A equidade de gênero sempre fez parte da obra de Alice Ruiz, poeta curitibana que, neste dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, inaugura a exposição Poeta Alice, no Ecomuseu da Itaipu. A abertura da mostra, às 19 horas, tem entrada gratuita para o público em geral.
Fotos: Alexandre Marchetti / Itaipu Binacional - A exposição faz uma retrospectiva da carreira de Alice em três expressões artísticas que, na visão da autora, constituem gêneros literários bastante distintos e independentes: o haikai (forma poética de origem japonesa, normalmente em três versos, que remete à natureza e à meditação); a poesia ocidental em papel (com influência do concretismo e do simbolismo, apesar de não se declarar uma concretista ou simbolista per se) e letras de músicas, muitas das quais resultaram em parcerias com artistas como Arnaldo Antunes, Tetê Espíndola, Itamar Assumpção e outros nomes da MPB.
Para Alice, a exposição no Ecomuseu é uma combinação de diversas emoções. “Primeiramente porque é raro você receber homenagem em vida. Em segundo lugar, porque é uma emoção muito grande ver as minhas filhas (Aurea e Estrela Leminski, curadoras da mostra) cuidando disso tudo. E uma das grandes questões na minha vida, desde sempre, é a condição da mulher. Daí culmina que tudo isso acontece no Dia da Mulher. E aqui, em Foz, que é uma cidade em que eu me sinto em casa. Para mim, é uma super-homenagem."
A afinidade com os haikais, conta a escritora, ocorreu naturalmente. Ainda adolescente, ela costumava se retirar junto a um regato, que passava nos fundos da casa. Ali, produziu seus primeiros versos. Quando conheceu Paulo Leminski, com quem foi casada por 20 anos, mostrou esses escritos, que o poeta identificou como haikais e lhe apresentou Matsuo Basho (escritor japonês do século 17, considerado precursor e um dos mestres do gênero).
“Eu sempre fui uma haikaista. Eu tenho uma identificação espontânea com isso desde sempre. Eu só aprimorei com os anos”, afirma Alice.
Sobre as duas outras expressões artísticas presentes na mostra, a poesia em papel e letras de música, Alice dá sua própria definição: “A poesia em papel é o amor e a letra de música é paixão. Porque a relação com a poesia é um tempo que você investe. É uma construção. Já a letra de música é como a paixão. Ou é avassaladora, ou nem te toca”.
Atenta a qualquer questão de gênero subliminar à linguagem, a escritora rapidamente detecta qualquer insinuação de que seu trabalho derive da produção de Leminski. Ressalta que a relação era de troca. Um influenciava o outro e é difícil delimitar e definir as influências de cada um.
“Tem muita coisa que a gente tem que fazer nesse território de homens e mulheres”, dispara, antes que a pergunta sobre Leminski seja concluída. “Na verdade, o que acontece com pessoas que se amam e convivem é que aprendem uma com a outra”, acrescenta.
A grande contribuição de Leminski para a produção literária de Alice foi, nas palavras da autora, sua “biblioteca incrível”. “Já conhecia muitos autores e alguma teoria poética. Mas, evidentemente, a biblioteca dele me abriu muitas perspectivas”, conta. “Havia também a forma como a gente conduzia o cotidiano, sempre falando de literatura, antenados, falando sobre o que tinha de novo e, principalmente, sendo o primeiro interlocutor um do outro, sendo o primeiro leitor do poema que tinha acabado de sair. E éramos rigorosíssimos. Por 20 anos foi assim”, completa.
Mostra Leminski
Paralelamente a Poeta Alice, o Ecomuseu também apresentará a exposição Meu Coração de Polaco Voltou, que revela as origens e as influências polonesas na obra de Paulo Leminski. Os assuntos são divididos por temas e a mostra é composta por painéis, com cerca de 40 peças originais: fotos do acervo particular, livros e documentos do artista. Também será exibido o documentário Vida e Sangue de Polaco do premiado diretor Sylvio Back, no qual Paulo Leminski faz um depoimento sobre sua descendência polonesa. Ambas as exposições permanecerão no espaço cultural mantido pela Itaipu até o próximo dia 30 de setembro.
Serviço
O que: Exposições Poeta Alice, de Alice Ruiz, e Meu Coração de Polaco Voltou, de Paulo Leminski.
Quando: de 8 de março a 30 de setembro de 2017.
Onde: Ecomuseu da Itaipu (Av. Tancredo Neves, 6001 – Foz do Iguaçu, PR).
O Ecomuseu está aberto de terça-feira a domingo, das 8h às 17h. Ingresso: R$ 12 (moradores dos municípios lindeiros ao lago de Itaipu não pagam entrada). Mais informações: www.turismoitaipu.com.br.
A Itaipu
Com 20 unidades geradoras e 14.000 MW de potência instalada, a Itaipu Binacional é líder mundial na geração de energia limpa e renovável, tendo produzido, desde 1984, mais de 2,4 bilhões de MWh. Em 2016, a usina retomou a liderança mundial em geração de energia, com a marca de 103.098.366 MWh gerados. A hidrelétrica é responsável pelo abastecimento de cerca de 15% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 75 % do Paraguai.