Dos maiores personagens com quem convivi. Fomos muito amigos, ele tinha precisamente a minha idade. Resistiu á ditadura, de uma forma pessoal e intransigente, não cedendo em nada aos generais de plantão. O Evaristo Arns, memorável, homérico, inesquecível, representando o que alguém pode ter de mais grandeza, coragem, convicção, está no assassinato e na Missa de Sétimo Dia, do jornalista Vladimir Herzog.
Em relação ao assassinato, nada podia ser feito. Foi um ato de covardia, rotineiro no comportamento deles. E mais desprezível, a tentativa de transformar em suicídio, um assassinato vil e premeditado. Com apoio da família, Dom Evaristo quis fazer da Missa um acontecimento nacional e internacional. Programou para a sua adorada Catedral da Sé.
Os generais vetaram, ordenaram: "Tem que ser numa igreja pequena e distante, pode ser em São Paulo". Sem arrogância, mas também sem concessão, respondeu: "Já programei tudo na minha Catedral, eu mesmo rezarei a missa". Ficaram 2 ou 3 dias insistindo. Não conseguiram nada. Para demover um homem como Dom Arns, só cometendo outro assassinato. Os generais podiam tudo, mas não podiam assassinar Dom Evaristo.
A missa se realizou na Catedral, espetáculo emocionante e indescritível, nas ruas e lá dentro. Nas ruas e do lado, milhares de pessoas, metade militares. Os chamados "atiradores de escol" ocuparam edifícios e residências, mirando a Catedral e a multidão. Inacreditável, mas histórico.