Por Jeferson Miola - Tribuna da Imprensa
No dia de ontem, 12/7, o Intercept revelou através da revista Veja as mensagens de Deltan Dallagnol com agentes do TRF4 [aqui]. Tem-se agora as provas documentais daquilo cuja existência era sabida e conhecida; faltavam apenas as provas finalmente demonstradas.
Num diálogo com o colega Carlos Augusto da Silva Cazarré, que atua no TRF4, Dallagnol citou João Gebran Neto, da 8ª Turma do TRF4.
Gebran é aquele desembargador que na farsa jurídica de 24 de janeiro de 2018 proferiu uma curiosa sentença – unânime com seus 2 colegas de Turma e sincronizada tanto na falta de provas como nos anos, meses e até nos dias aumentados da pena – para agravar a prisão do Lula para o regime fechado.
Na conversa com Cazarré, Dallagnol mostra-se preocupado com a possibilidade de Gebran absolver um réu devido à qualidade das provas. Ele entendia que a absolvição poderia desestimular a delação deste réu [arranjada para incriminar outras pessoas], caso ele fosse absolvido antes de “abrir o bico”: “Falei com ele [Gebran Neto] umas duas vezes, em encontros fortuitos, e ele mostrou preocupação em relação à prova de autoria sobre Assad…”.
Fica evidente, na preocupação do Dallagnol, que a delação premiada é um método inquisitorial e de tortura empregado pela Lava Jato para chantagear pessoas e assim extrair confissões – que podem ser tanto verdadeiras como falsas.
A reportagem da Veja informa que no final daquele julgamento, para condenar o réu mesmo com “provas fracas” e presumivelmente para não comprometer o processo inquisitorial conduzido por Dallagnol, “Gebran acrescentou em sua decisão depoimentos da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa — que ainda estava em sigilo quando Moro assinou a sua sentença”.
O ato do desembargador [sic] Gebran, se é que se deve tratá-lo como tal, é de suma gravidade. Como juiz da 2ª instância, ele enxertou provas inexistentes no processo original julgado em 1ª instância para compensar falhas e assim poder condenar o réu para atender conveniência e estratégia da Lava Jato.
O criminalista Renato Stanziola Vieira, consultado por Veja, critica a atuação de Gebran:
“Um juiz, independente do grau em que atue, jamais pode abrir seu voto antes de finalizá-lo, e a decisão só pode ser comunicada nos autos. Se eu sei que o desembargador está achando fraca uma parte da minha tese, claro que vou tentar fortalecê-la. Ou seja, saber antes do momento adequado o que o juiz está pensando sobre o caso concreto coloca uma das partes em vantagem”.
As revelações recentes do Intercept já ultrapassaram o âmbito estrito do comando da organização criminosa, como Gilmar Mendes chama a autodenominada força-tarefa da Lava Jato, e alcançaram também as conexões do bando liderado pelo Moro com estamentos superiores do judiciário.
O resultado disso é a evidenciação de uma lógica criminosa, aparentemente ramificada nas instâncias do poder judiciário, que corrompeu gravemente partes do sistema de justiça brasileiro.
Nas revelações anteriores, foi possível conhecer-se a aliança indecente de agentes da força-tarefa da Lava Jato com os ministros do STF Luiz Fux e Edson Fachin.
Nas mensagens, Moro e Dallagnol celebravam o controle exercido por eles sobre ministros da Suprema Corte como uma torcida no ginásio esportivo: “In Fux we trust!” e “Aha uhu, o Fachin é nosso”, comemoravam eles – realidade que torna Fux e Fachin suspeitos para julgarem os processos do Lula [aqui e aqui].
O material do Intercept ainda em análise para posterior publicação é gigantesco. A revelação desses documentos, quando acontecer, deverá revelar realidades ainda mais escabrosas, os momentos críticos da conspiração [como 8 de julho de 2018] e o envolvimento de gente da Globo, do STJ, STF, TRF4, PF, MPF etc.
Então serão esclarecidas muitas outras circunstâncias obscuras deste que é, seguramente, o mais abrangente e profundo esquema de corrupção do sistema de justiça de uma nação no mundo moderno; esquema engendrado no bojo da conspiração para viabilizar o projeto da extrema-direita subserviente aos EUA.
Lula está sendo condenado em processos judiciais injustos, ilegais e sujos conduzidos por máfias de toga. Ele sempre foi e continua sendo o alvo fundamental da conspiração.
Está documentalmente provado o quão falacioso é dizer que a condenação do Lula foi confirmada nas instâncias superiores do judiciário. A promiscuidade da gangue do Moro com Fux, Fachin, Gebran etc [e com outros agentes públicos e privados que oportunamente ficarão desmascarados] dissipa qualquer dúvida a esse respeito.
Como já disse, “É hipócrita dizer que Lula foi condenado em todas instâncias, porque na verdade o Lula foi condenado por um sistema totalmente contaminado”.
A armação do Dallagnol com o TRF4 mostra que o sistema judicial está corrompido e sob suspeição; foi capturado por criminosos com propósitos políticos e de um projeto de poder fascista e entreguista.