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Mulheres são maioria no ensino superior, mas ainda lutam para destacar-se na carreira científica
  Data/Hora: 9.mar.2019 - 16h 9 - Categoria: Educação  
 
 
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Da Assessoria - Desde a primeira década do século 21, as mulheres são maioria em todos os níveis de ensino no Brasil. De acordo com dados do Censo da Educação Superior, elas representam 57% das matrículas da graduação, 55% nos mestrados e 53% nos doutorados. As mulheres também são maioria entre os bolsistas de iniciação científica (55%), mestrado (52%) e pós-doutorado (53%) e empatam com os homens nas bolsas de doutorado (50%). Porém, conforme a carreira avança, as disparidades começam a aparecer. Mulheres são minoria quando se trata dos critérios de institucionalização como pesquisadoras, chegando a 46% dos docentes universitários, 42% dos líderes de grupos de pesquisa e apenas 25% dos bolsistas Sênior de Produtividade em Pesquisa (PQ), a mais alta categoria de apoio do CNPq a cientistas do país.

 


Para a professora do curso de Filosofia da UNILA, Idete Teles dos Santos, as causas para a presença ainda pequena no topo da carreira científica no Brasil são as mesas que impedem o crescimento profissional das mulheres em outras áreas. “Seguramente, esta disparidade é decorrente do papel que a mulher ainda precisa assumir em nossa sociedade hodierna: o papel de guardiã e cuidadora do âmbito privado. É a mulher que fica responsável, muitas vezes integralmente, pelos afazeres e cuidados destinados à manutenção laboral e mesmo afetiva da esfera doméstica. Isso significa que, se a mulher desejar ter uma carreira profissional, precisará arranjar tempo e disposição extra para isso”, explica. Essa cobrança e expectativa desiguais das tarefas domésticas entre homens e mulheres, somadas às exigências de alta produtividade e competitividade do campo científico, tornam-se um desafio para as mulheres pesquisadoras. “Seria fundamental acabar com essa exigência da mulher polivalente e, ao mesmo tempo, oferecer condições iguais à mulher para o mundo público, do trabalho e da ciência”, completa a docente.

 

 

Edna Possan desenvolve pesquisas para buscar alternativas para uma das atividades humanas mais poluentes do mundo: a indústria cimenteira

 

O esforço para tornar os ambientes de pesquisa mais igualitários não objetiva somente a melhora da situação da mulher. Já há pesquisas que mostram, por exemplo, que as empresas que têm um ambiente mais igualitário, tanto em termos de gênero quanto em termos étnicos, têm melhores resultados em termos de inovação e lucro. Para Idete Teles dos Santos, no âmbito da pesquisa científica não é diferente. “Pessoas diferentes têm saberes, perspectivas, universos, mundos diferentes; e a interação entre essas pessoas promove o confronto de ideias, promove a mudança, o novo. Creio que a UNILA é um ótimo exemplo. Nessa perspectiva, diversidade de gênero certamente oferece muito mais às ciências, às pesquisas”, salienta a professora, que ministra a disciplina de Introdução ao Pensamento Científico.

 

Professora da UNILA é pioneira em estudos sobre carbonatação do concreto

Docente do curso de Engenharia Civil de Infraestrutura e do Mestrado em Engenharia Civil da UNILA, Edna Possan a primeira pesquisadora brasileira a estudar a carbonatação do concreto como medida compensatória na engenharia civil. Edna elaborou em sua tese de doutorado um modelo matemático capaz de estimar a carbonatação de estruturas de concreto. O objetivo da fórmula era calcular a durabilidade e a vida útil das estruturas. Mas, em 2009, ela percebeu que sua pesquisa tinha potencial para contribuir com os primeiros estudos internacionais sobre compensação de emissões de CO2, que estavam surgindo na época.

Fernanda Sobral da Rocha estuda a participação das mulheres no ciclo das políticas públicas

 

Desde então, a docente desenvolve e coordena várias pesquisas que avaliam como acontece o sequestro de CO2, alterando os materiais utilizados e os ambientes onde estão inseridos. O objetivo principal é buscar alternativas para uma das atividades humanas mais poluentes do mundo: a indústria cimenteira. Calcula-se que, a cada tonelada de cimento produzido, 650 kg de dióxido de carbono (CO2) – o principal gás responsável pelo aquecimento global – seja liberado na atmosfera. Isso faz com que cerca de 7% das emissões mundiais de CO2 venham da produção de cimento, de acordo com um levantamento do Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês).

