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O breviário franciscano do Papa renova a política
  Data/Hora: 8.ago.2013 - 14h 43 - Colunista: Cultura  
 
 
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Fonte: O Tempo - Gaudêncio Torquato - Padre Américo Sérgio Maia, antigo vigário de Cajazeiras (PB), teve, um dia, que viajar 28 km a cavalo para dar extrema-unção a um doente. Cansado, logo perguntou: “Minha senhora, por que vocês não fizeram uma casa mais perto da cidade?”. Ouviu a ácida resposta: “Padre, e por que não fizeram a cidade mais perto da gente?”. Essa historinha serve para explicar o distanciamento de fiéis da Igreja Católica e sua perda para credos evangélicos.

 

A lição cai como luva para explicar também a perda de credibilidade dos políticos. A crise da nossa democracia representativa se ampara em múltiplas razões, mas o descolamento entre a esfera política e a sociedade se apresenta como o fator central. Políticos fecham os ouvidos ao barulho das ruas e menosprezam o sentimento da plebe.

 

E qual o motivo para tal afastamento quando se sabe que o mandato não pertence ao eleito, mas ao povo? A resposta contempla a mudança do conceito de política, de missão para profissão. Há muito deixamos de enxergar na representação política o conjunto que deveria agir em defesa de uma sociedade harmônica e fraterna, banhada nas águas da solidariedade. Os conjuntos legislativos são vistos como braços políticos do ciclo produção-consumo.

 

POLÍTICA

Sob esse prisma, o rosário de virtudes desfiado pelo papa Francisco para revitalizar a Igreja e resgatar a fé de rebanhos desgarrados não deixa de ser sábia contribuição para oxigenar a política. Afinal, partidos políticos, como credos e igrejas, mesmo sob o impulso da força monetária, devem ser entidades inspiradas no poder da norma. O pontífice usou as chaves da Igreja de Roma para abrir, por aqui, outras portas. O papa parecia querer nos deixar um legado valorativo, algo como um manual de conduta política, tão franciscano quanto ele, contraponto ao “Breviário dos Políticos”, aquele manuscrito que o cardeal Mazarino escreveu nos tempos dos Luíses XIII e XIV, pregando a desconfiança, a emboscada, a simulação e a dissimulação.

 

O livrinho papal, pinçado de seus pronunciamentos e entrevistas, alinha preceitos inerentes ao escopo da Política (com P maiúsculo), seja para uso da Igreja, seja para a vida partidária. A par da proximidade, apregoa a simplicidade. Simplicidade nada mais é que a presença do político real junto ao eleitor, sem estandartes e altares para poder se apresentar mais alto ou mais importante do que é.

 

A coleção de valores abriga, ainda, o compromisso da “nossa geração” de abrir espaço aos jovens, aos quais Francisco conclamou a serem “revolucionários, rebeldes, corajosos”. O que os partidos políticos e os dirigentes têm feito para cooptar a adesão da juventude? Mais uma vez, a voz do papa se faz ouvir: urge acabar com a Igreja que se comunica por documentos, à semelhança da mãe que se comunica com o filho por carta. O mesmo vale para a política. No entanto, partidos acreditam que acervos documentais farão o milagre da multiplicação de adeptos. Guinadas à esquerda, à direita ou ao centro não funcionam mais como anzóis para captar a atenção dos eleitores.

 

A sociedade quer soluções, resultados, igrejas e partidos que saibam ouvir suas preces.

 
 

 

 

 
 
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