Fonte: Tribuna da Imprensa - Mauro Santayana - O discurso da Presidente Dilma Rousseff na abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas foi sóbrio, não obstante o apelo poético – e feminino – das primeiras palavras. Sóbrio, mas firme, na defesa da posição tradicional do Brasil, exposta por Ruy Barbosa, na Conferência de Haia, há 105 anos. O Brasil vê, em todas as nações do mundo, o mesmo direito de autodeterminação, mas isso não nos exime de manifestar a preocupação com comportamentos nacionais que coloquem em risco a paz e os direitos universais do homem.
Grande parte de seu pronunciamento foi dedicado à situação econômica, com a guerra cambial decretada pelos Estados Unidos e seus aliados, contra os países conhecidos como emergentes. Na realidade, não se trata de países que emergem, mas que resistem historicamente contra o colonialismo imperial, que mudou de tática, mas não mudou de natureza.
Foi clara a sua posição, assegurada pela Organização Mundial de Comércio: alterar as tarifas de entrada de mercadorias no Brasil não significa protecionismo, mas, sim, legítima defesa contra protecionismos embuçados, como os da desvalorização monetária, que tornam inviáveis as exportações dos países em desenvolvimento.
Foi também importante o que disse sobre a Síria. Como acentuou, milhões de descendentes de sírios e libaneses são brasileiros. Sempre participaram da vida nacional e não são diferentes das outras etnias que fazem a nossa constelação humana. É inimaginável a história brasileira sem essa presença cultural que marca a nossa vida.
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ISLAMISMO
Mas para os que conhecem a sutileza diplomática, foi um recado indireto para Washington, que continua insistindo na tese de que a Tríplice Fronteira é uma região que serve de base ao “terrorismo muçulmano”. E o recado se completou, com a menção ao Islã. São duas coisas que devem ser separadas: o islamismo como religião e cultura, e a ação política das nações.
Sendo assim, e a partir da idéia de que o humanismo é uma atitude comum a todas as grandes religiões do mundo, a conciliação entre os cristãos e os muçulmanos – o chamado “Encontro de Civilizações”, proposta pela Turquia – recebeu o pleno apoio do Brasil.
Foi, da mesma forma, importante tratar do Conselho de Segurança. Uma imposição dos vencedores da Segunda Guerra Mundial, o Conselho já não representa a realidade histórica. O mundo mudou, e muito, desde então, e a ONU, se quer continuar sendo a assembléia de todos os povos, deverá ajustar-se ao tempo. É chegada a hora de que os membros natos do mais alto órgão da ONU, que deveria ser o guardião mundial da paz, entendam a necessidade de renunciar ao seu arbítrio societário e abrir espaço a outras nações.
(Do Blog de Santayana)