Nos laboratórios da UNILA, sob a orientação de Edna, estudantes de graduação e pós-graduação realizam diversos ensaios para verificar em quais condições o concreto tem maior capacidade de sequestro de carbono. “Em tempos em que se fala tanto em aquecimento global, faz parte da responsabilidade social da Engenharia Civil repensar o modo como fazemos nossas obras e trabalhar numa abordagem de engenharia que leve em consideração a captura de CO2, a sustentabilidade e, consequentemente, a qualidade de vida das populações”, explica.

 

Pesquisa para resgatar as memórias de mulheres

Fernanda Sobral Rocha viu na pesquisa uma forma de compreender sua própria trajetória. Em 1998, sua família foi contemplada com uma casa no Cidade Nova, conjunto habitacional que recebeu famílias removidas de outras comunidades ou que estavam à espera de uma casa própria. Nos anos iniciais da construção do bairro, ela acompanhou os moradores sofrendo com várias problemáticas, desde a falta de estruturas públicas até o isolamento do restante da cidade.

 

Ao ingressar no mestrado em Políticas Públicas e Desenvolvimento, em 2017, Fernanda decidiu estudar mais profundamente as consequências das remoções promovidas no bairro Cidade Nova, mas do ponto de vista das mulheres que viveram essa história. Para sua dissertação, ela entrevistou oito mulheres chefes de família do bairro. O objetivo foi resgatar a memória das mulheres que vivenciaram os primeiros anos do bairro Cidade Nova e as consequências das políticas habitacionais implantadas em Foz do Iguaçu. Mas, além disso, a mestranda busca com o trabalho fazer uma reflexão sobre a participação das mulheres no ciclo das políticas públicas.

 

Joana Borghetti quer propor tratamentos estéticos mais seguros para pacientes com altos índices de colesterol e gordura no sangue

 

Para Fernanda, a presença das mulheres em todos os espaços, incluindo os espaços de poder e de decisão, é fundamental para garantir direitos que, até pouco tempo, não eram garantidos. “É impossível construir uma sociedade democrática sem a participação política da mulher no planejamento e na implementação de políticas. Para que uma política pública seja pensada de forma igualitária, é preciso que as mulheres também estejam presentes na luta por seus direitos de cidadania, de forma a conquistar seu espaço”, explica Fernanda, que também é servidora técnico-administrativa na UNILA.

 

"Respiramos, acreditamos e seguimos"

 

O exemplo para a farmacêutica Joana Borghetti ingressar no mestrado veio de casa. Quando era adolescente, Joana viu a mãe concluir o mestrado em Arquitetura. A ideia era emendar o mestrado logo depois da graduação na própria UFRGS, onde concluiu Farmácia em 2009. Mas Joana mudou de cidade, teve um filho, abriu uma empresa e o plano de se dedicar à pesquisa ficou para depois. “O mestrado nunca deixou de ser um objetivo. Fiz alguns processos seletivos para programas da região, porém eles não tinham nenhuma relação com minha atuação profissional atual, que é a farmácia estética. A multidisciplinaridade do quadro docente do programa de Biociências da UNILA despertou a minha curiosidade e, então, encontrei uma linha de pesquisa totalmente adequada ao que eu estava disposta a pesquisar”, conta Joana, que atualmente está no último ano do mestrado e pesquisa o efeito da mesoterapia com cafeína e a ultracavitação para fins estéticos. Orientado pela professora Danúbia Frasson Furtado, o trabalho tem o objetivo de contribuir para a elaboração de protocolos inovadores e seguros, principalmente para pacientes com altos índices de colesterol e gordura no sangue.

 

Embora se sinta feliz por estar cursando o mestrado que tanto planejou, Joana confessa que teve de mudar o ritmo de trabalho e perder alguns momentos de convivência com o filho Lorenzo (6 anos) para conseguir dar continuidade aos estudos. “Tenho que contar com uma rede de apoio para conseguir dar conta de todas as minhas funções. A escola e a família ajudam bastante. Em relação à maternidade especificamente, ainda me pego me culpando algumas vezes. Mas os sacrifícios fazem parte do processo e acredito que o exemplo que estou dando ao meu filho tenha mais valor. Respiramos, acreditamos e seguimos”.

 
 

 

 

 
 
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