Foto: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional - Será utilizado no trabalho modelo em escala real com quase 10 toneladas. Segunda etapa do estudo prevê desenvolver um VLT sem os cabos externos de alimentação – as chamadas catenárias.
Um modelo em escala real do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), produzido pela empresa cearense Bom Sinal, já está em Foz do Iguaçu para a implementação de um inédito sistema de tração elétrica. O trabalho será desenvolvido pela Itaipu Binacional. A intenção dos engenheiros e técnicos da empresa é desenvolver o primeiro VLT elétrico do Brasil.
Será utilizado no trabalho modelo em escala real com quase 10 toneladas.
Atualmente, os veículos comercializados pela Bom Sinal – a única empresa do segmento do País – são movidos a diesel e biodiesel.
O mock-up, como o protótipo também é chamado, chegou ao Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Montagem de Veículos Movidos a Eletricidade (CPDM-VE), o Galpão G5 da usina de Itaipu, no sábado (27), após uma viagem rodoviária de duas semanas. Foram mais de 3 mil quilômetros, partindo de Barbalha, sede da empresa no Ceará, até o Oeste paranaense.
Por causa das dimensões do veículo, a viagem foi feita em carreta rebaixada, adaptada para o transporte, e velocidade reduzida. O mock-up pesa de 8 a 10 toneladas e tem 11 metros de comprimento, 4 de altura e 3 de largura.
O engenheiro Celso Novais, coordenador brasileiro do Projeto Veículo Elétrico (VE), explicou que a primeira fase do projeto será promover um estudo de acomodação do sistema de tração elétrica no protótipo. “Ou seja, será transformar esse VLT, que é a diesel, numa versão puramente elétrica”, adiantou. Essa fase deve durar um ano e meio.
A segunda fase do estudo, que deverá levar mais um ano e meio para conclusão, será para desenvolver uma versão elétrica do VLT sem as catenárias – como são chamados os cabos de alimentação externos, instalados sobre os trens, muito comuns nas versões europeias.
“A remoção das catenárias vai representar uma grande evolução. Queremos usar um sistema com baterias de sódio, que provavelmente terá ou uma carga rápida, ou um sistema sem fio de recarga, ou um sistema de recarga nas paradas. Todas as possibilidades serão estudadas”, antecipou.
Outra vantagem do trem sem catenárias, segundo Novais, está no preço final do produto. A supressão dos cabos de alimentação poderá reduzir para um terço o valor gasto na instalação de um projeto de VLT numa cidade.
Primeiros passos
O engenheiro Márcio Massakiti Kubo, da Assessoria de Mobilidade Sustentável (AM.GB), disse que a vinda do mock-up a Foz do Iguaçu vai permitir o início da chamada análise de interferência mecânica do projeto. Será verificado o espaço disponível para a instalação da tração elétrica, incluindo motor, sistema de acoplamento, caixa de redução, sistemas de fixação, além da parte de eletrônica de potência, responsável pelo acionamento do motor.
Outra preocupação, segundo o engenheiro, será especificar as características técnicas do sistema de tração que melhor se adaptam ao tipo de aplicação desejada – ou seja, o transporte público de passageiros.
“O regime de trabalho requerido para esse tipo de aplicação, que envolve aceleração, torque e velocidade, é diferente de um caminhão ou um ônibus”, observou. “Por isso, teremos que determinar exatamente as características técnicas de cada componente”, completou.
De acordo com Celso Novais, será necessário instalar um pequeno trecho de trilhos dentro de Itaipu, para os testes iniciais. Ainda segundo ele, a versão elétrica do VLT poderá alcançar velocidade de até 170 km/h, ante os 120 km/h atuais da versão a diesel.
Com essas características, o veículo terá potencial para ser utilizado não apenas no transporte urbano de passageiros, mas também em trechos intermunicipais. A capacidade mínima de cada composição, com dois vagões, é de até 96 passageiros. Mas o sistema poderá ser configurado para carregar até quatro vagões – sendo dois módulos intermediários.
Parcerias
Paralelamente ao desenvolvimento do VLT elétrico, o Projeto VE vai intensificar o contato com empresas com know-how reconhecido no setor e que poderão dar suporte técnico ao trabalho. Além da atual parceria KWO, que opera um VLT na Suíça, poderão ser incorporadas ao projeto as empresas Stadler, da Suíça, que há mais de 50 anos atua no segmento; a Voith e a Siemens, da Alemanha; e o braço europeu da canadense Bombardier.
Os primeiros contatos com as empresas já foram feitos no final de agosto, durante viagem de integrantes do Projeto VE à Europa.
Família VE
Com o VLT, a família de protótipos do Projeto VE ganha um novo integrante. Itaipu e parceiros do projeto já desenvolveram modelos elétricos do Palio Weekend, do utilitário Marruá, além de um caminhão, um ônibus puramente elétricos e um ônibus híbrido a etanol.