Em artigo publicado na Folha de São Paulo de ontem (22), o filósofo Domenico de Masi, nos lembra de que:
“a Itália de onde escrevo, um dos países mais vivazes e alegres do mundo, é hoje apenas um deserto”.
No seu ponto de vista, essa pandemia do Coronavírus “é o início de uma grande revolução no modo de vida que conhecemos” e que a mesma causará uma transformação profunda no planeta, nas relações econômicas e sociais – que é bom que se diga, já está causando com o afastamento social imposto em praticamente todos os países para conter a sua escalada...
“Subitamente nos descobrimos frágeis pigmeus diante da onipotência imaterial de um vírus que, por vias misteriosas, escapou de um morcego chinês para vir matar homens e mulheres em nossas cidades”.
Acredita de Masi que a difusão da pandemia e sua volta ao mundo com uma rapidez extrema nos mostra que tentar deter a globalização é como se opor à força da gravidade – “nosso planeta já é aquela “aldeia global” da qual falava McLuhan, unida por infortúnios e pela vontade de viver, precisando de uma direção unitária, capaz de coordenar a ação sinérgica de todos os povos que desejam se salvar. Nessa aldeia global, nenhum homem, nenhum país é uma ilha”.
E Domenico fala com propriedade, tendo em vista que já expôs suas ideias sobre a sociedade e o trabalho em diversos livros, entre eles “A Emoção e a Regra”, o “Futuro do Trabalho” e no meu ponto de vista, o mais interessante – o “Ócio Criativo”, lançado em 1995, onde insatisfeito com o modelo social centrado na idolatria do trabalho, ele propõe um novo modelo baseado na simultaneidade entre trabalho, estudo e lazer – onde “os indivíduos são educados a privilegiar a satisfação de necessidades radicais, como a introspecção, a amizade, o amor, as atividades lúdicas e a convivência”.
Nessa obra, “o autor não se refere ao ócio como indolência, preguiça ou algo alienante. Pelo contrário, o ócio criativo aparece como uma combinação harmoniosa do trabalho, estudo e lazer.”
"O ócio pode transformar-se em violência, neurose, vício e preguiça, mas pode também elevar-se para a arte, a criatividade e a liberdade. É no tempo livre que passamos a maior parte de nossos dias e é nele que devemos concentrar nossas potencialidades".
Para os dias atuais, onde estamos enfrentando um inimigo invisível que vem ceifando vidas e unindo propósitos, nada melhor do que dar uma mergulhada nesse livro, até por que, “o trabalho e a agilidade sempre foram supervalorizados” e, de repente fomos forçados ao isolamento social e a simples ideia de defender o ócio pode parecer “andar na contramão” – “mas, quando o assunto é o ócio criativo, a coisa muda de figura”.
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