João Maria Teixeira da Silva - Enquanto em diversas partes do mundo a temporada de caça é feita anualmente, em nossa cidade tradicionalmente, pelo menos no tapetão, ela acontece de quatro em quatro anos. Teve gente inclusive (e isto é de conhecimento de todos), que em outros tempos apregoava em alto e bom som: “Se desta vez eu não caçá-lo, eu rasgo o meu diploma”.
Essa semana, por diversas vezes ouvi de pessoas letradas, com canudo na parede e uma ótima conta bancária, insinuações a respeito de cassações e impugnações. E o mais espetacular nisso tudo, é que eles próprios confessam que se não for por essa via, fica difícil vencer. Uma possível impugnação no ponto de vista deles é a única saída.
E fazem com a maior naturalidade, só faltando citar Maquiavel: “é natural que se arruíne entre tantos que não são bons - quem manda ser honesto e sair por aí professando o bem e fazendo boas administrações”.
Como entender a política? Para uns, poderíamos dizer que é a “arte de administrar conflitos”, “para outros a fórmula mágica de criar atritos”. Os estadistas, por exemplo, estão mais afinados com os objetivos do filósofo grego Aristóteles, para o qual a política é a ciência que tem por objeto a felicidade humana, capaz de assegurar uma vida feliz ao cidadão.
Para outros, pelo visto, ao lerem a principal obra de Nicolau Maquiavel, “O Príncipe”, passaram a interpretar uma das suas principais citações: “os fins justificam os meios”, de acordo com a sua própria formação, de acordo com o seu próprio caráter. E nessa interpretação houve uma inversão de valores. A política deixou de ser “a nobre arte de governar os povos e administrar o bem comum” para ser a arte do “Vale tudo”.
O objetivo é conquistar o poder a qualquer custo e assegurar uma vida feliz para os seus. E para chegar lá vale mentir, enganar, se aproveitar da bondade, da honestidade e até da ingenuidade das pessoas... Vale jogar charme, usar fendas abertas estrategicamente no campo jurídico com muita antecedência, por exemplo, com o objetivo de desestabilizar aqui para pegar ali...
Traduzindo: para esses, “Vale Tudo”. Vale inclusive, perambular pelo mundo cão, onde o que menos interessa é o cidadão..., onde o que menos interessa é a qualidade de vida das pessoas. É hora de refletir... Todo cuidado é pouco!
A cidade onde moramos, onde escolhemos para viver e educar os nossos filhos é a extensão da nossa própria CASA – é o centro do Universo. E segundo o filósofo, “toda a cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem...”.
E quem administra essa comunidade? Continua o filósofo: “se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas, visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é administrada pela comunidade política”. Volto a repetir: Todo cuidado é pouco!
Para onde vamos? O que queremos? O que será o amanhã? Ao fazermos um comparativo no campo das relações humanas, não é difícil notarmos que não só no campo político, mas no contexto geral, a sociedade de hoje, está muito diferente.
Salvo raras exceções, como descreve Taciana Valença, se não me falha a memória: “aprecia-se num rapaz, a irreverência e o descumprimento da lei moral. Na criança, festeja-se o erotismo precoce e os modos tirânicos com que afirma a igualdade de direitos em relação aos seus pais”. O que será isto. Conflito de gerações?
E continua: “Por toda a parte as instituições são demolidas por seus próprios dirigentes. As elites em geral não exercem sua relevante função social e se voltam para o gozo da vida”. Muitos, movidos pela ganância e pela ambição, esquecem até mesmo a sua própria formação – e terminam por perder o foco naquilo que deveria ser uma missão de vida.
Voltando a obra “O Príncipe”, de Maquiavel, é importante que os nossos jovens saibam que uma das suas principais citação: “os fins justificam os meios”, está sendo mal interpretada e muitas vezes usada de maneira pejorativa, quando na verdade essa frase é apenas um resumo da maneira como ele pensava.
No seu ponto de vista, “os fins determinam os meios e que, de acordo com seus objetivos, poderão ser traçados os planos de como atingi-los”. Para ele, governar era uma arte e para isso era preciso ser coerente e prático. Sua obra é uma grande contribuição para a humanidade e o seu principal objetivo, é separar o joio do trigo.
O jornalista Carlos Chagas, âncora da Tribuna da Imprensa, um dos únicos redutos que se pratica a liberdade de imprensa com toda a sua coerência hoje no país, em seu discurso de despedida do cargo de professor da UNB, ao dirigir-se os jovens formandos, exortou-os a rebelarem-se contra o preconceito dos que pretendem resumir a vida a um sistema, qualquer que seja ele.
“Creiam, acima de tudo, no poder da razão, porque da razão nasce a liberdade, da liberdade a justiça, da justiça o bem comum, e do bem comum o amor. O amor, a derradeira oferta do indivíduo à sociedade”, sábias palavras. Como colocar tudo isto em prática? É o que devemos discutir aqui neste espaço nos próximos meses...
Transcrito do Boletim impresso do site: (www.jornalofarol.com.br) nº 250