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Os ventos estão soprando forte e tudo indica que a temperatura deve subir e hoje, mais do que nunca precisamos evoluir – um pouco de Bertolt Brecht para iniciarmos o ano...
  Data/Hora: 1.jan.2019 - 10h 10 - Colunista: João Maria  
 
 
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Em tempos de renovação, como se dizem por aí, nada melhor comemorarmos a posse do novo presidente Jair Messias Bolsonaro (considerado mito por 55% dos eleitores que foram as urnas no último pleito), recordando um pouco dos pensamentos do genial Bertolt Brecht, dramaturgo alemão do século XX.

 

Criador do teatro épico, sua obra visava esclarecer as questões sociais vivenciadas por ele na época – nasceu em 1898 e publicou o seu primeiro texto em 1914, ou seja, muito jovem, com apenas 16 anos de idade. 100 anos depois, seus textos parecem atuais, como se estivesse escrevendo em pleno século XXI...

 

Ao lermos um dos seus memoráveis pensamentos – “O Analfabeto Político”, a impressão que se tem é de que ele está vivendo e escrevendo entre nós...


“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

 

É comum ouvirmos no dia a dia, gente dizendo não gosto disso – “isso é política”. Se é política, estou fora..., coisas assim. Esquece o principiante, que quando os bons cruzam os braços e não se envolvem na política, o que vemos é que os maus estão tomando conta, principalmente num setor fundamental para a vida das pessoas – o Legislativo Municipal, que é por onde passa as aprovações de leis, e o vereador eleito tem a função de além de legislar, fiscalizar a boa aplicação do dinheiro público através do Executivo.  Ele não vê, que essa é uma das portas de entradas para o fascismo...

 

“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo”,
descreve Brechet...

 

Nesse outro, ele lembra que: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.”

 

Sobre mudanças, ele nos lembra que nada é impossível mudar, que o tempo passa rápido, mas é preciso agir... “não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.”

 

Sobre essa manada desgovernada que tem compartilhado feiknews nas redes sociais, mesmo não existindo internet na época, ele já alertava: “Quem não conhece a verdade não passa de um tolo; mas quem a conhece e a chama de mentira é um criminoso!”.

 

E para finalizar, esta pérola de valorização ao trabalho feito pelo trabalhador e não a imposição de um feitor...

 

Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

 

Bertolt Brecht

 
 

 

 

 
 
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