Carlos Newton/Tribuna da Imprensa - Ao contrário do que muitos esperavam, o ex-diretor geral do Dnit Luiz Antônio Pagot não usou a prerrogativa de ficar calado, ao depor nesta terça-feira na CPI do Cachoeira.
Pagot pouco revelou
A revelação mais importante foi dizer que o dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, era amigo do senador Demóstenes Torres, que certa vez os convidou para jantar em seu apartamento funcional.
Essa declaração desmente tanto Demóstenes como Cavendish. Durante seu processo de cassação, o senador, em depoimento ao Conselho de Ética do Senado, afirmou que não conhecia Cavendish. E o empresário sempre negou conhecer Demóstenes.
Cavendish está convocado para depor na CPI do Cachoeira esta quarta-feira, mas já avisou que não responderá as perguntas de parlamentares.
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DETALHES
Pagot deu detalhes, afirmando que o jantar ocorreu em fevereiro de 2011, em Brasília. Ele disse ter sido convidado diretamente por Demóstenes e só soube da presença de Cavendish ao chegar ao apartamento funcional do então senador. Cavendish estava acompanhado do então diretor da empresa para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu, e outros dois diretores da empreiteira.
“Terminou o jantar e [Demóstenes] me convidou para uma sala reservada, apenas ele e eu. Nessa sala, ele me disse o seguinte: eu tenho dívidas com a empresa Delta, ela tem me apoiado nas campanhas, e eu preciso ter alguma obra com o meu carimbo”, afirmou Pagot à CPI.
Demóstenes, que foi apontado nas investigações da Polícia Federal como sócio oculto da Delta, nunca registrou doações da empreiteira em suas contas de campanha declaradas à Justiça Eleitoral.
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CAMPANHAS
Pagot foi convocado pela CPI porque afirmou à imprensa ter sido incumbido de pressionar empreiteiras contratadas pelo Dnit, para que contribuíssem financeiramente para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência. Hoje ele reafirmou à CPI que isso foi feito e as doações devidamente registradas na Justiça Eleitoral.
Pagot também relatou os contatos que manteve com Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da estatal rodoviária do governo de São Paulo, a Dersa.
Conforme relatou, Paulo Preto forçou a mudança na forma de contratação de empreiteiras, num convênio de R$ 3,6 bilhões firmado em 2009 com o governo federal, no qual a União participou com R$ 1,2 bilhão. O convênio envolvia as obras do contorno sul do Rodoanel.
Pagot disse ter estranhado a insistência de Paulo Preto e afirmou ter se posicionado contrariamente à forma de contratação defendida pela Dersa. Segundo ele, em compromisso assumido junto ao TCU, Paulo Preto afirmou que o valor da obra não passaria dos R$ 3,6 bilhões previstos.
Posteriormente, contudo, a Dersa apresentou ao Dnit um pedido de aditivo contratual, no valor de cerca de R$ 270 milhões.
Esta quarta-feira, quem depõe na CPI é o próprio Paulo Preto, que promete revelar os bastidores da política. Se o fizer, José Serra estará liquidado.