João Baptista Herkenhoff
Ilustração - Internet: Creio que seja de muito bom gosto criar datas para celebrar fatos históricos, benfeitores do mundo, virtudes e atitudes humanas. Assim temos:
1) datas que homenageiam profissões – fotógrafo, farmacêutico, carteiro, portuário, publicitário, datiloscopista, gráfico, atleta profissional, repórter, bibliotecário (nos meses de janeiro e fevereiro);
2) datas que relembram fatos históricos – conquista do voto feminino, assassinato de Martin Luther King, execução do herói Tiradentes (de fevereiro a abril); assinatura da Lei Áurea (13 de maio);
3) datas que exaltam benfeitores da Humanidade – Gandhi (30 de janeiro), Thomas Edson (11 de fevereiro), Nelson Mandela (18 de julho), Alexander Fleming (6 de agosto), Santos Dumont (23 de outubro) Marie Curie (7 de novembro);
4) datas que exaltam atitudes e comportamentos individuais ou coletivos – confraternização universal (primeiro de janeiro); dignidade e igualdade da mulher (8 de marco); reverência à figura materna (segundo domingo de maio); exaltação do trabalho (primeiro de maio); cultivo da Língua Nacional - 21 de maio; homenagem ao pai (segundo domingo de agosto); defesa da natureza – Dia da Arvore - 21 de setembro.
Temos também datas singelas – Dia do Mágico (31 de janeiro); Dia do Circo (27 de marco); Dia da Mentira (primeiro de abril) ; Dia do Vizinho (23 de dezembro).
Porque hoje é o Dia do Vizinho, o artigo publicado nesta data homenageará esta simpática figura do cotidiano de todos nós.
Presto merecido tributo, não só aos meus estimados vizinhos, mas a todos os vizinhos por este Brasil a fora.
Nos saudosos tempos da infância, que tive o privilégio de usufruir na capital secreta do mundo (Cachoeiro de Itapemirim), todos éramos vizinhos: vizinhos de mais perto ou vizinhos de mais longe, mas todos afinal vizinhos.
Vizinhança, mais que um conceito espacial, era então um conceito afetivo.
Nas cidades do interior, este sentimento de estarem próximos uns dos outros perdura até hoje.
A cidade grande afasta as pessoas. O atropelo da vida, os compromissos, o medo são fatores que dificultam a convivência.
Nos edifícios da cidade grande, os vizinhos às vezes nem sabem o nome uns dos outros: conhecem alguns convizinhos, mas não conhecem todos, como seria desejável. Este não é o caso, felizmente, do edifício onde resido.
Que bela lição de humanismo nos deu Rubem Braga na sua crônica “Recado ao Senhor 903”
“Vizinho – Quem fala aqui é o vizinho do 1003. Recebi, outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava do barulho em meu apartamento. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Peço-lhe desculpas, prometo silêncio... mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta de outro e dissesse: ´Vizinho, são 3 horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou. ´ E o outro respondesse: ´Entra, vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho! “
João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado (ES), professor aposentado e escritor em atividade.