Programa Coleta Solidária e o protótipo de carrinho elétrico chamaram a atenção em evento organizado pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).
As ações do Programa Coleta Solidária de Itaipu foram o grande destaque da terceira edição da Expocatadores, em São Paulo, dividindo as atenções com o padrinho do projeto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O programa de Itaipu virou modelo de gestão a partir da organização do trabalho e desenvolvimento de um protótipo de carrinho elétrico para o transporte de materiais recicláveis na região da Bacia do Paraná 3 e depois para o restante do País.
O evento, que aconteceu nesta semana, foi organizado pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e contou com um público de aproximadamente 1.500 catadores de 25 Estados brasileiros, visitantes de todo o mundo e várias autoridades. O diretor-geral de Itaipu, Jorge Samek, foi um dos homenageados. O ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, também esteve presente.
Samek foi homenageado pela importante contribuição do programa de Itaipu para a implementação do Programa Nacional de Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos em todo o País. O Coleta Solidária de Itaipu está presente nos 29 municípios que fazem parte da BP3 e recebeu investimentos de US$ 396 mil em 2011. O programa está organizado em 25 associações e três cooperativas e, por ter se tornado referência nacional, já está presente em nove estados da Amazônia Legal.
Um dos resultados do Coleta Solidária foi a criação de um carrinho elétrico para transporte de materiais coletados pelos catadores. O carrinho elétrico foi desenvolvido por técnicos de Itaipu, por sugestão da então primeira-dama, Mariza Letícia, e começou quase imediatamente a ser fabricado por uma empresa de Curitiba.
Adotado inicialmente por cooperativas de catadores da região, foi aprovado pelo movimento nacional dos catadores, que receberam 150 carrinhos elétricos para testes, comprovando sua viabilidade.
Parcerias
Durante as homenagens, Samek falou da importância das parcerias e como outras empresas podem seguir o caminho da sustentabilidade. “Quando assumi o cargo, o presidente Lula disse que eu teria a responsabilidade de assumir a empresa, mas pediu para nunca esquecer de que a menos de um quilômetro do meu escritório havia pessoas desempregadas, pai de família passando fome, criança fora da escola, meninas se prostituindo”.
E completou: “Com uma grande empresa como essa, com esse potencial e esse capital de conhecimento podemos fazer muito para minorar essa situação”, lembra Samek. Hoje, o Coleta Solidária é exemplo de como uma parcela da sociedade, antes marginalizada, pode se organizar e ser protagonista na discussão de uma política pública nacional. Itaipu integra o Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores, além de atuar, desde 2008, em parceria com o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis.
“Levamos a política nacional dos catadores para a região da Bacia do Paraná 3 e eles levaram o nosso know-how para o resto do Brasil. Essa parceria contou com repasse financeiro para que eles façam articulações, dando condições para os catadores terem um crescimento digno”, explicou Samek.
O ex-presidente Lula acrescentou: “Eu não vejo mais aquela figura que representava apenas um cidadão com uma carroça catando papel e sendo humilhado nas ruas, estou vendo aqui homens e mulheres que conquistaram o respeito de todos os brasileiros”.
Na prática
O objetivo agora é baratear cada vez mais o custo do veículo. “O preço do carrinho ainda é alto, por volta de R$ 9 mil, mas a Itaipu, por meio de uma parceria com a penitenciária industrial, que atua como uma cooperativa de presidiários, vai trabalhar para reduzir esse preço pela metade. Segundo Lula, a redução é uma questão de tempo. “Esses carros elétricos vão ficar mais baratos daqui para frente”, garante o ex-presidente.
O representante do MNCR, Severino Lima Júnior, ressaltou que a categoria precisa é de um modelo de coleta que traga melhores condições de vida e de trabalho. Ele acredita que a e a tecnologia pode ajudar nisso, “pois ninguém quer viver nos grandes centros urbanos puxando carroça”.
Pesquisa Ibope
Durante o evento, foi apresentada uma pesquisa nacional com objetivo de conhecer melhor os hábitos de consumo e descarte no Brasil. O levantamento detectou que, atualmente, apenas 35% da população é atendida pelo serviço de coleta. Desta parcela, só na metade dos casos a coleta é feita pelas prefeituras.
O coordenador do programa Água Brasil do WWF, Fábio Cidrin, lembrou que apenas 10% dos municípios do Brasil prepararam sua política para resíduos sólidos. Cidrin também valorizou a atuação de empresas e entidades que apoiam o trabalho do catador como agente que colabora para um meio ambiente mais sustentável, gerando renda e ganhos.
“Hoje, R$ 8 bilhões são perdidos com a não coleta e outros bilhões estão sendo gastos para enterrar esse material que poderia ser reciclado. Na parte ambiental, o passivo é gigantesco com a incineração do lixo e o chorume que contamina o solo”, avalia.