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A agonia de Frei Tito, nas mãos do major Albernaz
  Data/Hora: 28.mai.2013 - 11h 56 - Colunista: Cultura  
 
 
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Fonte: Tribuna da Imprensa - Fernando de Santa Rosa - Em “O Globo” do dia 23/11/1984, deparei-me com notícia publicada sob o título: “Exército prende Major que dava golpes como Coronel”.

 

Surpreso, verifiquei tratar-se do major reformado BENONE DE ARRUDA ALBERNAZ, uma das mais raras “pérolas” das cultivadas pelo regime ditatorial implantado em 1964.

 

Notabilizou-se ele pela combinação da truculência irracional da pior das bestas feras, com a covardia dos sádicos, o que permitiu que fosse traçado seu perfil de grande torturador e homicida.

 

Entre seus vários crimes, lembro-me da descrição da “Paixão e Morte de Frei Tito”, no livro “Batismo de Sangue”, de autoria de Frei Beto.

 

No dia 17 de fevereiro de 1970, aquele frei dominicano foi transferido do Presídio Tiradentes para a sede da Operação Bandeirantes, a famigerada “OBAN”, em São Paulo, onde, no dia seguinte, o major em questão, chefe da equipe da pesada, apareceu.

 

OPERAÇÃO OBAN

Começando a manipular os eletrodos para os competentes choques elétricos, disse: “Quando venho para a “OBAN” deixo o coração em casa” (como se ele realmente o possuísse). Odeio padres e não há nada que me impeça de matar um terrorista. guerra é guerra.”

 

Lógico que guerra é guerra. E militar só se realiza, profissionalmente, numa guerra porém, como há militares e militares, há guerras e guerras.

 

E por tratar-se de um desonroso tipo de guerra, forjado por um desprezível militar, veio-me à lembrança outra figura, desta vez argentina, a do comandante Astiz, notabilizado como “herói, de outra famosa guerrinha contra a juventude argentina que ousava discordar do também regime ditatorial ali implantado. Matou e torturou à saciedade em nome da pátria.

 

Ocorre que não tardou a surgir uma guerra de verdade e desta vez contra a Inglaterra. E lá foi o famigerado comandante, não mais para torturar e matar jovens indefesos e sim, se preciso fosse, morrer pela pátria, que, supostamente, em defesa da qual, cometera tantos crimes covardes contra seus compatriotas.

 

Recebeu o comando das Ilhas Geórgia e, quando os ingleses lá chegaram, o pífio herói, em vez de defender sua pátria, honrosamente, até a morte, “assinou sua rendição sem dar um tiro sequer”, mostrando, assim, toda a extensão de sua covardia e pequenez.

 

ALBERNAZ

Com a imaginação criadora de um autêntico irmão de Satanás, Albernaz resolveu, em meio a uma “heróica sessão de tortura”, pois esta era a sua “guerra”, promover humilhação maior ao religioso inerte e sem defesa, ordenou-lhe: “abra a boca para receber a óstia sagrada.” E introduziu um fio elétrico cuja descarga arrebentou a boca de Frei Tito.

 

Com a alma atormentada e enlouquecida, Frei Tito suicidou-se, em 07/08/1974, enforcado em uma árvore de um convento perto de Lyon, França.

 

E esta pérola da ditadura de 1964, militar frustrado, que procurou se realizar, profissionalmente, numa “guerra infame e desonrosa”, tão somente para agradar os donos do poder e, com isto promover-se, aí está. Desta vez ostentando mais outros galardões no peito: além das medalhas de torturador e assassino, também as de estelionatário e de crime por falsa identidade.

 

A Nação não deseja revanchismo. Exige, sim, julgamento por crime de homicídio e tortura. Não existe anistia para homicidas e torturadores do Estado. A anistia é para aqueles que cometeram atos políticos delituosos contra o estado e não a favor do Estado.

 

Fernando de Santa Rosa é advogado
e capitão-de-mar-e-guerra reformado

 
 

 

 

 
 
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