Na madrugada de terça para quarta-feira (28), como de costume, acordei por volta das 04h00 da madrugada. Aliás, esse é o meu horário favorito. Nesse dia, porém, fui surpreendido por um barulho estranho como se fosse de algo que descarregava potência em sequência há poucos metros de distância – parecia vir da esquina da Rua Vânio Ghellere com a Farroupilha – próximo ao Banco do Brasil.
Como vivemos em tempo de violência desenfreada com assaltos e explosões em Caixas Eletrônicos, imediatamente pensei em ligar no 190 e denunciar um possível assalto – mas, logo em seguida notei que se tratava do pessoal que estava fazendo as pinturas das Ruas da cidade. Era a empresa SINALPAR SINALIZAÇÕES com seus funcionários varrendo, limpando e jogando tinta nas ruas para delimitar os espaços.
Quanto tempo essa pintura vai durar, não podemos precisar. Dizem que o período para que a pintura se mantenha visível é de seis meses a um ano, segundo o Diretor responsável pela empresa. No total, nos informou que serão pintados 3500 metros de faixas. “Todo o trabalho de medição conta com o acompanhamento da fiscalização do município", nos adiantou.
O fato é que, podemos afirmar que as Ruas da nossa cidade estão mais bonitas com esse trabalho de pintura que vem sendo realizado. Como é fato também que momentaneamente essa mudança no visual, termina influenciando na vida das pessoas e renovando as esperanças de que algo de novo possa vir a acontecer.
O Escritor francês Balzac, por exemplo, referindo-se as Ruas onde morava, dizia que “as ruas de Paris nos dão impressões humanas com vida e destinos muito parecidas com as dos homens”.
Ele falava das ruas da sua cidade praticamente com as mesmas observações agudas e psicológicas como se estivesse penetrando de maneira ampla e generosa na alma feminina como fez em um dos seus títulos mais conhecido – “A mulher de trinta anos”.
E o que tem a ver Balzac com a pintura das Ruas da nossa cidade?
Ao ver o dia amanhecendo e a cidade com as suas principais ruas pintadas como se estivesse sendo decoradas para um grande desfile, foi que me lembrei desta filosofia balzaquiana. Aliás, recentemente a Sãomiguelense Tatiane Amboni, flagrada desfilando pela Rua Castro Alves com as suas duas filhas disparou: essa pérola: “vivi minha infância aqui, como não amar”
Balzac, um dos gênios da nossa literatura, defende que no espírito humano a rua chega a ser uma imagem que se liga a todos os sentimentos e serve para todas as comparações.
Aliás, não vamos longe, basta percorrermos a poesia, principalmente aquela anônima, onde o poeta totalmente extasiado pela beleza da obra esqueceu-se de assinar para constatarmos essa flagrante verdade. “É quase sempre na rua que se fala mal do próximo – principalmente quando o próximo não está tão próximo para ouvir e ponderar.”
Hoje pela manhã, por exemplo, andando pela Rua me deparei com o advogado Dr. Adalgir Carlos Comunello, confabulando com o seu amigo e serventuário da Justiça Arlei Costa, e ainda com a história da pintura das Ruas na memória, me lembrei deste fado que de certa forma também retrata essa alma humana que existe nas Ruas, cantada em prosa e verso pelo poeta:
Adeus, ó Rua Direita
Ó Rua da Murmuração.
Onde se faz audiência
Sem juiz nem escrivão.
Aliás, muito tímida, como devendo ser cantada por quem tem culpa no cartório. Mas, se um apaixonado quer descrever o seu peito, só encontra uma comparação perfeita com essa outra pérola que também fala da alma, do sentimento humano que envolve as nossas ruas.
O meu peito é uma rua
Onde o meu bem nunca passa,
É a rua da amargura
Onde passeia a desgraça.
Com esse texto, quero parabenizar a empresa que ganhou essa licitação para marcar com tintas espaços e limitações das nossas Ruas. Mesmo que seja por pouco dias, o fato é que não só as Ruas centrais como a Farroupilha e a Castro Alves que no passado já mereceram uma atenção especial por parte do poder público, as outras também estão dando um aspecto de cidade grande.
Quanto ao valor, do que se está pagando por essa contratação trabalho, prometemos voltar em outra matéria, tendo em vista que já estamos levantando o valor que os municípios da região estão pagando por obras semelhantes.
Infelizmente, esses votos de parabéns que estamos endereçando a empresa SINALPAR SINALIZAÇÕES que está executando o trabalho, não podem ser endereçados ao Executivo Municipal.
O débito que essa Desadministração tem para com o nosso município é muito maior do que se possa imaginar. Vou parar por aqui nessa matéria para não misturar “alhos com bugalhos” – mesmo por que, o objetivo aqui foi realmente relatar uma constatação – a reação do espírito humano diante de coisas novas que dão brilho, cor e vida ao que diz respeito ao dia a dia das pessoas.