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João Maria
 
   
 
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Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, uma entrevista com a recém advogada, Bruna Cavalca Presa.
  Data/Hora: 8.mar.2019 - 6h 4 - Colunista: João Maria  
 
 
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Mesmo não sendo um feriado nacional, que na minha humilde opinião deveria ser, o 08 de março é considerado o Dia Internacional da Mulher. “A ideia de criar o Dia da Mulher surgiu no final do século XIX e início do século XX nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas feministas por melhores condições de vida e trabalho, e pelo direito de voto.”

 

No meu ponto de vista, deveria ser Feriado Nacional, ou no mínimo um dia especial, onde patrões e empregados, pais e filhos teriam que entregar pelo menos uma flor (de preferência um buque como esse), a elas que são o nosso porto seguro. E, o mais importante – receberam o Dom Divino de criar, esculpir e moldar a mais linda obra de arte que se tem conhecimento na face da Terra – um outro SER... (Foto: Maria Luiza Curti)

 

Fotos: do seu arquivo pessoal - Nessa entrevista, Bruna Cavalca Presa, recém-formada advogada, com apenas 25 anos de idade e com pouco mais de um ano em que recebeu o diploma de bacharel em direito e realizado o juramento na OAB, demonstrando uma personalidade bastante forte, aborda com a maior desenvoltura os questionamentos que as pessoas têm – e até ela mesma, com relação ao “pós formação”.

 

Deixa claro que existe um enorme preconceito com relação ao fato de ser jovem e ser mulher. As pessoas não entendem esse pique, essa energia a mais que as mulheres demonstram ter, cuidando da casa, se preocupando com os filhos e, ao mesmo tempo, zelando pela profissão.  “Acham que você provavelmente não dará conta do recado. Que você não saberá se impor perante a um homem. Demorei meses para entender que precisaria “gritar” mais alto para ser ouvida, e por isso, nunca parei de estudar.  Desde o início sabia que seria difícil, mas aprendi que nessa vida o conhecimento é a maneira ideal de se rebater a falta dele”, ressalta que “o direito não é para covardes, não é para pessoas que não tenham empatia pelo próximo, não é para pessoas que não gostem de lutar por um ideal”.

 

Confira a entrevista que acredito que seja uma ótima forma de comemorar o Dia Internacional delas com força e vigor

 

 

Jornal – Como é a vida, o dia a dia de uma recém-formada advogada - o seu ingresso no mercado de trabalho na área de direito que é bom que se diga, bastante competitivo?

 

Bruna – Uma graduação já é um trabalho extenso e um tanto quanto exaustivo. Mas, após ela, muitas responsabilidades vêm à tona, dentre elas o crescimento profissional e a independência financeira, que são constantemente cobrados desde o início da graduação.

 

Jornal – Hoje o que mais se comenta é que muitos procuram se formar, estudar e se preparar para um concurso público, onde tem estabilidade e uma rentabilidade garantida no final do mês. É isso mesmo?

 

Bruna – Essa é realmente a imagem que a grande maioria faz – onde você obrigatoriamente deve estar estudando para um concurso público ou sair da graduação com um escritório mega estruturado para ser bem visto, do contrário, muitos dizem que você fez direito “para nada” ou que esta apenas “levando a vida” até passar em um concurso. O direito é feito de muitos sonhadores, e para maioria da sociedade é visto como um curso de fácil angariação de dinheiro após a formação. É visto apenas para isso. E ambas as coisas não são verdade.

 

Jornal – Quais os desafios e como conciliar trabalho e estudo, tendo em vista que é uma das profissões que mais exigentes em termos de conhecimento?

 

Bruna - Um dos maiores desafios do direito (e acredito que para tantas outras profissões) – e aqui falo da advocacia, que é a minha profissão, é conciliar o trabalho e estudo, ambos exaustivos e que requerem muito raciocínio, empenho continuo, constantes resoluções de problemas e saber lidar com todos os tipos de pessoas. Muito trabalho e muito estudo são vitais para a profissão, mas nem sempre garantem a estabilidade financeira logo de cara, e aí começam as frustrações. Digo sempre que sai da faculdade de direito esperando algo, e quando adentrei no mercado de trabalho como advogada a realidade foi totalmente outra, um tanto quanto assustadora.

 

Jornal – Bastante forte isso – “um tanto quanto assustadora”...

 

Bruna – Sim. O primeiro ponto que percebi, e talvez o mais importante, foi que muito do que nos é ensinado, não é aplicado em realidade. As leis, os princípios que as norteiam e as penalidades existem, mas, muitas vezes, são direcionadas a um grupo específico de pessoas e por vezes a Justiça não é justa. Os benefícios, por outro lado, são aplicados – em sua maioria – não necessariamente a aqueles que possuem o direito escancarado, mas a quem possa pagar por um bom advogado para tê-los.

 

Jornal – Vejo que com menos de um ano militando profissionalmente na área o direito tem lhe mostrado que às vezes as retas são toras e sinuosas.  Fale-nos um pouco mais desta percepção?

 

Bruna - Você percebe isso logo de cara, porque os seus primeiros clientes não serão uma empresa de grande porte, um crime de colarinho branco... Os seus primeiros clientes serão uma mãe que quer uma pensão de R$ 100,00 para comprar a medicação do seu filho, um pai que furtou alimento para poder comer, uma mulher e uma criança abusada em busca de orientação... E aí a discrepância do que você aprendeu e do que é aplicado ao caso em concreto. Nem sempre o que está nos livros acontece de fato.

