Por Alessander Raker Stehling - Paulo Magno - via redes sociais,
"A existência precede a essência: Hã, como assim? Quando li essa frase de Sartre pela primeira vez, confesso que fiquei bugado. Afinal, o que ele queria dizer com isso? Felizmente, ele mesmo nos dá a resposta: “Que significa, aqui, que a existência precede a essência? Significa que o homem existe primeiro, se encontra, surge no mundo, e se define em seguida.”
Essa ideia é um dos pilares do existencialismo, uma corrente filosófica que inclui nomes como Sartre, Kierkegaard e outros gigantes do pensamento. Vamos explorar isso de forma simples.
Olhe ao seu redor. Qual é o objeto mais próximo de você? No meu caso, é um copo. Esse copo foi criado com um propósito — sustentar líquidos para consumo. Sua essência, ou seja, sua função, já estava definida antes mesmo de ele existir.
Agora, pense em nós, seres humanos. Segundo Sartre, nascemos sem uma essência pré-definida. Não há um “manual” dizendo quem ou o que devemos ser. Existimos primeiro e, ao longo da vida, nos construímos com base nas escolhas que fazemos. Essa visão desafia ideias religiosas ou metafísicas que afirmam que temos uma natureza fixa ou propósito superior desde o início.
E aqui vem o ponto central: liberdade.
Se somos responsáveis por construir nossa essência, isso significa que somos livres para escolher nossos caminhos. Mas essa liberdade tem um preço: a responsabilidade absoluta por nossas escolhas. Não podemos culpar a natureza, Deus ou a sociedade por aquilo que decidimos fazer — ou deixar de fazer.
Imagine alguém reclamando da desigualdade no mundo, mas nunca movendo uma “palha” para ajudar. Essa pessoa está escolhendo, ativamente, permanecer passiva diante do problema. Sartre diria que não adianta apenas culpar o sistema ou os outros: a responsabilidade é nossa, porque temos a liberdade de agir, mesmo em situações difíceis.
“Mas e os fatores externos?”, você pode perguntar. E quanto a genética, influências sociais, injustiças? Isso não conta?
Claro que conta. O existencialismo não ignora que somos moldados, em parte, por nossas circunstâncias. Nascemos em um contexto, com características biológicas e culturais que nos afetam profundamente. Mas Sartre argumenta que, mesmo dentro dessas limitações, sempre há espaço para a liberdade. Não escolhemos onde nascemos, nossa classe social ou as adversidades que enfrentamos, mas podemos decidir como reagir às situações que a vida nos apresenta.
Pense em Viktor Frankl, psiquiatra judeu que sobreviveu aos horrores dos campos de concentração nazistas. Ele não escolheu estar ali, mas escolheu encontrar sentido, mesmo em meio à dor. Essa escolha fez dele um exemplo vivo da liberdade que Sartre defende: não importa o quão restrita seja sua situação, sempre há uma parte de você que pode decidir.
E daí? E daí que, ao reconhecermos que “a existência precede a essência”, nos colocamos em uma posição poderosa — e desconfortável. Não podemos mais viver culpando os outros, o destino, Deus, o Diabo ou o universo. Somos os autores da nossa própria história, e cabe a nós escrevermos algo que valha a pena.
E você, que escolhas está fazendo hoje para construir sua essência?"