E o que a razão e o coração dizem tratando-se de jornalismo?
É mais ou menos o que já dizia a Rainha Vitória: “nunca se deve encobrir do público circunstância alguma qualquer que seja os inconvenientes da sua divulgação”.
No próximo dia 18 de dezembro, o Legislativo Municipal estará realizando a eleição para escolher o nome de quem vai presidir a Casa nos próximos dois anos. Ontem (29), estivemos visitando o atual presidente, Eliseo Mariano Presa. Formado em Educação Física, há 24 anos exerce a profissão de professor e não esconde de ninguém o seu amor pela profissão, tanto é que, prefere ser chamado de Vereador, Professor Presa.
Eleito vereador pela primeira vez com uma expressiva votação, mesmo sendo marinheiro de primeira viagem, conseguiu unir em torno de si a maioria, se elegendo presidente da Câmara. Ao ser perguntado, se é candidato à reeleição, não descartou essa possibilidade, muito embora saindo pela tangente: “Ainda não conversamos a respeito”, repetindo o velho chavão de que em política, “tudo muda do dia para a noite de acordo com o sabor dos ventos”.
Ou seja, ao contrário do que muitos afirmam, pelo visto, pegou gosto pelo poder e, mesmo sem muito esforço, tudo pode acontecer até o dia 18. “É possível que possamos ter um retrocesso dia 18?”, lhe perguntei - e sem mudar a feição do rosto, fez de conta que não entendeu a pergunta, desconversou e voltou a afirmar: “nossa gestão nesses dois anos foi marcada pela transparência. Em 2017 dos valores que nos foram repassados devolvemos ao Executivo, R$ 1.800.000,00 para ser aplicado em favor da população. E, o mais importante, sem barganhar ou forçar nenhum tipo de situação”, nos disse, salientando a importância da interdependência dos poderes. “Esse ano deveremos devolver a mesma quantia ou mais – só estamos gastando o estritamente necessário”, ponderou.
Em seguida, deu uma silenciada como se estivesse pensando com mais profundidade, para dizer – “a política, ou melhor, ser presidente de uma Câmara de Vereadores não deixa de ser uma experiência muito gratificante – mas, por melhor intenção que possamos ter, temos que seguir um ritual que faz parte da legislação”, deixando claro que num regime democrático, muitas vezes só a vontade de fazer, não resolve, tem que se ter a maioria.
Como jornalista, não posso deixar de lhe perguntar sobre o caso de maior repercussão na cidade nesses dois anos que foi a apreensão do carro da Câmara no “suposto envolvimento do mesmo na morte do advogado Damião, em Medianeira – “desde o primeiro momento com relação a esse caso, eu descartei totalmente o possível uso do carro da câmara e isso ficou provado com o laudo pericial de que o que houve foi uma grande coincidência de que o carro usado tinha características semelhantes com o nosso”, afirmou.
Mas, temos que admitir que houve prisões, o próprio veículo ficou apreendido por um bom período e toda uma exposição da imagem da Câmara e da cidade nos meios de comunicação. A Câmara entrou com uma ação contra a Polícia Civil por toda essa situação? “Não entramos, até por que, o delegado que cuidou do caso foi muito cuidadoso nessa abordagem. Ele chegou e nos disse – as câmeras da rodovia detectaram a passagem de um veículo com características semelhantes e precisamos levar o veículo para que a perícia possa fazer averiguações”, relatou, não demonstrando nenhum tipo de desconforto com a pergunta.
Sobre esse tema, eleição do novo presidente da Câmara, voltamos na semana que vem com novas abordagens, sempre preocupado, é claro, para que não haja retrocesso nessa escolha, tendo em vista que esse é um dos Poderes mais importante do Sistema Republicano.
A sua grandiosidade fica evidenciada não só pela função de falar em nome do povo – mas, principalmente em legislar e criar leis, como também, fiscalizar o Executivo na boa aplicação dos recursos públicos que é de todos. Sem contar é claro, que é um Poder que em questão de dias, ou até mesmo meses, pode destituir não só os seus próprios pares, como também o Chefe do Executivo.
