderle Pedrollo, 37 anos, enfermeira e que, há um ano se descobriu como ciclista. Atualmente Camila está morando no México, mais precisamente na cidade de Metepec, na região metropolitana de Toluca. Cidade conhecida pela variedade e pela qualidade das lojas de artesanato de barro e cerâmica.
Recentemente participou da sua primeira competição de Ciclismo de Montanha. E ao compartilhar a sua estreia nas redes sociais com os amigos, deixou extravasar o seu amor por esse esporte, bem como, com as subidas e descidas da natureza nas montanhas. “Ali entre tanta coisa natural, é como se só existisse você e a sua bicicleta. É a onde você se desconecta de tudo e se conecta com você mesmo, apenas. Uma sensação maravilhosa” confidencia Camila. Nesse embalo, batemos um papo que se transformou nessa entrevista, onde ela nos fala por que mudou para o México há nove anos e, também sobre a ótima visão que se tinha do Brasil naquela época. “E de repente, tudo isso se desmoronou...” confira:
Jornal: Quem é a Camila, mãe, atleta e sonhadora?
Camila - Boa pergunta João! Quem sou eu (risada)? Diria que hoje eu sou a enfermeira que se descobriu ciclista aos 36 anos, mãe de uma menina linda de seis anos, casada. Considero-me uma pessoa simples, muito sonhadora, acho que essa parte herdei do meu pai. Sempre tento dar o meu melhor em tudo, questionando e tentando com meu pouquinho melhorar o mundo, as relações e principalmente tentando sossegar e acalmar um coração tão inquieto. Tenho sempre a sensação de que poderia ter feito melhor, que poderia ter me empenhado mais, assim sou eu... como diz a minha mãe: "você é uma alma inquieta", talvez seja uma alma antiga por isso! Já andei lendo sobre isso e me encaixo perfeitamente! Haha..
Jornal – O que a levou a morar fora do Brasil?
Camila – O que me trouxe para o México foi o trabalho do meu esposo. Era para ser só dois anos de expatriação. Apaixonamo-nos tanto pelo México, fomos tão bem recebidos por essa gente que se parece tanto com os brasileiros, que fomos ficando. Meu esposo já está em uma empresa local, há nove anos. O México tem todas as belezas que você possa imaginar, tem vulcão, tem floresta, tem praia, tem deserto, tem neve, tem canyon, tem sítios arqueológicos. Um país encantador, com muita história e diversidades.
Qual a tua visão do Brasil hoje, vivendo no exterior?
Camila – Já tem nove anos que cheguei ao México. Eu não imaginava como o nosso país era tão querido, e como naquela época estávamos super bem em todos os aspectos, politico, econômico, melhorando socialmente, melhorando na saúde pública – aqui fora o Brasil estava dando exemplo!!! E de repente o tempo vai passando e você se da conta que aquilo tudo desmoronou e que na verdade era um castelo de papelão, uma faixada apenas. Sinto a situação muito complicada, e muitas vezes querendo voltar a viver no meu país e não vejo como, me sinto um pouco sem chão as vezes. Mas, ainda acredito nas pessoas. Acho que o Brasil vai sair dessa crise, vai melhorar. Acredito que o país está se transformando, não existe caos que dure para sempre, Não sei se você já leu algo sobre transição planetária, eu acredito muito nisso, tudo e todos estamos passando por uma transformação!!!
Jornal – Se você fosse eleger hoje uma mulher como exemplo para a humanidade, quem seria essa Luz?
Camila – Bah! Poderia te responder que tantas... entre elas Madre Tereza, Irmã Dulce, Florence Nightingale, Joana D'Arc, Cleópatra, Anita Garibaldi, Princesa Isabel... mas não, essa luz seria minha mãe, pra mim um exemplo de vida. Nunca na minha vida conheci uma mulher tão sorridente como ela. Eu digo sorridente sempre, diante de tudo. Nunca escutei a minha mãe reclamar de nada! Acho que o otimismo e a alegria dela são contagiantes. É luz para a humanidade. Você não acha?
Jornal – Religião, com a qual se identifica?
Camila - Sou católica, não muito praticante confesso, mas ultimamente ando muito inclinada a se aprofundar no conhecimento sobre espiritualidade - vejo que conhecer os verdadeiros ensinamentos de Cristo, tem me chamado muito mais a atenção e de alguma maneira me conforta trazendo harmonia e paz interior muito mais intensa.
Jornal – Qual o melhor livro que já leu até hoje?
Camila - Um livro? Que difícil, gosto de muitos... mas o livro "Assim falou Zaratustra" me coloca pra pensar mais do que eu já penso. Nietzsche me fascina, me identifico com ele muitas vezes. A filosofia foi herança do meu pai, ele que me ensinou a amar esse universo e a ser um ser pensante! Como o livro mesmo diz: "um livro para todos e para ninguém", Estou lendo-o pela terceira vez, pra ver se consigo interpretar melhor.
Jornal – Qual o filme que mais marcou a sua vida?
Camila - Um filme só? Sacanagem! Sem dúvida: Sociedade dos Poetas Mortos, nossa Carpe Diem sempre, sempre, sempre! A vida é uma faísca... um nada. Vai pelas suas mãos num piscar de olhos, num sopro leve do vento!
Jornal – Qual a sua próxima competição e qual o seu sonho dentro do Esporte?
Camila - Minha próxima competição será dia 15 de Julho em um Povoado que se chama Xicotepec, no estado De Puebla. Será um Bike Marathon de 50 km (Xicote Bike). Competição de MTB, montanha é o que eu gosto. Ali, entre tanta coisa natural, só existe você e a bicicleta, a gente se desconecta de tudo e se conecta com você mesmo, apenas. Uma sensação maravilhosa. É quando você consegue ultrapassar seus limites e se sente tão forte, tão bem que dá a impressão de que, nada é impossível - que você é capaz! Meu sonho!!! Participar de uma competição Nacional, para mim já está de bom tamanho. Mas, sonhar nunca é demais não é mesmo???? E numa dessas quem sabe a participação numa Olimpíada. A idade acredito que não seja obstáculo. Tenho visto que as mulheres já maiores, mães, são as que têm se destacado no ciclismo ultimamente. Dizem que as atletas mães têm o seu limiar de dor e resistência aumentados, talvez isso justifique essa teoria!