Milton Corrêa da Costa
O partido político que cresceu e criou fama, décadas atrás, pelo uso estratégico das reivindicações da massa trabalhadora, na luta por aumentos salariais e melhores de condições de trabalho, através dos sindicatos, principalmente no ABC paulista, e que adorava ver o circo pegar fogo, como partido de oposição, prova agora, contra si próprio, da mesma ferramenta de pressão: o direito de greve, que coloca neste momento o direito maior da coletividade refém das reivindicações das diferentes classes de servidores federais, agora ao que parece unidas num só protesto.
Algumas categorias de servidores já estão paralisadas há mais de 80 dias, como no caso dos professores universitários e o governo do PT alega que não há mais o que oferecer aos professores. Já chegam a consideráveis bilhões de reais o somatório dos reajustes exigidos pelas diferentes categorias de servidores e o momento, ante a grave crise econômica mundial, é de fechar o cofre e de conter as contas públicas, onde alguns países europeus, paradoxalmente ao caso brasileiro, demitem servidores e reduzem drasticamente até aposentadorias, como metas econômicas que terão que ser cumpridas para equilibrar as contas públicas de economias seriamente combalidas.
No Brasil, o peso da máquina administrativa federal, com salários de servidores, ativos e inativos, cresceu assustadoramente nos últimos dez anos. De R$ 75 bilhões em 2003 para R$ 200 bilhões em 2012. Algumas categorias de servidores em estado de greve (utilizam-se agora como meio de pressão ao governo a chamada operação-padrão) que reivindicam hoje aumento de salários, têm em verdade salários privilegiados em relação a grande maioria das classes trabalhadoras brasileiras. Algumas categorias de servidores federais têm no início da carreira vencimentos superiores a R$ 7 mil, enquanto alguns aposentados do INSS, após 35 anos de contribuição previdenciária, recebem o máximo de 10 salários-referência, nada superior ao montante de R$ 4 mil reais.
Registre-se que servidores, além de salários absurdos e desproporcionais pelo nível básico que ostentam (motoristas e ascensoristas inclusos) ainda se aposentam, como nos estados e municípios, pela antiguidade ou pelo merecimento, com salários do topo da carreira. Alguns, com aposentadorias astronômicas e acima do teto-salarial permitido, Uma injustiça social e salarial com o trabalhador privado, onde se sabe que o instituto da previdência complementar é um mecanismo de atualização de futuras aposentadorias ainda muito recente no país, que nem todos podem pagar. Detalhe: servidor público (estatutário) tem estabilidade assegurada. Trabalhador do setor privado, não.
A realidade é que atual onda de greves no país vem perigosa e constantemente colocando a população brasileira como refém. Vejam o caos ocorrido recentemente nas estradas com a paralisação dos caminhoneiros onde inúmeros prejuízos foram gerados, além da manifestação dos motoboys no Rio e em São Paulo. Porém, “quem com ferro fere com ferro será ferido”, diz o ditado popular. O governo do Partido dos Trabalhadores está agora numa encruzilhada sem saída. Inúmeras classes de servidores vão aos poucos paralisando o país num só movimento e não há como atender, de uma só vez, todas as reivindicações de aumento salarial, plano de carreira e melhores condições de trabalho.
Alunos sem aula, calendários acadêmicos paralisados, formaturas adiadas (não se sabe até quando), passeatas com trânsito parado, direito de ir e vir comprometido, operações pente-fino em aeroportos e rodovias, problemas com desabastecimento de alguns produtos e mercadorias, queda em arrecadação de impostos, atos de vandalismo e sabotagem como fechamento de vias de circulação com pneus queimados, ameaça à ordem pública, emissão de passaportes suspensa para viagens de lazer, perda de conexões aeroviárias, compromissos sociais e profissionais perdidos, emergências médicas sob risco, remédios em falta e doação de sangue afetada.
Detalhe: os 26 dias de greve dos servidores da Anvisa já afetam os laboratórios e causa retenção de 30% dos remédios que chegam, por exemplo, no Estado do Rio de Janeiro. Ou seja, todo um cenário caótico onde o PT foi o grande mestre enquanto partido de oposição. Agora deixou de ser atiradeira e passou a ser o próprio alvo. O feitiço virou contra o feiticeiro e a relevância maior do direito da coletividade, em seu ir e vir, está em segundo plano.
A pergunta é: Até quando a grande maioria da sociedade brasileira ficará refém de movimentos grevistas, sejam eles justos ou não? Visível chantagem no desempenho ou na paralisação de atividades essenciais, sob o manto do direito de greve, são ato de insensatez plena. O direito constitucional de reivindicar não pode se contrapor à ordem pública e à ordem institucional.
Com a palavra o governo do Partido dos Trabalhadores, onde um dirigente questiona agora o Ministério Público Federal, que tem o dever de ser o fiscal da lei e ensina crianças e adolescentes, através cartilhas na Internet, numa ação educativa preventiva, a não cometer os crimes de peculato, formação de quadrilha, desvio e lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa, etc, etc.
É desde pequeno que se deve moldar personalidades, ensinando aos baixinhos princípios de ética e de moralidade. Parabéns ao Ministério Público! Agindo não precisará denunciar 'mensaleiros' no futuro.
Milton Corrêa da Costa é cidadão brasileiro sujeito a refém dos movimentos grevistas