Com as duas aquisições, plantel dessa ave, ameaçada de extinção, passa a ser de 16 animais. Outros dois estão a caminho
Foi uma aventura inusitada para duas jovens harpias: mais de 24 horas de viagem para percorrer a distância de quase 3 mil quilômetros entre Paraupebas (PA) e Foz do Iguaçu (PR). O esforço valeu a pena. As duas são as mais novas integrantes de um dos projetos de maior sucesso de reprodução em cativeiro da espécie no País. A harpia é uma das maiores aves de rapina do planeta e está ameaçada de extinção.
O programa é desenvolvido no Criadouro de Animais Silvestres da Itaipu Binacional (Casib), do Refúgio Biológico Bela Vista. O veterinário Wanderlei de Moraes, um dos coordenadores do projeto, não escondeu seu entusiasmo ao receber os animais que desembarcaram na tarde desta terça-feira (22), no Aeroporto Internacional das Cataratas.
“Após 13 anos de pesquisas e de muito esforço, agora passamos a ter um plantel considerável, para um programa de reprodução com genética diversificada”, comemorou Moraes.
A partir de um exame preliminar, as duas aves foram identificadas como fêmeas; uma tem aproximadamente 2 anos e a outra 4 anos de idade. Elas ficarão num quarentenário do Refúgio, onde passarão por diversos exames, entre eles para confirmação do sexo.
Depois disso, elas passarão a fazer parte do programa de reprodução desenvolvido no Casib e deverão estar disponíveis para a visitação do público ainda neste ano. A maturidade sexual desses animais – que vivem cerca de 60 anos – é atingida entre o quinto e o sétimo ano de vida.
Segundo Moraes, o Casib está buscando parceiros com a finalidade de montar uma rede de criadores interessados em colaborar com o aumento da população da ave. “Assim, poderemos destinar nossos excedentes e ampliar o número de mantenedores da espécie”.
Com as duas novas aquisições – originadas de apreensão pelo Ibama em cativeiro ilegal na região de Tucuruí e depois tratadas no Parque Zoobotânico Vale – o Refúgio Biológico Bela Vista passa a contar com 16 harpias. Há ainda dois ovos, que sinalizam para a chegada de mais dois integrantes em breve.
Na Itaipu, a ideia de reproduzir a espécie em cativeiro surgiu em 2000, quando o Refúgio Biológico recebeu um macho apreendido pela Polícia Civil. Dois anos depois, chegava a primeira fêmea; no dia 13 de março de 2006, os biólogos e veterinários de Itaipu avistaram o primeiro ovo. O caminho para reprodução estava aberto.
Após quatro tentativas frustradas – o embrião de um ovo morreu e outros três filhotes não sobreviveram aos primeiros dias –, nasceu no dia 15 de janeiro de 2009 o primeiro espécime mantido com sucesso pelo projeto. Na sequência, vieram os outros filhotes.
Segundo o biólogo Marcos de Oliveira, “nas primeiras semanas o filhote se alimenta cinco vezes ao dia. Ao final de 24 horas, ele chega a comer de 30% a 35% do próprio peso. Por isso, cresce muito rápido”. A fase de incubação varia de 53 a 56 dias, com temperatura e umidade controladas. Depois, os filhotes são transferidos para um viveiro – é o caso de duas outras aves que nasceram nos dias 29 de dezembro e 04 de janeiro.
Também conhecida como gavião-real, a harpia (Harpia harpyja) chega a medir 2,5m de envergadura. Originalmente, a espécie habitava uma ampla região que ia do Sul do México ao norte da Argentina, compreendendo todo o atual território brasileiro. O contínuo desaparecimento das florestas, no entanto, fez reduzir drasticamente a população dessas aves, que precisam de grandes áreas de mata contínua para sobreviver.
Hoje, no Brasil, ela só é encontrada em abundância na região do bioma amazônico, além de poucos registros no que restou da Mata Atlântica. No Paraná, embora sua imagem esteja representada no alto do brasão de armas, sua presença é rara. O mais recente registro foi em 2005, no município de General Carneiro, no sul do Paraná.