Antes de falarmos sobre a vida e a obra deste guerreiro que acaba de partir para outro plano, quero ressaltar o espírito de grandeza da Dra. Juliana Cunha Oliveira Domingues, Juíza Diretora do Fórum de São Miguel do Iguaçu que permitiu que o seu velório fosse feito no espaço que em vida ele usou para exercer a sua profissão com honra e dignidade - o Tribunal do Júri.
Por dezenas de vezes, Dr. Adalgir adentrou a nossa redação com a aquela sua aparência frágil - mas que na verdade era movido interiormente com uma força abrasadora. Numa certa ocasião, logo após ele ter conseguido absolver um cliente no Tribunal do Juri, eu lhe disse: “Nessa o senhor novamente tirou leite de pedra – confesso que estava convicto de que dificilmente iria conseguir absolver o réu. Como o senhor se sente, conseguindo absolver alguém sem ter 100% de convicção de que a pessoa é inocente ou não?”.
“Com o sentimento do dever cumprido. A minha missão é dar o melhor de mim para defender o meu cliente. Todos nós podemos ter em algum momento da nossa vida um ato falho – mas, muito mais do que o fato criminoso em si, o que eu procuro defender é o ser humano”, me disse ele.
Esse era o espírito, a essência do Dr. Adalgir Carlos Comunello, Cidadão Honorário de São Miguel do Iguaçu, advogado criminalista, Pai de Família honrado e zeloso, natural de Nova Araça – RS, onde nasceu no dia 12 de outubro de 1934 e na década de 70, escolheu São Miguel do Iguaçu para morar e fazer história. História sim! Ainda vamos falar muito dele, um ser humano que fez da sua profissão um sacerdócio.
OBRAS
Além da sua esposa Ana Edite, com quem teve três filhas: Maria Angélica, Daniela, Fabiana e quatro netos – que ele considerava a mais honrosa obra de sua vida – a sua FAMÍLIA - deixa também, duas obras literárias (livros) que retratam o seu trabalho como advogado criminalista. Cito aqui a sua Família como uma das suas principais obra, por que sempre que tinha a oportunidade ele deixava transparecer o seu orgulho – o amor e o carinho por essa nobre e mais antiga instituição da humanidade.
“Eu Defendo”, livro lançado em 1999, é um trabalho onde relata todo o rito processual e as suas estratégias de defesa no Tribunal do Júri. “Esse livro é em Memória de meus saudosos pais, Maurício Comunello e Ida Zuchetti Comunello, cujos exemplos de vida me orientaram e que ainda os mantenho”, descreve.
Convidado para prefaciar essa sua primeira obra literária, Dr. Ijair Vamerlati, revela que foi tomado por um sentimento hibrido, um lado de satisfação, outro de surpresa. “Ainda muito jovem conheci o Dr. Adalgir Carlos Comunello, quando este iniciava a sua triunfante carreira de advocacia neste município, então Comarca de Foz do Iguaçu. Desde o início se destacou como um árduo defensor do direito de liberdade do ser humano”.
Em seu prefácio, lembra que esta obra demonstra a triunfante caminhada do autor no mundo do direito, onde revela toda a sua dedicação, estudo e conhecimento da matéria abordada. “Trata-se, na verdade, de uma obra muito importante para todos aqueles que de alguma forma labutam com as coisas do direito ou não, com espaço absolutamente garantido em qualquer biblioteca”.
Seu segundo livro “A Defesa tem a PALAVRA”, lançado em 2014, é prefaciado pela sua filha Fabiana Adalgisa Comunello, onde lembra que o seu pai trilhou um caminho de brilhantismo em sua profissão, inspirando muitos advogados a seguirem os seus passos.
Lembra Fabiana que ao atuar junto às camadas mais pobres, exerceu importante função social, ajudando a reduzir as desigualdades, proporcionando a todos, sem distinção, o direito de defesa. “Defesa esta que sempre fez questão de buscar com voracidade, demonstrando sua paixão pela advocacia criminal, enfatizando que tudo tem dois lados e mostrando o lado do acusado com veemência”.
No seu ponto de vista, a chave da sua grandeza como advogado está em como serviu sua profissão com PAIXÃO, abrindo mão de muitos sonhos para deixar a sua marca: defender o seu cliente como se estivesse defendendo seu próprio filho.
“Sua lição de vida se resume no Evangelho de Mateus 6,21: Não ajuntais tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem e onde os ladrões minam e roubam. Mas, ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça, nem a ferrugem consomem, e, onde os ladrões não minam e nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”, pontifica Fabiana.
Descance em Paz meu Amigo de Fé, Irmão Camarada.