Por Marianina Impagliazzo, via redes sociais,
Acordei mais uma vez sem saco para com a leva de filho das putas neste país. É preciso um vídeo detalhado de uma mulher sendo espancada, por uma pessoa conhecida do público, para virar comoção.
Só com celebridade envolvida e imagem do soco na cara em 1080 ou 4K de alta resolução, repetida em todos os telejornais, o Brasil começa a falar disso. Mas no mesmo dia em que Pamella Holanda foi covardemente agredida, 288 mulheres também foram. São quase 300 por dia, considerando a média apurada com dados oficiais do governo de 105.821 vítimas somente nos 365 dias do ano de 2020.
A aceitação absurda - para não dizer aprovação - de todos nós com a epidemia de espancamento de mulheres no Brasil só tem um nome: fundamentalismo. Estrutura social de natureza animalesca e dogmática que odeia um determinado grupo e naturaliza a sua condenação, a sua suspeição, a sua destruição contínua. No Brasil, qualquer mulher ensanguentada é rodeada do mesmo cochicho desgraçado e virulento do “Nossa, o que será que ela fez pra esse homem hein?”.
No Brasil, a vida pessoal e as decisões pessoais das mulheres para qualquer coisa, como se comportar, como agir, os acertos ou os erros que tiverem em relação às suas relações privadas são automaticamente confiscadas pelo coletivo e submetidas ao escrutínio público. E nesse tribunal, nunca importa o caso em si. Importa é que ela sofra. Esse é o nosso gozo como povo, a nossa prática coletiva, a nossa comunhão.
É hipocrisia de baba escorrendo este país agora se fingir horrorizado quando o lixo espancador Dj Ivis ganha mais seguidores nas redes sociais. Não. Não causa nenhum estranhamento. Somos todos nós que seguimos isso. Somos todos nós que em breve estaremos fofocando, em alguma parte do território nacional sobre a vida privada de uma mulher enquanto 289 outras vão para o hospital violentadas sem um mínimo do nosso escândalo. O Brasil odeia mulheres. E enquanto não assumir isso, não vai conseguir mudar.