banner livro

 
 
   Categorias
  ATLETISMO
  Banco do Brasil
  Brasil
  Cartas do Leitor
  Educação
  Ego Famosos
  ENTREVISTAS
  Esporte
  Eventos
  Familias
  Foz do Iguaçu
  Geral
  Itaipu Binacional
  Lindeiros
  Moda
  Mundo
  Oeste
  Opinião do Leitor
  Policiais
  Politica
  Santa Terezinha de Itaipu
  São Miguel do Iguaçu
  Sociais
  Virtudes e valores
 
     
   Colunistas
Cultura
João Maria
 
   
 
   Previsão
 
 

 
 
 
Envie por email
 
O que confiança interpessoal tem a ver com democracia?
  Data/Hora: 2.dez.2019 - 18h 19 - Categoria: Politica  
 
 
clique para ampliar

Thaíse Kemer

 

Tornou-se popular a pesquisa publicada pelo Latinobarómetro[2], em 2018, segundo a qual o Brasil é o campeão latino-americano em desconfiança interpessoal. De acordo com a investigação, a confiança interpessoal pode ser entendida como uma medida de quanto um determinado país foi capaz de solucionar os principais problemas que impedem sua integração. Verifica-se, assim, que a confiança pode estar relacionada a dinâmicas sociais mais profundas, o que nos leva ao seguinte questionamento: por que devemos refletir sobre a confiança e sua relação com a democracia?

 

Para alguns autores, o cenário de desconfiança parece ser indício de debilidade para a sustentação de uma democracia. De fato, segundo Newton e colegas (2018), a confiança funcionaria como uma espécie de “cola” das relações sociais, na medida em que facilita a coordenação e cooperação entre os indivíduos. O cientista político norte-americano Robert Putnam corrobora essa perspectiva. Em seus livros “Making Democracy Work”, de 1993, e “Jogando Boliche Sozinho”, de 2015, o autor destaca que a vivência em comunidade fortalece um sentido de coletividade que favorece a democracia, por meio da geração de capital social. Capital social é um conceito que se associa ao valor das ligações entre indivíduos para a geração de redes sociais e de normas de reciprocidade entre as pessoas (Putnam, 2015, p. 14). Segundo Putnam, a confiança é essencial para a formação do capital social, pois está relacionada à previsibilidade sobre o comportamento de atores independentes. Nesse sentido, o autor argumenta que a confiança interpessoal funciona como um potente facilitador da cooperação, pois está relacionada a uma expectativa de conhecimento dos outros quanto a suas disposições e possíveis cursos de ação, o que favorece iniciativas colaborativas.

 

Nesse contexto, é interessante notar que a cooperação também pode favorecer o aumento da confiança. Segundo Putnam, redes de engajamento cívico, como associações de bairro, grupos artísticos e cooperativas, contribuem para aumentar a confiança social. Para o autor, essas redes cívicas contribuem de diversas formas para reforçar a confiança: elas aumentam a colaboração entre pessoas, fortalecem a expectativa de convergência em torno de propósitos comuns, facilitam a comunicação comunitária e servem de base para cooperações futuras. Assim, ao estreitarem os elos sociais que formam o tecido comunitário, as redes de engajamento cívico contribuem para o aumento da confiança interpessoal, para a geração de maior capital social e para o reforço do sentido de coletividade. Nas palavras do autor: “quanto mais densas forem essas redes em uma comunidade, maior a probabilidade de que seus cidadãos possam cooperar para benefícios mútuos” (Putnam, 1993, p. 171, tradução nossa).

 

                Assim, baixos níveis de confiança interpessoal sugerem um campo menos fértil para a colaboração em sociedade, o que enfraquece laços sociais relevantes para a sustentação do regime democrático. Isso é particularmente problemático se pensarmos na concepção contemporânea de cidadania, a qual inclui tanto o exercício de direitos e deveres quanto uma participação ativa em assuntos de interesse público.

 

Essas breves reflexões sugerem que o baixo nível de confiança no país pode ser melhor compreendido por meio de uma análise das dinâmicas nas cidades brasileiras, pois elas constituem o palco em que essas relações interpessoais acontecem. Assim, a compreensão das raízes da baixa confiança interpessoal no Brasil exige uma análise estrutural da temática, de forma a relacioná-la a um quadro geral mais amplo da democracia brasileira e de seus desafios sociais, políticos e econômicos.

  

Nesse sentido, o Instituto Sivis desenvolveu o Índice de Democracia Local, que trabalha a confiança e a colaboração interpessoal em contexto analítico mais amplo relativo à qualidade da democracia em cidades. Os resultados da aplicação na cidade de São Paulo serão divulgados no dia 5 de dezembro. Assim, esperamos que esse trabalho contribua para lançar um novo olhar para os níveis de confiança interpessoal do Brasil contemporâneo: não como um dado imutável, mas, sim, como um sintoma social que tem potencial para ser modificado por meio do reforço das bases democráticas em nível local.

 

[1] Thaíse Kemer é Gestora de Pesquisas do Instituto Sivis e Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

 

 

 

 
 

 

 

 
 
Deixe seu comentário!
 
 
 
Rose Bueno Acessórios
Bassani
Banner Mirante
Banner emprego
Banner Einstein
Banner pedrão 2018
Banner violência se limite
Banner Exposição