Sempre é bom salientar que, nos regimes democráticos, onde o confronto das ideias e a crítica da opinião pública estão sempre presentes, o que predomina e tem que ser respeitado é a decisão da maioria.
Sempre é bom lembrar que nem sempre foi assim. Houve tempos em que os parlamentos eram formados pela nobreza e o clero, as pessoas influentes que eram convocadas pelo soberano e falavam em nome do povo da sua região.
Aliás, falando sobre a importância do Legislativo, me lembro de que a última matéria com mais profundidade que fiz com o presidente Professor Presa, foi em 2017, onde eu dizia:
“Sobre a matéria que estamos elaborando, por favor, não nos leve a mal, o nosso objetivo é dinamizar, lutar pelo nosso crescimento e ao mesmo tempo ajudá-lo a se prevenir de uma série de transtornos que poderão surgir no andar da carruagem”, alertei, ressaltando ainda que a nossa redação sempre foi diferenciada em termos de conteúdo, tendo em vista que tudo o que escrevemos vem com a supervisão das nossas bússolas interior – razão e coração.
E o que a razão e o coração dizem tratando-se de jornalismo?
É mais ou menos o que já dizia a Rainha Vitória: “nunca se deve encobrir do público circunstância alguma qualquer que seja os inconvenientes da sua divulgação”.
Aliás, sobre esse assunto, o nosso saudoso Rui Barbosa – em seu belíssimo artigo: “A imprensa e o dever da verdade”, nos dá uma verdadeira aula de civilidade e amor pátrio falando sobre “a moral dos povos livres”. Segundo ele, Deus deixou ao homem três âncoras: “o amor à pátria, o amor à liberdade e o amor a verdade”. “Nenhum país salva a sua reputação com abafos, encobertando as matilhas da corrupção”.
Essa passagem é lembrada por Rui para relatar um fato que aconteceu em 1854, durante a campanha da Criméia. O jornal Times, não hesitou em se posicionar contra a administração militar da Grã-Bretanha, sustentando que o seu serviço era infame; que os soldados enfermos não achavam nem camas para dormir; que o exército, gasto e desmoralizado, não tinha, em Balacrava, nem onze mil homens capazes de entrar em combate.
Russel, o famoso correspondente do jornal na época, perguntou ao seu Diretor: “Que hei de fazer? dizer estas coisas ou calar?” O Diretor não hesitou na resposta, recomendando-lhe, com energia, “falar a verdade, sem indulgencia, nem receio”.
Para o Diretor, dizer a verdade seria o meio de cura, o remédio que os soldados estavam necessitando naquele clima de abandono e infortúnio. Muitos outros órgãos de imprensa chegaram a divulgar na época que o exército deveria linchar aquele correspondente de guerra.
E o que houve? A Câmara dos Comuns, equivalente hoje ao nosso Congresso Nacional, mandou abrir em 1855, um inquérito sobre a situação do exército para apurar o que o repórter tinha relatado. O Gabinete todo caiu devastado pela campanha do temível órgão londrino.
As mais eminentes autoridades militares declararam que ele, “exercendo com fidelidade ao publicar os problemas da tropa, salvara o resto do exército inglês”.
A Rainha Vitória em correspondência endereçada a redação do jornal, agradeceu o valioso apoio do Times, dizendo: “nunca se deve encobrir ao público circunstância alguma, quaisquer que sejam os inconvenientes da sua divulgação”.
Com relação ao Legislativo e a espinhosa missão do novo presidente, que faço questão de frisar, marinheiro de primeira viagem e que está dando os primeiros passos na vida pública, o remédio para combater todos os nossos males também será esse: “dizer a verdade acima de tudo e nunca deixar que nada seja escondido do público em nenhuma circunstância, quaisquer que sejam os inconvenientes da sua divulgação”.