Pela primeira vez, a binacional vai promover o descarte de carcaças de equipamentos que podem voltar ao ciclo produtivo como matéria-prima
A Itaipu Binacional vai abrir licitação para contratar uma empresa que dará um destino ambientalmente correto a 50 toneladas de resíduos eletroeletrônicos, os “lixos eletrônicos”. Esta será a primeira vez que a hidrelétrica promove o descarte deste tipo de resíduo, acumulado por até 30 anos nos galpões do almoxarifado da empresa.
Para participar do certame, a empresa interessada deverá comprovar que a destinação final dos produtos não trará impacto ao meio ambiente e execute todos os procedimentos determinados pelas leis ambientais vigentes. A licitação deverá ser aberta até o dia 31 de agosto.
São carcaças de equipamentos telefônicos e de informática, máquinas de escrever, radiocomunicadores e até televisores antigos sem condições de uso que, a partir dessa licitação, podem voltar ao ciclo produtivo como matéria-prima. Caberá à empresa vencedora a responsabilidade, desde o transporte dos materiais até a comprovação dos resultados da destinação final dos resíduos.
A empresa vencedora receberá cerca de R$ 40 mil reais - ou R$ 800 por tonelada, valor de teto fixado pela Itaipu. A abertura do processo será divulgada nos sites da Itaipu e do Banco do Brasil, além de jornais de grande circulação.
“Quando se fala em descarte de eletroeletrônicos, as pessoas costumam pensar em doação de computadores, mas há produtos que não podem ser reutilizados. São esses que vamos licitar e acompanhar a destinação final”, afirmou Fabrício Rocha, da Divisão de Almoxarifado da Itaipu.
A medida também acata as diretrizes do Sistema de Gestão da Sustentabilidade (SGS) da empresa. Lançado em junho, esse modelo corporativo prevê que todos os programas e projetos desenvolvidos pela binacional estejam em conformidade com os princípios desse conceito sistêmico, baseado no equilíbrio da manutenção dos aspectos econômicos, culturais, sociais e ambientais da sociedade.
Triagem
Desde os anos 1980, os galpões dos almoxarifados da hidrelétrica começaram a acumular milhares de peças de eletroeletrônicos quebrados e irreparáveis. A armazenagem era a única saída à época, já que não era comum empresas especializadas no descarte ideal desses produtos.
Antes de serem considerados inservíveis, esses equipamentos passaram por minuciosa triagem, feita com auxílio das áreas de Informática e Bens Patrimonais e Alienações. Nessa seleção, acessórios que contêm materiais contaminantes como chumbo e silício foram separados das carcaças. O que podia ser consertado, mas não atendia às necessidades de Itaipu, passou a ser doado regularmente às instituições sociais.
Somente em 2012, a Itaipu doou 496 computadores para 41 entidades do gênero, no Brasil e Paraguai. Como resultado, sobraram apenas as sucatas descartadas após aprovação da Diretoria de Itaipu.
Entre as 50 toneladas de resíduos que serão licitadas estão 2.040 toneladas de sucatas de equipamentos como telefones, mouses, caixas de som, além de 1.177 teclados, 1.004 monitores, 791 CPUs, 597 impressoras, 44 relógios de ponto, entre outros. Entre esse vasto material, acondicionado em grandes 23 caixas de madeira, está um IBM Personal Computer XT (IBM 5160) de 1983, popularizado como “XT”, um dos primeiros computadores pessoais. “Isso aqui é um xistêssauro”, brincou José Diniz Goulart Borges, gerente da Divisão de Almoxarifado de Itaipu.
“Até pouco tempo, não tínhamos no mercado de resíduos sólidos empresas certificadas para a destinação final desses equipamentos. Agora já existem empresas capazes de atender as exigências ambientais para este tipo de destinação”, afirmou Diniz.
Logística reversa
A primeira licitação para descarte sustentável de lixo eletrônico é feita conforme os preceitos da logística reversa. O conceito prevê a devolução dos produtos no pós-consumo aos seus fabricantes ou retorno desses insumos ao ciclo produtivo. “Num futuro muito próximo, os fornecedores serão responsáveis pela coleta desses materiais”, disse Fabrício Rocha, da Divisão de Almoxarifado da Itaipu.
A Diretoria Financeira possui um projeto de Logística Reversa, contemplado no Planejamento Estratégico da empresa. “Usávamos este conceito já em 2008. Itaipu sempre foi facilitadora da destinação responsável dos seus passivos”, disse Rocha. No início deste ano, a empresa repassou 3 mil pneus à Reciclanip, entidade brasileira que coleta e realiza a destinação de pneus inservíveis.
A empresa desenvolve ainda outras iniciativas que atendem ao preceito da logística reversa. Entre elas está o trabalho de recuperação do gás CFC (clorofluorcarboneto) extraído do processo de descontaminação dos bens inservíveis, como ares-condicionados, freezer, bebedouro e geladeira.