 

Jornal – Parabéns por essa nobre postura. Existem preconceitos com relação ao fato de ser mulher e ser jovem?

 

Bruna - Sim e muito. Aprendi e venho aprendendo diariamente com isso. Infelizmente, há um preconceito muito grande com aqueles que iniciam a carreira jovens. Este fator é multiplicado em 10 vezes quando você é mulher. É difícil iniciar em qualquer profissão, mas os obstáculos acabam sendo maiores para “jovens” e mulheres.

 

Jornal – Algo mais que poderia ilustrar isso?

 

Bruna - Logo após me formar, assisti uma passagem de um seriado/documentário que nos questionava como deveria ser o escritório ideal... A resposta foi basicamente a seguinte: Depende, se você for homem, deve encher o seu escritório de fotos da sua família, para mostrar que você gerou uma boa prole e tem estrutura para mantê-la. Mas, se você for mulher, não as coloque ou demonstre que possui um casamento e filhos, pois seu cliente irá pensar que disputará o seu tempo com eles e que você não exercerá bem o seu papel.

 

Jornal – Ou seja, as pessoas não entendem esse pique, essa energia a mais que as mulheres demonstram ter, cuidando da casa, se preocupando com os filhos e, ao mesmo tempo, zelando pela profissão?

 

Bruna - E basicamente é isso mesmo. As pessoas esperam que você não seja tão competente por ter que lidar com uma família, uma casa, seus filhos... Acham que você provavelmente não dará conta do recado. Que você não saberá se impor perante a um homem. Demorei meses para entender que precisaria “gritar” mais alto para ser ouvida, e por isso, nunca parei de estudar.  Desde o início sabia que seria difícil, mas aprendi que nessa vida o conhecimento é a maneira ideal de se rebater a falta dele.

 

Jornal – Além dos estudos o que mais no seu ponto de vista contribuiu para essa personalidade forte que demonstra ter?

 

Bruna – Eu diria que além da bagagem de estudo, a educação exemplar que recebi dos meus pais são os meus alicerces para tentar combater o preconceito ou as tentativas de me diminuir como profissional. Hoje, estou concluindo minha primeira pós-graduação na Escola da Magistratura do Paraná, e advogo ao lado de um profissional que me ensinou o direito na prática e me auxilia na minha jornada, me encorajando a bater de frente com todas as frustrações, e por isso sou grata.

 

Jornal – Qual a sua área de atuação dentro do direito?

 

Bruna - Trabalho principalmente na área cível, consumidor, família e no direito penal, mas minha principal paixão, como objeto de estudo, é o direito ambiental (e isso engloba o ramo do direito criminal ambiental e o direito dos animais), que foram os alicerces do meu trabalho de conclusão da graduação e também da minha pós-graduação na Escola da Magistratura do Paraná. Estudar e se especializar em temas que pouco são abordados – ou até mesmo em temas corriqueiros, acaba por o tornar um profissional único.

 

Jornal – Sinto certa paixão, algo muito especial quando se refere ao direito ambiental?

 

Bruna – Me sinto honrada de falar sobre um tema que pouco é visado, mas que deveria ser de conhecimento de todos, diante da sua tamanha importância. E aí entra o terceiro ponto do meu aprendizado. Acabei trazendo isso como parte da minha missão. Nunca conheci ninguém que tenha feito direito (mas feito mesmo) por dinheiro e para passar em um concurso. Sempre há uma mensagem que essa pessoa quer passar. O direito não é para covardes, não é para pessoas que não tenham empatia pelo próximo, não é para pessoas que não gostem de lutar por um ideal. E por isso, falo tanto sobre temas que são esquecidos, mas que deveriam ser lembrados diariamente, pois englobam a coletividade, como é o caso do Direito Ambiental. Assim, meu objeto principal de estudo é focado em responsabilidade ambiental atrelada a casos como o de Brumadinho, a maus tratos aos animais, ao tráfico de animais, as penalidades e a legislação que engloba o nosso meio ambiente, direito este que todos deveriam ter conhecimento e exigir do Poder Público constante evolução, vez que este tanto se omite nessa questão.

 

Jornal – Vejo que o simples fato de lembrar-se do desastre de Brumadinho, que é bom que se diga uma tragédia anunciada, você se transforma?

 

Bruna – Não tem como não se revoltar com algo desta natureza. Bato na tecla do caráter preventivo do direito, que deveria preponderar sobre a repressão, e não somente no Direito Ambiental, mas em todos os ramos. Entretanto, a falta de conhecimento da população sobre temas importantíssimos que também causam mortes, doenças, catástrofes, faz com que não se cobre tanto atuações em prol de melhorias no ramo... E aí, o poder público prefere ver o erro do cidadão, prefere que este cause dano a outrem, do que atuar em prol de prevenir acontecimentos. Acredito que isso ocorra porque o dinheiro vale mais que qualquer vida. E isso, nos leva novamente a um ciclo vicioso de frustrações que envolve o Direito e um luta incessante daqueles o fizeram por amor. 

 

 

 
 

 

 

 
 
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