Fonte: Tribuna da Internet
Plínio Fraga
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A revista norte-americana Forbes divulgou a lista dos mais ricos do mundo. Incluiu entre eles o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. O patrimônio de US$ 1 bilhão coloca Macedo na 1.868ª posição, o último entre os 48 bilionários brasileiros citados. Aos 70 anos, casado, pai de três filhos, morando em Atlanta (EUA), Macedo é caracterizado como empresário de mídia “self made”. Que se fez por força própria, na expressão americana.
A Forbes tenta explicar a origem do dinheiro de Macedo. Lembra que criado como católico, converteu-se à religião evangélica em 1970. Em 1977, fundou sua própria igreja, baseada na “teologia da prosperidade”. Baseia-se na proposta de que a fé e o compromisso de atuação e de contribuições financeiras com a igreja são recompensados com riquezas.
Em julho de 2013, Macedo tornou-se banqueiro ao adquirir 49% do Banco Renner, “que possui uma das mais altas taxas de juros no Brasil”, salientou a revista. “A transação espantou porque o Banco Central do Brasil tratada Macedo como investidor estrangeiro uma vez que ele é baseado nos EUA”, assinalou.
REDE RECORD
A maior parte da fortuna de Macedo tem origem na Rede Record, a segunda maior emissora do Brasil, adquirida em 1990. “Não está claro como ele conseguiu o financiamento para comprar a empresa: o Ministério Público do Brasil tem sondado a questão há mais de dez anos e produziu relatórios que alegaram que ele usou os fundos da igreja. Macedo se recusou a comentar”.
O império de mídia de Macedo já inclui uma filial Telemundo com sede em Atlanta. Em 2014, Macedo inaugurou uma enorme réplica do Templo de Salomão em São Paulo, com capacidade para 10 mil fiéis. A mega-igreja custou US$ 200 milhões.
Antes de mais nada diga-se que a fé é um negócio mundial. Listas de pastores mais ricos do mundo se multiplicam, sendo lideradas por pastores americanos milionários. A Nigéria produziu cinco deles, todos com patrimônio em centenas de milhões de dólares. Mas bilionário até agora só Macedo.
OUTROS MILIONÁRIOS
No Brasil, outros bispos de denominações evangélicas seguem o caminho de Macedo. Valdemiro Santiago, ex-protegido de Macedo e hoje inimigo figadal, criou a Igreja Mundial do Poder de Deus. Seu patrimônio é estimado em US$ 220 milhões. Silas Malafaia criou sua própria igreja, Vitória em Cristo, em 1990. Tem bens na ordem de US$ 150 milhões e arrecada contribuições para reunir US$ 500 milhões para criar uma rede mundial de emissoras evangélicas. O pastor R. (Romildo) R. (Ribeiro) Soares acumula US$ 150 milhões em bens, entre eles um jatinho King Air 350, avaliado em US$ 5 milhões.
É preciso separar os líderes das igrejas de seu rebanho. Um quarto dos brasileiros se declara evangélico. São mais de 50 milhões de pessoas. A maioria pobres, com pouca escolaridade. Sua fé deve ser respeitada. Há vários estudos que mostram a importância das igrejas evangélicas na melhoria das relações familiares, na redução de vícios e na capacitação e melhoria da força de trabalho. De certa maneira, dedicar-se a uma religião pode mudar vidas desregradas, núcleos familiares conflituosos e estimular o desempenho no trabalho e na criação de negócios. A “teologia da prosperidade” tem fundamento socioeconômico.
LIBERDADE DE CULTO
A liberdade de escolha de religião é mais sagrada do que o entendimento do papel dela na vida de uma pessoa. Mas, quando os braços de uma determinada religião começam a abarcar causas mais do que terrenas _ adquirindo redes de televisão, aviões, patrocinando campanhas e partidos eleitorais_, qual deve ser o papel do Estado?
Como o Estado deve acompanhar e fiscalizar o enriquecimento de seus líderes, todos voltando os negócios para meios de comunicação que funcionam como concessão pública? As igrejas gozam de isenção de impostos. Diversas investigações mostram operações de compra de emissoras e de bens com dinheiro vindo de contas do exterior por prepostos de igrejas.
O crescimento do poder midiático levou ao crescimento do poder político. Os evangélicos já têm um dos seus na presidência da Câmara dos Deputados. A questão não é a opção individual religiosa. É sim se o Estado omite-se na formação de um poder político financiado por doações crédulas, mas manipulado por interesses estritamente terrenos.