Milton Corrêa da Costa - A instalação, nesta quinta-feira 20/09, da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, assim como foi a ocupação do Complexo do Alemão e suas cercanias, pela união da forças de segurança, no memorável 25 de novembro de 2010, é um marco histórico da política de segurança do Estado, num projeto vitorioso de pacificação de comunidades até então submetidas, durante longos anos, ao medo, ao terror e à opressão das armas de guerra, onde infelizmente algumas ainda se encontram sob o domínio de narcoterroristas em favelas não pacificadas, apesar da dura e permanente repressão policial.
A Rocinha, considerada até então área de difícil tomada pelas forças legais, face as suas características peculiares de favela-bairro e região extremamente acidentada (66% de sua área está acima da cota de 100m), era considerada o 'quartel general’ do poder financeiro do narcotráfico no Rio, fato que lhe conferia relevante importância estratégica na estrutura do narcoterrorismo.
Situada na Zona Sul do Rio Barra da Tijuca , entre os bairros da Gávea e São Conrado, considerada a maior favela da América Latina (850 mil metros quadrados e 70 mil habitantes), a Rocinha era o principal centro de refino da pasta básica de coca no Rio, na produção da cocaína e outros derivados como o oxi e o crack - vários laboratórios de refino ali foram encontrados- além de importante centro de comércio do ecstasy, uma droga sintética muito consumida por jovens de classe média e alta.
Por sua localização estratégica, situada entre a Zona Sul do Rio, atendia consumidores de drogas de maior.poder aquisitivo, os verdadeiros financiadores da violência e dos fuzis do banditismo.
É sabido que UPP não é projeto social, porém é a estratégia de ordem pública que faltava para proceder a invasão social e trazer o resgate da cidadania e a paz a moradores das localidades onde estão instaladas. Na Rocinha falta saneamento básico -o índice de tuberculose na região é considerado alto- falta coleta eficiente de lixo, faltam ainda projetos de urbanismo, mas tudo isso será possível agora equacionar.
Obviamente que não se pode imaginar, num processo de tamanha transformação, que moradores do local se livrem rapidamente do medo e das represálias do tráfico. As sequelas do medo e a desconfiança de moradores ainda persistirão por algum tempo. Só o tempo dará àquela comunidade e a outras já pacificadas- já são 28 UPPs instaldas no Rio- a crença definitiva no poder legal do Estado.
Haverá sempre um tempo de adaptação no aperfeiçoamento das relações polícia/comunidade, onde o policial militar precisa ser visto pelo morador da localidade como parceiro e verdadeiro defensor da cidadania e não como um simples fiscal da lei ou opressor.
Fica constatado também, que a era do “mitos do tráfico”, como o bandido Nem que ali reinava, é finda na Rocinha. O império agora é do poder legal do Estado, não o do medo e do terror. A consolidação da UPP na Favela da Rocinha é, portanto, o mais duro golpe até hoje desferido na estrutura econômica do narcotráfico no Rio e uma vitória da sociedade contra o banditismo. A Unidade de Polícia Pacificadora, uma estratégia de polícia de proximidade, é um novo tipo de policiamento, sólido e permanente na área de segurança pública. Uma política de estado. Um remédio atípico e eficiente para uma criminalidade atípica e violenta como a do Rio.
A implantação da UPP da Rocinha representa, pois, mais um marco divisor na história policial do Rio, uma quebra de paradigmas e sobretudo a vitória da lei e da ordem. Ao governador Sérgio Cabral, ao secretário José Mariano Beltrame, ao aparelho policial do estado e aos dois policiais militares, que durante o processo de pacificação da localidade tombaram mortalmente no cumprimento do dever, os aplausos de toda a sociedade.O preço da liberdade e da paz social é a eterna vigilância. O sonho da paz agora é real.
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Milton Corrêa da Costa é tenente coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro