A nossa entrevistada de hoje é a professora Mayara Seibert, formada em Letras (Português e Inglês e Pós Graduada em Educação Especial inclusiva – com ênfase em deficiência intelectual), atualmente lecionando no CMEI – Maria Vaz Meister de Cascavel. Nessa entrevista ela aborda a Educação Especial e Inclusiva e esse novo desafio escolar: MICROCEFALIA. “Os últimos dados do Ministério da Saúde nos mostra que já tivemos desde o mês de maio a confirmação de 322 casos de microcefalia ou outras alterações de crescimento e desenvolvimento relacionadas ao vírus da zika. Ao todo já são mais de 2.750 casos confirmados”, relata. Veja a entrevista.
Jornal – Você é uma pessoa jovem, recém-formada – por que escolheu a profissão de Professora, que até certo ponto, vemos que é pouco valorizada em nosso país?
Mayara - Venho de família humilde e desde pequena convivi quase que diariamente com fatos que me chamava à atenção. Acredito que tenha sido isto que me moveu a abraçar o magistério como uma espécie de missão. Eu sou uma sonhadora e defendo a ideia de que só vamos conseguir mudar não só esse país como também o mundo através da Educação. Uma educação gratuita e de boa qualidade, de preferência em período integral, a exemplo do que fazem as nações desenvolvidas, no meu ponto de vista é o caminho que os nossos governantes deveria seguir. Para mim, o que se gasta com Educação não é despesa, mas sim, investimento. Um povo culto e bem nutrido faz toda a diferença. E quando falo de culto e bem nutrido, estou falando de corpo, mente e espírito – uma educação por inteiro, que passa pelo respeito ao Pai e a Mãe em casa e se estende para todos os demais setores. Eu venho de um lar onde ainda se dá benção aos tios, aos avós e se diz sempre muito obrigado, dá licença, faz favor, coisas assim... isso para mim é Educação.
Jornal – Por que a escolha pela Educação Especial e Inclusiva?
Mayara – Essa escolha foi natural. A visão ficou mais apurada no segundo grau, quando a gente já tem uma melhor noção das coisas. E estou muito feliz por poder refletir sobre a importância da educação especial nas crianças desde os seus primeiros anos de vida, respeitando é claro, os seus aspectos intelectual, cognitivo e social. Quando conseguimos envolver o seu grupo familiar, num trabalho conjunto com a comunidade o que vemos é que esse aluno se sente muito mais preparado para a sociedade.
Jornal – Por que a escolha por esse tema envolvendo a Microcefalia?
Mayara – Esse foi o tema que escolhi, tendo em vista a sua importância no contexto atual e mesmo porque, para a convalidação de competências, para obtenção do certificado de Especialização Lato Sensu, do curso de Educação Inclusiva – com ênfase na Deficiência Intelectual, eu tinha que escolher um tema. Tanto é verdade que os últimos dados do Ministério da Saúde nos mostra que já tivemos desde o mês de maio deste ano a confirmação de 322 casos de microcefalia ou outras alterações de crescimento e desenvolvimento relacionadas ao vírus da zika. Ao todo já são mais de 2.750 casos confirmados.
Jornal – Teve alguma referência para escolher esse assunto como tese?
Mayara – Sim. Escolhi como tese a analise desse assunto, tendo como referência um aluno com microcefalia, sendo o único caso de Microcefalia causado pelo Zica Vírus no Estado do Paraná. Este aluno esta inserido na Rede Pública Municipal de Ensino de Cascavel, cujo aporte teórico está fundamentado no Currículo Para Rede Pública Municipal de Ensino de Cascavel – Educação Infantil, o qual direciona o trabalho para o desenvolvimento da aprendizagem de pessoa com deficiência.
Jornal – Um tema de grande relevância então?
Mayra – Sim, de grande relevância para a prática do professor, tendo em vista a necessidade da pesquisa e estudo sobre o caso de crianças que nasceram com microcefalia. Por ser um caso novo e único às professoras buscam estimular o aluno oportunizando de diferentes encaminhamentos adaptando-os para o mesmo. Nesse sentido a abordagem metodológica da pesquisa é qualitativa, pois apresenta métodos usados pelos professores durante a prática pedagógica, e a realidade escolar no atendimento de alunos com microcefalia.
Jornal – Pelo o que pude notar no seu artigo foi que a perspectiva foi lançar um novo olhar para a educação especial e inclusiva envolvendo docentes e educandos?
Mayara - Veja que eu procuro induzir a sociedade pensar mais sobre esse assunto, a refletir qual o verdadeiro sentido de ensinar e trabalhar a respeito da inclusão de crianças com microcefalia no ensino regular, atendendo assim as suas especificidades, tendo em vista que houve um tempo em que às pessoas com deficiência eram assistidos como: inválido, incapaz e doente crônico. Isso não é verdade e, no entanto mesmo com a evolução social, se faz necessário uma mobilização de um novo ponto de vista, tendo em vista que ainda nos deparamos com o descaso de pais, comunidade e autoridades.
Jornal – Quando foi que a Escola, as autoridades governamentais passaram a se preocupar mais com esse tema inclusão?
Mayara - A luta pela valorização e reconhecimento das pessoas com deficiência se tornou mais intensa a partir do final da guerra Americana da Independência, em 1783, quando Benjamim Rush um médico conceituado, foi um dos primeiros norte-americanos a defender o conceito da educação de pessoas com deficiência. Em 1920, o pedagogo Vygostky, faz uma crítica sobre esta pedagogia dita especial, que no seu ponto de vista era arcaica e caduca, destinada aos fracos, defendendo uma nova escola especial que deveria oferecer uma escola auxiliar forte para os considerados fracos. Na sua visão a inclusão de crianças com deficiências na escola pressupõe que professor, família e toda a comunidade escolar estejam unidos em um único proposito garantindo que todos os alunos participem das atividades escolares de forma igualitária.
Jornal – Quando que esse trabalho se iniciou efetivamente no Brasil?
Mayara - Desde os anos 80 a Educação Especial e inclusiva, passou a ser vista com outros olhos no Brasil, com isso surgem vários documentos pautados e pensados na perspectiva inclusiva que propõem mudanças com relação à universalidade de atendimento, conforme nos apresenta o Ministério da Educação, com a Constituição Federal de 1988 - Educação Especial e outras iniciativas que estão em vigor em prol à educação. A primeira APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), foi criada no ano de 1954 no Rio de Janeiro; em Cascavel no ano de 1970, onde a Instituição propunha a reabilitação e adaptação da criança com o meio, com o compromisso de trabalhar as necessidades da criança.